Morto, Bin Laden é mais perigoso que vivo

Osama Bin Muhammad Bin Laden morreu aos 54 anos, no último domingo, 1º. de maio, às duas e meia da tarde, meia noite e quarenta no horário de Brasília. Foi atingido por tiros de fuzil SCAR, calibre 5.56 mm, disparados por comandos da marinha americana, que invadiram a fortaleza onde o líder da Al Qaeda vivia, em Abbotabad, no Paquistão, a 115 quilômetros da capital, Islamabad. Os 20 militares americanos chegaram em quatro helicópteros, mataram cinco pessoas: Bin Laden, um de seus filhos, uma de suas mulheres e dois de seus colaboradores. Outras duas pessoas, não identificadas, ficaram feridas. Um dos helicópteros foi atingido por um RPG (pequeno foguete antiaéreo) e fez um pouso de emergência.

Morto, o líder espiritual da seita terrorista Al Qaeda (A Base) se tornou mais perigoso do que vivo. Antes era um herói para o segmento radical do islamismo, não só por causa dos ataques do 11 de setembro, além de outras dezenas de atentados, mas também por sua participação na guerra de resistência contra a invasão soviética do Afeganistão. Agora virou mártir da luta contra o “Grande Satã”, como costumava chamar os Estados Unidos. Em 1993, chegou a apresentar uma declaração formal de guerra à América, por meio de uma carta enviada ao então Secretário de Defesa, em Washington. Com essa declaração, o terrorista encerrava uma longa carreira de colaboração com o Ocidente: durante a luta contra os russos, Bin Laden foi financiado pela CIA e pelo serviço secreto paquistanês, além de países árabes como a Arábia Saudita, sua terra natal.

Enquanto chefiou os mujahedins (os Guerreiros de Deus) contra os soviéticos, quando gastou 250 milhões de dólares de sua fortuna pessoal, foi chamado pelos americanos de “paladino da liberdade” e chegou a ser personagem ficcional na séria Rambo. Era o máximo. A CIA o chamava de “Papai Noel muçulmano”. Mas Bin Laden cumpriu a sua promessa e levou o jihad (a guerra santa contra os infiéis) até o território americano. Em sua declaração de guerra contra os Estados Unidos, o terrorista afirmava que “os mujahedins não precisavam de armas, porque são movidos por uma fé inabalável a serviço de Alá”. De fato, os 19 homens da Al Qaeda que perpetraram os massacres de 11 de setembro estavam desarmados: mataram cerca de três mil civis em Nova York, Washington e na Pensilvânia e deixaram de joelhos a nação mais poderosa da Terra, numa ação coordenada que durou apenas 130 minutos.

Depois de morto pela equipe SEAL da marinha americana, os soldados mais bem treinados do mundo, Bin Laden representa agora uma sombra terrível para o Ocidente. O diretor da CIA, Leon Panetta, declarou à televisão que “quase certamente” a Al Qaeda vai revidar. O FBI, há vários anos, vem dizendo que há nos Estados Unidos pelo menos doze células de terroristas “adormecidas”, aguardando a ocasião para entrar em ação. Os ingleses, desde 2000, temem um atentado com arma nuclear em Londres. Espanha, França e Alemanha também esperam o pior. O “Papai Noel muçulmano” virou um espectro aterrador.

Bin Laden estava seriamente adoecido. Paciente renal crônico, precisava recorrer a frequentes hemodiálises para se manter vivo. Equipamentos destinados ao tratamento foram encontrados por tropas americanas nas montanhas de Tora-Bora, na fronteira do Paquistão com o Afeganistão, cenário de fortes combates. Seu médico particular e número dois da organização, Ayaman al Zawahiri, já estava no comando. Outro importante dirigente da seita é Abu Yayha al Libby, apontado como o chefe militar. Fragilizado, Bin Laden já não tinha tanta importância para a Al Qaeda, a não ser, é claro, como líder espiritual e inspirador.

