A informação é do Ministério Público Federal (MPF), cujos procuradores estiveram presentes ao interrogatório do hoje coronel Sebastião de Moura. Os detalhes da confissão, no último dia 14 de outubro, não são conhecidos ainda, porque estão sob sigilo de justiça, mas o assunto vazou para a imprensa através de testemunhas de acusação que estavam na 1ª Vara Federal de Brasília durante o depoimento do militar. E essas informações chegaram truncadas (ou parciais) aos jornais. Na verdade, não foram dois os prisioneiros, rendidos, desarmados e amarrados que foram fuzilados. Foram quatro: três militantes do PCdoB e um morador local que colaborava com a guerrilha comunista. Ou seja: uma situação muito mais grave.
Durante este fim de semana, mantive uma troca de e-mails com um dos procuradores federais que estavam na audiência judicial. Por razões óbvias, não vou revelar o nome dele. Até porque esse funcionário do judiciário procurava restabelecer a verdade. No post anterior, que você pode conferir abaixo, errei ao divulgar informações parciais sobre o testemunho de “Curió”. Omito o nome do procurador – e para isto estou protegido pela Carta da República, que me assegura a confidencialidade.

Ângelo Arroyo, operário comunista de São Paulo: o último chefe da guerrilha no Araguaia, morto em 1976.
Em resumo, o procurador federal me esclareceu o seguinte, cuja transcrição não é literal: “Ele (o militar) não confessou duas mortes, mas quatro… E não me lembro de ele ter indicado o local exato das execuções… Essa informação deve ter partido de familiares das vítimas, que desejam que o GTA (Grupo de Trabalho no Araguaia) faça escavações no local… O que ele fez foi confirmar as informações que dera ao livro do Leonencio…”.
Leonencio Nossa é um jornalista premiado, atuando em Brasília. Ele escreveu uma biografia do “Major Curió” (“Mata! O Major Curió e as guerrilhas no Araguaia” – Editora Companhia das Letras, 2012). Trata-se de uma obra de fôlego, cuja leitura provoca arrepios. Neste livro, o militar descreve a execução dos quatro prisioneiros. Com as suas próprias palavras, o militar diz o seguinte: “Era próximo à rodovia PA-70, atual BR-222, em Brejo Grande, a 90 quilômetros de Marabá”. O assassino confesso, “Curió”, um piloto da FAB conhecido como “Japonês” e um sargento da Aeronáutica chamado Mozart, além de um agente secreto do CIE (“Ivan”, na verdade o terceiro-sargento das Forças Especiais do Exército Joaquim Arthur Lopes de Souza), levaram os quatro prisioneiros de helicóptero.

“Ivan”, agente secreto do Exército na guerrilha no Araguaia. Foto do arquivo da jornalista Taís Morais.
Desceram no sítio de um colaborador e guia das Forças Armadas, conhecido como “Manuelzinho das Duas” (ele vivia maritalmente com duas mulheres), em Brejo Grande. Os prisioneiros foram desembarcados nos fundos da casa e colocados no chão. Neste momento, segundo o “Major Curió” descreve no livro de Leonencio, foram ouvidos ruídos na mata. O oficial das forças legais, o próprio “Curió”, a maior patente militar presente no local, teria decidido pelas execuções. Os quatro prisioneiros foram abatidos a tiros.
Para registrar, os mortos:
Cilon Cunha Brum, gaúcho, estudante da PUC de São Paulo, militante do PCdoB, o guerrilheiro “Simão”; Antônio Theodor Castro, militante do PCdoB, o guerrilheiro “Raul’; Pedro Carretel, um morador local que aderiu à guerrilha, cuja real identidade é duvidosa até hoje (talvez Pedro Matias de Oliveira); Custódio Saraiva Neto, militante do PCdoB, o guerrilheiro “Lauro”.
Boa note, Carlos Amorim.
Acabo de ler o seu “Araguaia – Histórias de Amor e de Guerra”.
Coloco um reparo cronológico na página 348, trecho no qual você descreve a partida da delegação de comunistas brasileiros para a China, comandados pelo médico João Carlos Haas. Está escrito que essa viagem começou no aeroporto internacional de Guarulhos. Creio haver um erro aí: o que existia em Guarulhos (Cumbica) nos anos 1960 era tão somente a Base Aérea de São Paulo (BASP), área militar, portanto. O aeroporto civil só foi construído entre o final dos anos 70, início dos 80; salvo engano meu, inaugurado por volta de 1983. Logo, a menos que o PCdoB tivesse conseguido a façanha de decolar duma base da FAB, não havia como um voo civil, sobretudo internacional, ter decolado dali. Mais provável é que tenham partido do “antigo” Galeão (terminal velho ainda em pé, mas hoje desativado — tenho até curiosidade de visita-lo vazio), ou iniciado em Congonhas, por conexão/RJ.
Grato.
Fermino
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Caro Fermino,
obrigado pelo comentário e pelas novas informações.
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abs
Camorim
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O Curió sempre falou as mesmas coisas, não há nada de novo. Mas atenção, existe essa Comissão de Familiares de mortos e desaparecidos que só entrava toda e qualquer investigação. Essa turma é a mesma há séculos. Estão nessa comissão, não por ideologia, ganham dinheiro. Atrasaram a identificação da ossada do Bergson Gurjão durante anos. Já foram mil vezes ao Araguaia. Escavaram a antiga “base aérea” embaixo de chuva e com alagamento. O pior? Com escavadeiras. Os militares já disseram que os corpos foram queimados, apenas os de 1972 estavam enterrados em cemitério, e já foram encontrados. Muito estranha essa comissão. gasta o nosso dinheiro para nada. Não leva em conta nossas pesquisas e só ajuda os “amigos”. os membros tem influencia na comissão da Anistia, então, os “premiados” são escolhidos a dedo. O filho da Crimeia recebeu indenização em alto valor. UM dos motivos? Ter nascido no cárcere. Mentira! ele nasceu no mesmo hospital que eu….ainda recebe a indenização por ser filho do André grabois… ahhhhh, tá….
Tem ainda a Vitoria Grabois, recebeu duas indenizações. A do pai e do ex-marido. Mas porquê, se ela já era casada com outro?
Quando a comissão da Inverdade foi implantada, a de mortos e desaparecidos acabou. Mas os membros estavam aninhados por lá. Agora que a CV acabou, a outra voltou a funcionar. Essa gente não tem escrúpulos. Não tem vergonha de ganhar dinheiro publico por algo que deveria ser voluntário… Agora entenda, vai haver tantos outros GTs, afinal, é mais viagens, hospedagens e diárias ganhas para porcaria nenhuma….
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