Obama cumpre ameaça e ataca rebeldes na Síria e no Iraque, com apoio de países árabes. Israel derruba avião de combate sírio. Na ONU, Dilma Rousseff condena escalada de violência.

Navios americanos disparam foguetes contra a Síria. Foto do portal UOL.

Navios americanos disparam foguetes contra a Síria. Foto do portal UOL.

O governo americano confirmou, na manhã desta terça-feira (23 set), um pesado ataque contra uma base da rede terrorista Al-Qaeda e contra militantes do ISIS em território da Síria. Foram usados aviões F-18, drones e foguetes disparados pela frota americana no Golfo Pérsico. Pelo menos 120 pessoas morreram e não se sabe quantas ficaram feridas. O presidente americano, Barak Obama, foi à televisão dizer que a ação militar teve apoio e a participação de países árabes da região (Arábia Saudita, Emirados Árabes, Jordânia, Bahrein e Qatar). “Não estamos sozinhos nessa luta” – afirmou Obama.

Os detalhes da operação militar, a maior deste ano, não foram divulgados. Foi durante a madrugada de hoje. Os bombardeios mais violentos foram nas províncias sírias de Raqqa e Deir al-Zor. Quase ao mesmo tempo, Israel derrubou um jato de combate sírio sobre as Colinas de Golan, lançando uma saraivada de mísseis contra o aparelho. O Pentágono fez questão de informar que o presidente sírio, Bashar al-Assad, não foi consultado sobre o ataque. A informação, no entanto, foi imediatamente desmentida pela Chancelaria síria, que declarou ter sido notificada pelo embaixador americano em Damasco.

Aviões americanos realizaram 50 missões contra a Síria e o Iraque.

Aviões americanos realizaram 50 missões contra a Síria e o Iraque.

Em Nova Iorque, onde participa da cúpula mundial sobre meio-ambiente, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, condenou o ataque. Esse tipo de agressão militar, segundo ela, traz consequências negativas no médio e longo prazos. Em resposta ao ataques contra seis alvos na Síria e no norte do Iraque, o grupo islâmico radical ISIS promete executar reféns ocidentais ainda hoje.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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  1. José Antonio Severo disse:

