No início desse mês de agosto, o Primeiro Comando da Capital (PCC) voltou à primeira página dos principais jornais e frequentou novamente o noticiário das televisões e emissoras de rádio. Foi após um período de mais de três anos de silêncio. Desta vez o alvo foi a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a tropa de elite da PM paulista, tragicamente famosa por sua história de violação dos direitos civis, torturas e assassinatos. Durante o regime militar (foi criada em 1970), a Rota ficou famosa por atirar primeiro e perguntar depois. No entanto, em todos esses anos de amplas liberdades no Brasil, a Rota tem estado praticamente confinada à sede do batalhão, na Avenida Tiradentes, centro de São Paulo. Realiza treinamentos militares avançados de cerco e destruição (“search and destroy”, como são definidos por manuais internacionais de combate), mas não é muito vista pelas ruas, a não ser em operações pontuais.
Por volta das sete da noite de 1º. de agosto, o tenente-coronel Paulo Adriano Telhada, comandante da unidade, saia de sua casa quando foi recebido por uma chuva de balas. Onze tiros de pistolas automáticas P40, disparadas por dois homens. Telhada estava à paisana e desarmado. Escapou por pouco. O filho dele, também oficial da PM, tentou reagir, mas os agressores foram mais rápidos e escaparam da cena do crime. Quinze horas mais tarde, tiros foram disparados contra o quartel da Rota. Houve perseguição e o ex-detento Frank Ligieri de Souza, que havia deixado o Presídio de Guarulhos em fevereiro, acabou morto pelos policiais. A polícia garante que Frank era integrante do PCC. Nas duas semanas que se seguiram aos atentados, 22 veículos foram incendiados, 17 deles na Zona Leste, onde a facção tem o controle do tráfico de drogas.
Por que o PCC teria rompido o silêncio? A primeira resposta é a de que, em ano de eleições, o governo paulista teria mandado a Rota de volta às ruas, para dar uma sensação de segurança ao eleitor. Em consequência, nas semanas anteriores aos atentados, a Rota se envolveu em confrontos com quadrilhas de assaltantes e traficantes, inclusive “estourando” um laboratório de refino de cocaína. Um desses confrontos, no bairro do Ipiranga, foi transmitido ao vivo pelo “Brasil Urgente” da Band. Dois policiais, um deles da Rota, ficaram feridos. Uma criança foi atingida no peito por uma bala perdida. Além do mais, de janeiro a julho, a Rota apreendeu quase uma tonelada de crack, maconha e cocaína – um prejuízo de vários milhões de reais para o tráfico. Tudo isso teria causado a represália do autodenominado “Partido do Crime”.
A segunda explicação para os ataques é um pouco mais complicada e faz lembrar a onda de violência desencadeada pelo PCC em 2006. Entre maio e agosto daquele ano, a organização criminosa teria sido responsável por 295 atentados violentos, que resultaram em muitas mortes de agentes da lei, bandidos e cidadãos inocentes. A Anistia Internacional chegou a publicar um relatório especial sobre o conflito, informando que 492 pessoas haviam sido mortas, número jamais confirmado oficialmente. A mídia, porém, chegou a apontar mais de 200 mortos em consequência da violência generalizada que atingiu São Paulo. Quase dois Carandirus, verdadeiro massacre. Por ocasião dos ataques do PCC, Geraldo Alckmin estava afastado do Governo e concorria à Presidência. Agora, Alckmin é o principal candidato ao Palácio dos Bandeirantes nessa eleição de 2010.
O PCC tem uma antiga diferença com os governos do PSDB no Estado. Foi entre 2003 e 2006 que os tucanos implantaram o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), que atingiu duramente a liderança da facção. Foram erguidas cadeias de segurança máxima e isolamento, como as de Presidente Bernardes, Avaré e Presidente Venceslau. O PSDB também firmou convênios com o Governo Federal para transferir presos perigosos para outras unidades da Federação, causando danos ainda maiores para os negócios do PCC. Com a medida, espalhou-se a experiência de organização do grupo.
Agora que os tucanos estão em vias de conquistar mais uma vez o governo paulista, dando seguimento a um ciclo de poder que já dura 16 anos, podemos estar às vésperas de mais uma onda de violência armada. O atual governador, Alberto Goldman – substituiu José Serra, que concorre à Presidência -, não tardou a declarar: “Esses ataques contra a Rota nem de longe lembram o que aconteceu em 2006”. Pode ser, mas o tema PCC esteve presente no debate entre os candidatos que a Band realizou em 12 de agosto. O senador do PT Aloisio Mercadante, que disputa a vaga para o governo paulista, declarou ao vivo: “O PCC já ganhou a briga, domina todos os presídios”.
Mais uma vez, como em 2006, vemos o “Partido do Crime” aparecer na cena política.
Concordo com vc! O PCC, já parou São Paulo uma vez, e pelo que li no seu post, essa situação não está longe de voltar a ocorrer!
O PSDB vêm alimentando uma ineficácia no sistema prisional, ja fazem quase duas décadas!
Já é da cultura politica paulista e brasileira, descer o chumbo antes de datas importantes como a da eleição, haja visto o ano de 1992 quando ocorreu o “massacre do carandiru” conhecido mundialmente pela enorme violação dos direitos humanos! Essa violência desenfreada pré eleitoral, é um dos pilares que influênciaram a formação do PCC.
Isso que dá, “quem varre a poeira pra baixo do tapete, mata a criança de bronquite!”
E parabéns Carlos, sou fã do seu blog, e sempre que posso compareço e deixo um comentário!
Abraços!
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Caro Joel,
obrigado por seus comentários. Você percebeu bem: há uma coincidência de violência armada e períodos eleitorais. Neste fim de semana, o Rio de Janeiro foi palco de uma cena de guerra civil que repercutiu em todo o mundo. Se 70 traficantes doTerceiro Comando, oriundos da Rocinha, estavam numa festa no vizinho Morro do Vidigal, quanto mais teriam ficado na favela, cuidando dos negócios das drogas? Mais 70, mais 100? Isso não é só um bando, é uma “força armada”. E a polícia subiu a Rocinha? Não. É o tipo de conflito que o governador Sérgio Cabral prefere evitar no período eleitoral.
E por aí as coisas vão, infelizmente.
Participe desse trabalho de conscientização e ajude a divulgá-lo.
Abração,
Carlos Amorim
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