Guerra do tráfico no México mata 100.000 em menos de dez anos. Os cartéis mexicanos exportam 157 toneladas de cocaína para os Estados Unidos a cada ano. Um negócio de 34 bilhões de dólares.

No México, repressão ao tráfico é feita pelo Exército.

No México, repressão ao tráfico é feita pelo Exército.

Não há solução à vista para a tragédia do narcotráfico no México. De acordo com números oficiais, na última década mais de 100 mil pessoas perderam a vida nos enfrentamentos entre os cartéis mexicanos das drogas. O governo daquele país militarizou a repressão contra o tráfico, assumindo que enfrenta um “conflito interno”. O exército mexicano criou uma divisão de choque, com 45 mil homens, para tentar conter a expansão das organizações criminosas ligadas às drogas.

O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) nos informa que os cartéis mexicanos conseguem contrabandear 157 toneladas de cocaína e outros entorpecentes a cada ano para os Estados Unidos e o Canadá, que formam o maior mercado consumidor do mundo, rendendo 34 bilhões de dólares para os traficantes. E esses números são considerados conservadores, baseados na quantidade de apreensões, que costuma representar entre 10% e 12% do movimento total. Como veremos mais adiante, esses números podem ser muito maiores.

Traficantes usam até submarino para levar cocaína para os Estados Unidos.

Traficantes usam até submarino para levar cocaína para os Estados Unidos.

Entre as maiores organizações criminosas ligadas ao contrabando de drogas no México, destacam-se “Los Zetas” e o “Cartel de Sinaloa”, cuja fúria responde pela maior parte dos homicídios ocorridos na guerra pelo controle das rotas. É curioso notar: o México não produz cocaína, porque as lavouras de coca precisam estar entre 2.000 e 4.000 metros acima do nível do mar, para obter maior concentração de alcaloides nas folhas. Em solo mexicano são produzidas drogas laboratoriais (tipo metanfetamina) e maconha. Então, de onde vem a cocaína? Vem da Colômbia, o maior produtor mundial da droga.

Durante os anos 1980, a guerra norte-americana às drogas na Colômbia, desencadeada pelo governo de George W. Bush, o pai, terminou por desbaratar os dois maiores cartéis colombianos da cocaína, o de Cali e o de Medelín. A produção se pulverizou em centenas de pequenas organizações, algumas das quais se reuniram em nova facção criminosa, conhecia como “Cartel Del Norte”. Um dos líderes do grupo, Juan Carlos Abadia, vivia em São Paulo. Foi preso com ajuda do DEA e extraditado para os Estados Unidos. Toda essa confusão envolvendo os produtores colombianos levou ao crescimento das organizações mexicanas, que hoje dominam o tráfico nas Américas. O DEA e a Polícia Federal brasileira acreditam que os mexicanos estão por trás do fornecimento de drogas para o PCC e o Comando Vermelho.

Um dos muitos massacres na guerra do tráfico.

Um dos muitos massacres na guerra do tráfico.

A ligação dos cartéis mexicanos com os traficantes brasileiros foi denunciada, em maio de 2012, pelo chefe do escritório do UNODC na Cidade do México, Antônio Mazzitelli. Essa sociedade com o PCC e o CV pode inflacionar bastante os valores relativos ao faturamento do tráfico no continente. Pelo Brasil passam (ou ficam, para venda) cerca de 90 toneladas/ano de cocaína, crack e outras drogas.

Pior: durante as conferências de paz entre as FARCs e o governo colombiano, realizadas em Havana no ano passado, os chefes da guerrilha comunista revelaram novos números. Segundo eles, a cada noite de sábado, nos Estados Unidos e Canadá, 27 milhões de usuários consomem pelo menos 1 grana de cocaína pura. Faça as contas, leitor: o grama de cocaína é vendido naqueles mercados por um preço que vai de 58 a 78 dólares.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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7 respostas para Guerra do tráfico no México mata 100.000 em menos de dez anos. Os cartéis mexicanos exportam 157 toneladas de cocaína para os Estados Unidos a cada ano. Um negócio de 34 bilhões de dólares.

  1. Alan Souza disse:

    Se a repressão funcionasse, o panorama hoje seria outro. Pelo dinheiro gasto e poderio militar empregado na repressão, não haveria mais nenhum pé de coca no planeta – isso se a repressão funcionasse…

    Carlos, uma pergunta: o CV continua ativo e dominando o tráfico no RJ? A gente só ouve falar em PCC, a impressão que temos é que o PCC dominou o tráfico em todo o país.