    Apareceu o primeiro brasileiro nas fileiras do Estado Islâmico, aquela força multinacional que invadiu o Iraque e a Síria para restabelecer o califado de Bagdá, extinto pelo grão mongol Hugalu, em 1258. Abu Qassen Brazili, que tinha o nome cristão de Brian de Mulder, cidadão belga filho da brasileira Rosana Rodrigues, natural de Antuérpia, na Bélgica, é que defende as cores da camiseta canarinho nas hostes de Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do movimento sunita que tem como meta estratégica restabelecer as antigas fronteiras do império Abássida, que começavam no Irã, abarcando todo o oriente médio, o norte da África e a Península Ibérica.
    Brian é um caso bem típico de descendente de imigrante, vidrado na cultura de seus ancestrais, no caso de sua mãe brasileira, doente por futebol, falante em português, que tentou a carreira da bola, mas não deu no couro. Deprimido, aos 17 anos de idade foi cooptado pelos muçulmanos belgas e trocou Jesus Cristo por Maomé e Deus Pai por Alá. É o que conta sua genitora Rosana, desesperada, esperando saber a qualquer momento que seu menino explodiu e esfarelou-se como homem bomba. Entretanto, pelo menos enquanto estiver em Alepo (Síria), onde ficou sabendo que ele está não explode, pois ali se espera que ele seja um combatente convencional, de arma na mão.
    A Bélgica é o maior celeiro de jihadistas ocidentais. Estima-se que no Levante estejam 300 belgas combatendo ao lado dos extremistas islâmicos dos países muçulmanos tradicionais.
    Essa história do califado é importante porque nela está a origem desta guerra contemporânea, que se perde nos confins da idade média ocidental, mas coincide com o apogeu da civilização árabe. Com a destruição do califado os árabes foram dominados pelos mongóis e, a seguir, pelos turcos, só recuperando sua independência política depois da Primeira Guerra Mundial, passando por uma transição colonial europeia bem curta, é verdade, se considerarmos que os franceses e ingleses controlaram aqueles estados por menos de 50 anos, tempo ínfimo numa história que já mais para mais de um milênio de submissão forçada.
    A origem dessa briga é a destruição da dinastia omíada, xiita, com sede em Damasco, que comandava o mundo muçulmano. Não é por acaso que os restauradores do califado marcham sobre a capital da Síriam procurando recuperar a mística da conquista histórica do califado de Bagdá.
    Tudo começou em 750. O líder sunita al-Mansur, unindo as tribos do deserto e seus senhores da guerra, caudilhetes do Levante, destronou os descendentes do sheik Ali, marido da filha de Maomé, Fátima, e fundou o califado, ou seja, seu império. Autodenominou-se califa, que é um sinônimo de rei no sentido muçulmano, chefe de estado e da religião, como a rainha da Inglaterra ou o imperador do Japão, que são chefes de estado e chefes das igrejas nacionais. Construiu sua capital, Bagdá ( que significa “ A Cidade da Paz”) nas proximidades da antiga Babilônia e deu curso ao extermínio dos fatimídias, impondo a hegemonia sunita e criando a guerra irreconciliável até hoje. Nunca houve convívio entre sunitas e xiitas. A regra é a submissão dos derrotados.
    No entanto, nos últimos séculos, sunitas e xiitas árabes foram abafados sob hegemonia turca. A hostilidade sectária parecia adormecida, pois o poder do estado estava em mãos de outra facção, a dissidência sufista de Istambul, que não é nem uma coisa nem outra. Tudo isto, uma questão de mil está abalando a cabeça do meio brasileiro Brian.
    A questão é que o califado não é, como muita gente pensa, um grupo homogêneo, com liderança e comando centralizado, algo que lembrasse as brigadas internacionais da Guerra Civil espanhola. Além disso, para quem vê de fora, tampouco é uma luta nacional de árabes contra ocidentais ou, mais ainda, rebeldes contra governos de seus países. De fato, é um conflito interno de sunitas contra as demais facções muçulmanas, sem distinção de fronteiras, entremeado por rivalidades internas dos dois de todos os lados.
    Por isto há tanto receio dos países europeus e dos Estados Unidos de botar a mão nessa cumbuca. Na resistência ao ocidente, que poderia ser um fator para unir a todos contra um inimigo comum, o proselitismo remete à Idade Média. O porta voz do califado, Abu Muhammad al-Adami, ao desafiar Barak Obama, por exemplo, denominou o presidente americano de “mula dos judeus”. Isto tem um significado que pode surpreender, porque ao chamar Obama de “mula” ele não está se referindo ao simpático híbrido que tanto contribuiu para o transporte no Brasil colonial, mas evocava uma expressão do dialeto árabe da Mauritânia usado na região do al-Graheb, hoje aportuguesado para Algarve, para denominar os cristãos que viravam a casaca, oferecendo-se para se converterem ao islamismo nos tempos da dominação moura da Península Ibérica. Esses “muçulmanos-novos” eram denominados “mahalati”, de onde surgiu a palavra “mulato”, usada pelos muçulmanos da África sub saariana para chamar os filhos de brancos com pretos, no tempo das navegações, comparando-os a ao estranho animal resultante dos cruzamentos de cavalos com jumentos, sem sentido pejorativo. Portanto, ao chamar Obama de “mula dos judeus” está dizendo que o presidente norte-americano, um cristão, está se passando para o judaísmo religioso. Portanto, é uma “mula”.
    Por outro lado, os líderes ocidentais estão relutantes em armar os exércitos de Bagdá, porque o novo governo, controlado pelos xiitas, favoreceria a unidade dos sunitas contra o governo legal do Iraque. A estratégia é obrigar o governo a formar uma coalização com sunitas antes de atacar o califado. Isto é tão difícil quanto apoiar o presidente Assad, da Síria, da seita alauíta que, com o apoio dos cristãos locais, está enfrentando o califado com objetivos puramente sectários, sem motivações da guerra fria. Putin manda armas para Assad resistir, pois assim os jihadistas chechenos ficarão no Levante, deixando os russos em paz por algum tempo.

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