Agora que finalmente subiu ao Paraíso islâmico, com suas 72 virgens, às margens de um rio Jordão do outro mundo que se transforme em mel, e na presença do próprio profeta Maomé e de Alá, Osama Bin Laden está mais perigoso do que nunca.

Bin Laden e o novo líder da Al Qaeda

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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9 respostas para Morto, Bin Laden é mais perigoso que vivo

  1. roberto disse:

    Os EUA de fato muitas vezes faz juz ao título de grande Satã – embora seja também a maior democracia do Ocidente -, Bin Laden de fato está mais perigoso morto, e inegavelmente era muito carismático, mas para as famílias dos mortos no atentado, e norte americanos em geral, o que conta é que o BL não saísse impune. O custo benefício de o terem eliminado extrapola a geopolítica, e é difícil de precisar, inclusive esta equação de que poucos deles mataram 3000. Veio em boa hora este seu artigo, aliás esperava mesmo que este assunto fosse o próximo a ser tratado por você; estava mesmo curioso de saber sua posição, já que é simpático ao BL também no seu último livro. Escreva mais, pois estava nos devendo um texto por aqui ( bom como sempre ) .

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    • carlos amorim disse:

      Caro,
      obrigado pelo comentário.
      De fato, o novo conflito mundial continua sendo Oriente X Ocidente, como se deu desde a Guerra Fria. Só que dessa vez entra um conteúdo religioso que há muito não se colocava.
      Não sou simpático a0 Bin Laden ou a sua obra, mas não posso deixar de considerar o papel que tem no mundo muçulmano em geral – e´árabe, em particular. Ele representa a resistância contra as mazelas das populações pobres do Oriente Médio e à tragedia dos palestinos. Como pesquisador, mantenho distanciamento. Ele foi um terrorista cruel, mas também o foi o famigerado George Bush. Essas são questões complexas, tanto do ponto de vista hustórico quanto político.
      Mantenha sua correspondência no site, porque seus posts são relevantes e me ajudam a desenvolver o raciocínio sobre o tema.
      Abs
      Camorim

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  2. roberto disse:

    PS – dentre tantos aspectos controvertidos, que cercam a morte do BL, ressalta a posição americana de declarar oficialmente ( assumidamente ) que a pista principal foi obtida pelos americanos mediante tortura.

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    • carlos amorim disse:

      Caro,
      os islamitas presos em Guantânamo, todos considerados terroristas, muitas vezes injustamente, tem sido submatidos há anos de tortura e restrições dos direitos humanos. O governo Bush autorizou oficialmente a prática de torturas, entre elas a privação do sono, o confinamento total e solitário e técnicas de interrogatório baseadas em violência, como os afogamentosa. Guantânamo é um vergonha ara o mundo moderno.
      Agora, com a morte de BL, os americanos dizem que as primeiras pistas surgiram justamente no presídio de GTMO, om a justificar a existência desse centro de torruras.
      Abs
      Camorim

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  3. C ARNEIRO disse:

    Meu Caro! Será verdade? Está historia de jogar o corpo mar? Não sei não! Não é estranho quando o EUA recrutou mais civil para compor o exercito dar resposta ao ataque de 11 setembro, da inicio a cassada ao Bin , só que invadi o Iraque , paga o Sadan?. Na minha opinião nunca existiu o Bin, foi inventado para dar uma resposta. Agora que ja cansou, vamos retirar as tropas. Epa!! Mas o objetivo foi captuarar o Bin!
    Vem com esta historinha da carochinha? Pode esperar as tropas começão a ser retiradas do Iraque. Um abraço a todos!

