52 militares afastados por furto no Alemão

Deu na Folha de S. Paulo de 23 de janeiro de 2011: “Após a ocupação do Alemão, moradores da região fizeram várias denúncias de abusos”. Na maioria dos casos, pude apurar, são denúncias de agressão, roubo e assédio contra mulheres. Na sexta-feira 21 de janeiro, o comando das forças de segurança que ocupam o Complexo do Alemão (14 favelas e bairros pobres com meio milhão de habitantes) informou ao público estarrecido que 30 soldados do Exército e 22 da PM foram afastados por furtos naquela área ocupada. Na verdade, a acusação legalmente correta seria roubo a mão armada, artigo 157 do Código Penal.

Os militares, sem mandado judicial, entram nas residências, promovem buscas ilegais, violando o direito constitucional da população, e sequestram os bens (televisores, DVDs, micro-ondas, notebooks etc) e os levam para casa. Os policiais alegam que tais objetos foram obtidos com dinheiro do crime. E os levam para casa, ultrapassando todos os limites do Direito. Os moradores, que compraram esses bens em longas prestações, aproveitando a liberdade de crédito dos governos Lula, são vítimas de uma agressão inexplicável. Enquanto as elites comemoram a ocupação das favelas, os pobres são vítimas de uma violência adicional – dessa vez praticada pelos agentes da lei. Não bastassem os bandidos que os aterrorizavam há décadas.

Se fossem casos isolados, até poderíamos entender. Mas, com 52 militares envolvidos, trata-se de um saque em dimensões organizadas. Entre os acusados está um tenente do Exército, que roubou um aparelho de ar-condicionado e outros objetos de uma casa abandonada na área de conflito – esclarece a Folha. Que força é essa, autodenominada de “pacificadora”? No Brasil, não basta ser pobre: é preciso sofrer!

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
Esse post foi publicado em Politica e sociedade, Violência e crime organizado. Bookmark o link permanente.

4 respostas para 52 militares afastados por furto no Alemão

  1. Gabriel de Castro Borges Reis disse:

    Caro Carlos Amorim,

    Gostaria de dizer que sou um grande admirador do seu trabalho, embora até hoje só tenha lido seu primeiro livro sobre o Comando Vermelho, graças ao Sr. tomei interesse pelo tema, depois de ler o seu livro li tambem o livro de Wiliam da Silva Lima, O Professor, por isso quero lhe perguntar uma coisa.

    Depois do lançamento do filme “400 Contra Um – Uma História Secreta do Comando Vermelho” baseada na obra de Wiliam da Silva Lima – O Professor. Eu gostaria de saber se o senhor sabe informações mais recentes sobre o “sócio-fundador” do CV e como foi entrevistar esse homem que é o fruto do nosso sistema carcerário?

    Gostaria de dizer também que concordo plenamente com suas respostas na entrevista realizada em julho de 2010!
    Essa forma de Crime Organizado que temos em nosso país é fruto das pessimas condições carcerárias que nosso estado fornece. Como nos ensina Dostoievski, se mede o nível de civilização de um povo pela maneira como tratam sua população carcerária!!!

    Para terminar gostaria de pedir para poder trocar e-mails com o Senhor, sou estudante de direito estou no 8º semestre e tenho um trabalho de Conclusão de Curso para ser realizado!!!

    Obrigado!

    Curtir

    • carlos amorim disse:

      Gabriel,
      não sei por onde anda o Professor. Wilian cumpriu quase 30 anos em regime fechado e hoje está solto, em liberdade assistida. Ele não é mais um bandido. Não sei qual o seu destino. Deve estar com a mulher, Simone, uma advogada
      com quem convive desde os tempos da Ilha Grande. Este é um amor que sobreviveu a tudo.
      Quanto ao TCC, podemos menter contato aqui pelo site.
      Abs
      Camorim

      Curtir

  2. Drummond disse:

    Olá Carlos,tudo bem?

    Viu a matéria que saiu na Folha de SP de hoje.

