Forças armadas: investimentos esquecem o cidadão?

As forças armadas brasileiras estão vivendo um novo e espetacular momento. Investimentos da ordem de 47 bilhões de reais estão previstos para o reaparelhamento das três armas. O projeto inclui a construção de cinco submarinos, sendo um nuclear, em cooperação com a marinha francesa e prevendo a troca plena de tecnologia da guerra moderna. Cinquenta helicópteros de ataque e transporte de tropas serão adquiridos. Trinta e seis caças interceptadores supersônicos vão dar ao país um força defensiva invejável e despertam a cobiça dos construtores internacional, entre os quais os Estados Unidos, a França e a Suécia. Três mil tanques pesados e veículos blindados vão reformar as brigadas do Exército. Quinze aviões de ataque e observação – não tripulados – da classe Predator, desenvolvidos com tecnologia israelense e norte-americana vão equipar a Polícia Federal.

Abandonadas pelos governos civis desde a redemocratização do país, em 1985, as forças armadas recebem agora um necessário (e tardio) reforço. Mesmo vivendo à míngua, com soldos defasados e quase esquecidos pelos governos da Nova República, nossos militares procuraram meios de desenvolvimento, especialmente na área de comunicações, radares, eletrônica etc. As forças especiais (paraquedistas, brigadas de selva, resgate aéreo e marítimo, além de outras) aprimoraram seu treinamento a ponto de conquistarem respeito internacional. Mas nas últimas três décadas lhes faltou algo essencial: a arma propriamente dita. O plano nacional de reaparelhamento das forças armadas, com investimento inédito na história, pretende cobrir essa lacuna. Do ponto de vista do respeito mundial em relação aos nossos militares, vale lembrar que estiveram em Angola (retirada das minas terrestres), no Timor Leste (comandando a força de paz) e no Haiti (impediram a guerra civil e socorreram as vítimas do terremoto, com a morte de 19 soldados). Agora estão convocados para comandar os “capacetes azuis” da ONU no sul do Líbano, na área de conflitos entre o Herzbolah, o “Partido de Deus” e Israel.

Os mais apressados poderiam achar que o investimento nas forças armadas seria uma resposta ao clima de violência e guerra civil não declarada vivido no Brasil. Errado! Os 47 bilhões de reais praticamente não têm nada a ver com a matança generalizada no país e a ampliação do tráfico e do crime organizado. As armas que estão sendo compradas se destinam, por natureza, a conflitos entre nações. Ou para defender um país da eventualidade de agressões externas. Como sabemos, temos problemas graves com pelo menos dois dos nossos vizinhos, a Colômbia e a Venezuela. Serviriam também para defender um pré-sal, com seus 131 bilhões de barris de petróleo. Mas – certamente – submarinos, caças e blindados pesados não podem ser empregados em conflitos nas favelas e periferias. Talvez os “Predator” possam ser empregados no controle de fronteiras. Nada mais do que isso!

Além do mais, o Brasil pleiteia um acento no conselho permanente de segurança da ONU. Para ocupar uma dessas cadeiras, é preciso dispor de uma força militar de intervenção consistente. E esse deve ser o motivo político por trás do reaparelhamento das nossas forças armadas. Vamos lutar além dos mares, quando o conflito está aqui mesmo, entre nós? Qual diferença faria gastar 47 bilhões de reais nas nossas polícias e forças de segurança, com ênfase no policiamento comunitário e na inteligência? Respostas difíceis para esses quesitos: abrimos mão do papel do Brasil no cenário mundial – ou tratamos de conter a nossa própria violência?

Fica para o leitor um tema de reflexão.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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5 respostas para Forças armadas: investimentos esquecem o cidadão?

  1. Joel Paviotti disse:

    Esse lance de investimentos nas forças armadas, segue a risca a sina Estadunidense de pensamento, o “inimigo se encontra fora de casa”, a aplicação dessa filosofia no Brasil é completamente equivocada.
    As vezes o inimigo do povo brasileiro, é os homens e mulheres que foram eleitos para nos representar, e acabam colocando interesses individuais sobre os coletivos, atrapalhando a democracia e o bom andamento do país!
    Com a desigualdade social acentuada, gende morrendo de fome nos quatro cantos do país, e uma cota de violência diaria, o país continua se enterrando na barbarie.

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    • carlos amorim disse:

      Essa é uma questão que divide muito as opiniões. Pessoalmente, acredito que o principal investimento deveria ser interno, para diminuir o problema da criminalidade. No entanto, essa opiniçao é limitada, porque implicaria acreditar apenas no poder repressivo. A violência no Brasil deve ser combatida nas suas causas – e não apenas nas consequências. Trata-se, afinal, de desenvolver o país.
      Por outro lado, o país ocupa uma nova e destacada missão entre as Nações. E este é um mundo em guerra. Há tensões permanentes, como no Oriente Médio, África e América Latina – há também uma série de conflitos abertos e dramáticos.
      Mas continuo achando que o esforço maior deveria ser aqui mesmo.
      Um grande abraço,
      Carlos Amorim

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  2. Adalberto Flores De Oliveira. disse:

    O brasil deve ter uma estrutura militar sólida e convincente, seria burrice deixar que as forças armadas continuem sucateadas, com todas as riquesas que temos estariamos colocando em risco nossa soberania. Não importa que vivemos um excelente tempo de paz, é nesse tempo que devemos aproveitar para fortalecer nossas forças, não adiantaria de nada, o brasil querer fortalecer suas forças no momento que a coisa estivesse acontecendo. O brasil como uma nova potência militar, não estaria só defendendo sua soberania, más estaria também elevando o seu peso politico, no momento de tomar as decisões diante das grandes potências, e isso é muito importante, pois nos dá uma maior autonomia sobre aquilo que realmente desejamos. O leitor deve entender que armar um país, não significa ir prá guerra, como poderiamos garantir á paz da nossa nação, em um mundo terrivelmente armado sem armas, seria impossivel. Infelismente existem decisões que precisam serem tomadas e com urgencia, o brasil com um braço forte tera condições de defender o futuro dos nossos filhos e netos, e todas as outras gerações que estão por vir. Parabéns aos politicos que deram inicio á este projeto de defesa tão ambicioso, da nossa querida republica.

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    • Carlos Amorim disse:

      Obrigado pelo comentário sério e objetivo, com o qual concordo integralmente.
      O reaparelhamento das forças armadas é absolutamente necessário, em função do novo papel que o Brasil vem desempenhando entre as naçoes.
      Continue participando do nosso debate.
      Abs
      Camorim

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      • Adalberto Flores De Oliveira. disse:

        Amorim o Brasil deve continuar construindo sua política de Estado soberano com investimentos em nossas forças armadas, na minha opinião todos os anos deveria ser destinado uma porcentagem fixa do PIB as nossas forças armadas, independente do valor arrecadado, este valor deveria ser colocado na balança para ver qual das nossas forças carece mais de material de emprego, para logo mais ser dividido. É necessário tambem educação e integração entre a população civil e o soldado Brasileiro. Um abraço!

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