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    • Carlos Amorim disse:

      Carneiro,
      na América, um em cada dez trabalhadores está ocupado em tarefas direta ou indiretamente relacionadas com a defesa, Os EUA precisam de inimigos permanentes para rodar essa importante peça da economia. Com o fim do comunismo, o islamismo fundamentalista se apresentou como o inimigo núero um do Ocidente – ou foi assim reconhecido por causa do terrorismo, a face moderna da guerra.
      Bin Laden ocupou esse espaço à perfeição. Não foi uma “invenção do Ocidente”, mas um representante de uma minoria radical no mundo muçulmano, que os Estados Unidos elevaram a ícone. Aliás, os atentados do 11 de setembro de 2001 foram mesmo espetaculares. Quase dez anos de guerra no Iraque e no Afeganistão custaram quase 1 trilhão de dólares, o que justifica o título de “guerra ao terror”, apesar de todas as distorções existentes.
      Obrigado pelo comentário.
      Continue frequentando o site.
      Abs
      Camorim

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  4. roberto disse:

    Será mesmo que o BL representa a resistência? Pois me parece que não existe uma só autoridade religiosa muçulmana, reconhecidamente responsável, que chancele a fundamentação religiosa dos terroristas para cometer atentados; considerando-se ainda o fato de que eles fazem a própria população palestina de escudo humano, preferindo até mesmo as escolas onde tenham crianças palestinas, fica tudo muito mais duvidoso. Quem os apoia verdadeiramente? Kadafi foi um deles. No mais reina
    o descaramento de parte dos comentaristas políticos ocidentais, ao dizer que como pode matar um homem doente e desarmado, ou porque não levaram vivo o BL para julgá-lo. Ora, é só imaginar o que os terroristas poderiam fazer no dia do julgamento, ou outro momento qualquer, ao tomar um hospital ou escola infantil em qualquer lugar do mndo ameaçando explodi-lo se não soltassem o BL. Farisaismo jornalistico destes que brincam em ignorar estes fatos. Por fim considere-se que o OBAMA é o melhor dos mundos para que exista uma melhora nas relações entre Ocidente e Oriente; será que ele, que comandou e consultou todo mundo até a ordem de matar BL, não agiu assim preemido pelas circunstâncias?

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  5. roberto disse:

    PS – nesta questão de Guantano, tortura de terroristas, legitima a política de antiterrorismo ( de Bush que Obama repudia mas não extermina ), algumas das idéia do chamado “Direito Penal do Inimigo”, desenvolvido pelo professor alemão Günter Jakobs, na secunda metade da década de 1990.

    Jakobs, por meio dessa denominação, procura traçar uma distinção entre um Direito Penal do Cidadão e um Direito Penal do Inimigo.

    O primeiro, em uma visão tradicional, garantista, com observância de todos os princípios fundamentais que lhe são pertinentes; o segundo, intitulado Direito Penal do Inimigo, seria um Direito Penal despreocupado com seus princípios fundamentais, pois que não estaríamos diante de cidadãos, mas sim de inimigos do Estado.

    O Direito Penal do Inimigo, já existe em nossas legislações, no Brasil com a lei que dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção de ações praticadas por organizações criminosas (Lei no 9.034, de 3 de maio de 1995).

    Há pessoas, segundo Jakobs, que decidiram se afastar, de modo duradouro, do Direito, a exemplo daqueles que pertencem a organizações criminosas e grupos terroristas. Para esses, “a punibilidade se adianta um grande trecho, até o âmbito da preparação, e a pena se dirige a assegurar fatos futuros, não a sanção de fatos cometidos”.[12]

    Para Jakobs, há pessoas que, por sua insistência em delinqüir, voltam ao seu estado natural antes do estado de direito. Assim, segundo ele, um indivíduo que não admite ser obrigado a entrar em um estado de cidadania não pode participar dos benefícios do conceito de pessoa.

    Mas é uma teoria do movimento Lei e Ordem, que abarca também a teoria da tolerância zero, e janelas quebradas; movimento cheio de juristas opositores, contrários a um Estado Penal, a favor de um Estado Social.

    Acho interessante trazer esta parte para que a questão do OBAMA ( terroristas ) vs EUA, não vire um fla-flu.

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    • Carlos Amorim disse:

      Roberto,
      seus comentários são realmente algo muito bem definido.
      Dessa vez, concordo integralmente.
      Você deve ser um jurista ou um estudioso do Direito.
      Inclusive de relações internacionais.
      Abs
      Camorim

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