    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff3001201109.htm

    Traficantes já tentam voltar ao morro do Alemão

    Investigações apontam que Mica, “dono” de pontos de drogas na Vila Cruzeiro, voltou a entrar e sair da favela

    Criminosos, agora sem armas de fogo, estariam assassinando desafetos a facadas; autoridades investigam três casos

    DIANA BRITO
    HUDSON CORRÊA

    DO RIO

    Movimentos detectados por policiais mostram que o tráfico começa a preparar a volta aos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio, ocupados desde o fim de novembro.
    A Folha apurou que o traficante Paulo Roberto de Souza Paz, conhecido como Mica ou MK, que controlava pontos de tráfico em parte da Vila Cruzeiro, voltou a entrar e a sair da favela.
    Ele morava na chamada “casa verde”, no alto de um dos morros, de onde podia monitorar o movimento de carros e pessoas. Sua casa, de três andares, tinha uma piscina na laje.
    No muro em frente, traficantes haviam aberto buracos onde eram encaixados fuzis e feitos disparos a esmo contra desconhecidos que subissem a favela.
    Agora sem armas de fogo, traficantes, incluindo Mica, teriam passado a matar a facadas desafetos suspeitos de terem transmitido informações para policiais, segundo relatos de moradores ouvidos pela Folha.
    Um investigador da Polícia Civil confirma a suspeita. “Estamos investigando três casos de esfaqueamento que de fato têm relação com o tráfico. Em um deles, a vítima é uma mulher que teria algum tipo de ligação com o Mica.”
    Segundo o Exército, ocorreram cinco homicídios nos complexos desde a ocupação pela Brigada Paraquedista em 23 de dezembro passado. Os militares não informaram exatamente quantos morreram a golpes de faca.
    “Com essa violência silenciosa [as mortes a facadas], Mica está tentando evitar que moradores continuem a denunciar coisas que ainda estão lá dentro”, disse ainda a fonte da Polícia Civil.
    O Exército confirma que ainda existem drogas e armas escondidas nos complexos. Cerca de 17 kg de cocaína foram encontrados há uma semana enterrados dentro de uma casa vazia.
    Outro indício da nova investida do tráfico é que bandidos, segundo disse à Folha um oficial do Exército, voltaram a montar barricadas, desta vez com pedras, para barrar patrulhas. Cinco delas foram encontradas e desmontadas pelas tropas.
    Do fim de dezembro até o início da semana passada, ao menos dez disparos de armas de fogo foram feitos contra as tropas, o que também mostra resistência à ocupação.
    Há outro temor entre os moradores. Eles relatam que são vigiados pelos “soldados do tráfico” remanescentes no morro. Líderes comunitários estão entre os alvos; um deles chegou a deixar a favela por 20 dias, após ameaça.
    “O medo existe, nós estamos na fase do rescaldo”, afirmou o general Fernando Sardenberg, comandante da Força de Pacificação. Segundo ele, ainda há áreas, “entre 22 comunidades”, hostis à presença do Exército.
    Esses locais ficam próximos às casas dos traficantes.
    O Exército já fez 72 detenções de suspeitos de ligação com o tráfico, mas sem provar vínculo. Outras sete pessoas ficaram presas, acusadas de traficar no sistema chamado pelo general de “formiguinha” -o tráfico discreto, sem as chamadas bocas de fumo vigiadas por homens com fuzis.

    Curtir

    • carlos amorim disse:

      Olá, Drummond:
      vi a matéria da Folha. Na semana do Ano Novo, quando estava no Rio, conversei com um taxista morador da Vila Cruzeiro, que já tinha me contado a mesma história que está na Folha. Inclusive o detalhe de que os traficantes estão usando facas para o acerto de contas.
      Se com dois meses de ocupação militar os traficantes já estão voltando, imagine com dois anos. No artigo “Ocupado QG dp CV”, que escrevi aqui no sita, já prevenia que isso ia acontecer. Fui até criticado por afirmam que a ocupação não impediria o movimento de drogas.
      Abs
      Camorim

      Curtir

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s