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    • Carlos Amorim disse:

      Sim, o CV continua ativo. Todos os enfrentamentos entre as forças de ocupação no Complexo do Alemão e na Maré são por conta dessa facção. CV e PCC são aliados e têm entendimentos comerciais. Mas o grupo paulista é hoje a maior organização criminosa do país.
      Obrigado pelo comentário.
      abs
      Camorim

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  2. Jhonnys disse:

    A guerra ao narcotráfico no Brasil, poderia ser atenuada, caso houvesse vontade política em combater a “Narcoguerrilha Colombiana”. Esses que são os maiores fornecedores de drogas ilícitas do continente. Devido ao partidarismo existente entre as atuais lideranças Sul-Americanas, que tem a Narcoguerrilha como um dos seus braços,dificilmente algo de efetivo será feito. Esta aliança (pacto) foi materializada através do Foro de São Paulo.
    Evidente que mortes como as que aconteceram no último final de semana, não são coincidência.

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    • Alan Souza disse:

      Sua tese seria interessante, se tivesse fundamento. Basta uma busca no Google com “apreensões de drogas no Brasil” pra ver as notícias sucessivas de apreensões recordes. E foi justamente na Colômbia que os EUA gastaram muito dinheiro combatendo o narcotráfico e a guerrilha. Até 2008 foram 1,3 bilhão de dólares. De nada adiantaria uma aliança das “lideranças sul-americanas” sem combinar com os EUA… Por fim, os partidos da Colômbia que integram o foro de São Paulo são de esquerda e da Oposição naquele país, os partidos que apoiam os três últimos presidentes da Colômbia são de direita e não integram o foro. O combate à narcoguerrilha foi das principais plataformas dos presidentes colombianos nas últimas décadas. Mas quem anistiou guerrilheiros foram presidentes de direita, como Belisário Betancur e Cesar Gaviria. Por fim, foi o conservador Andrés Pastrana que chamou os guerrilheiros das FARC para conversar…

      Por sinal que partidos de oposição, aqui no Brasil, são integrantes do Foro, tais como o PPS e o Partido Pátria Livre. Se o Foro tivesse “oficializado” essa posição eles não denunciariam?

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    • Carlos Amorim disse:

      Johnny,
      de fato, as FARCs controlam uma boa parte do território colombiano. Em muitas das áreas ocupadas pela guerrilha estão grandes lavouras de coca. No entanto, os guerrilheiros e os traficantes dos carteis não se dão e já travaram violentos combates. O grupo paramilitar Autodefesa Unida da Colômbia sempre foi financiado pelo narcotráfico e sempre foi inimigo dos comunistas. A situação na Colômbia é muito complexa.
      Obrigado pelo comentário.
      Abs
      Camorim

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  3. Segurana Nacional OFFDEF disse:

    Ola, Vou começar a realizar uma pesquisa de metodologia cientifica, estou comcluindo a especialização de inteligencia de segurança publica. Gostaria se for possivel de informação para somar o trabalho, na graduação estabeleci Estrategias para Combater o Crime Organizado Complexo do Alemão CV, agora com a inteligencia para assessora as autoridades competentes e como um futuro Especialista estou querendo continua com o tema ou algo parecido. Desde ja agradeço. warlei

    Date: Mon, 20 Apr 2015 22:20:22 +0000 To: warleib1@hotmail.com

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  4. José Gabriel Vieira ramalho disse:

    O que esta acontecendo no Rio de Janeiro é uma interversão com intuito de diminuir as guerras entre traficantes ou melhor entre grupos pelo total controle da região de maior venda. E para isto esta sendo empregado as unidades pacificadoras.( engraçado que a POLICIA tem que ser pacifica para lidar com assassinos traficantes. É só no BRASIL de hoje que vemos esta tremenda TOLICE) Voltando a o assunto: Como era de se esperar não deu certo pois os policias não atuarão com a eficácia que requer esta operação. Mais por outro lado funcionou muito bem para os políticos que entrarão com sua milagrosa soluções em vender seus projetos imobiliários financiado pela caixa econômica e que da preferencia a quem for filiado ao partido conforme denuncias a imprensa. Como também denuncias das péssimas construções do projeto minha casa minha vida. Reduzindo a conversa. Não tem interesse politico para combater o trafico pois é dai que vem os votos e grande parte da verba das campanhas politicas lavadas através de grandes empresas.

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