O Brasil no tabuleiro dos poderosos

Nesta última semana, o presidente norte-americano Barak Obama indicou a Índia para ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Numa só tacada, provocou desconforto para China e Brasil. É assim o sutil, porém maquiavélico, xadrez da política internacional. A Índia é um potência nuclear, possui a segunda maior armada naval do mundo (a primeira é a do Paquistão) e se apresenta como a maior força de oposição ao islamismo na região, apesar de que quase um terço da sua população de mais de um bilhão de habitantes ser constituída por muçulmanos. É preciso notar que Índia e Paquistão são países conflitantes e que mantêm um conflito armado permanente na Cachemira, fronteira entre eles. Após a queda do Império Soviético, em 1991, ficou mais provável uma guerra nuclear entre Índia e Paquistão do que entre Rússia e Estados Unidos. Após a indicação de Barak Obama, está claro quem é o aliado preferencial do Tio Sam naquela região do globo.

No entanto, logo após a declaração do líder de Washington, o governo inglês indicou o Brasil para outro assento no mesmo Conselho de Segurança. Outro movimento sutil para reequilibrar o jogo político internacional, incorporando o país hegemônico da América do Sul. Nosso Brasil Tropical vem se preparando há vários anos para essa tarefa, inclusive sob Lula, com o maior investimento (47 bilhões de reais) para reaparelhar as forças armadas tupiniquins. Já estivemos em missões militares em Suez, República Dominicana, Angola, Moçambique, Timor Leste e – agora – no Haiti. Tudo isso sem falar na participação da FEB na Segunda Guerra, ocupando territórios italianos com uma força de 25 mil homens, integrada ao V Exército dos Estados Unidos, sob comando do General Clark. No Haiti, nós é que comandamos as tropas da ONU, inclusive os marines norte-americanos, que estão nos devendo verbas e equipamentos. Durante o terremoto que atingiu aquele país miserável, perdemos 19 dos nossos militares. E há por lá, nesse momento, um surto de cólera.

Para frequentar o Conselho de Segurança da ONU, é preciso estar dotado de uma capacidade de intervenção militar rápida, destinada a cumprir a política do Big Stick (o Grande Porrete, como dizem os americanos). Ou seja: deslocar poder naval, aéreo e terrestre, imediatamente, para qualquer lugar do mundo. Homens e mulheres brasileiros em uniforme, para cumprir as ordens das Nações Unidas, com risco de morrer e matar. Podemos escapar dessa condição? Provavelmente, não! Nos 16 anos de governos FHC e Lula, o Brasil ocupou um lugar de destaque entre as Nações, especialmente com Lula, que virou uma grife mundial. Como a Índia, somos a bola da vez nesse intrincado jogo político. À medida que o país se desenvolve, aumentam suas responsabilidades internacionais. Somos peões inarredáveis nesse xadrez.

Ao cidadão brasileiro consciente, porém, cabe perguntar: não seria melhor cuidar das nossas próprias questões internas de segurança? Se todo esse dinheiro fosse investido no combate à violência em nossas cidades, teríamos resultados melhores? Poderíamos caminhar tranquilamente por nossos bairros, praças e avenidas? Há uma letra de música popular, sucesso nacional, que trata disso:

“Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde nasci…”

Os compositores dessa canção, um dos quais morreu assassinado, talvez nos deixem um belo tema de reflexão.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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4 respostas para O Brasil no tabuleiro dos poderosos

  1. Pingback: O Brasil no tabuleiro dos poderosos | Carlos Amorim | Info Brasil

  2. Canas disse:

    http://ccanasnafita.blogspot.com/2010/11/o-desespero-dos-traficantes-e-dos.html

    Olá,

    Gostaria de uma opinião sua sobre um texto que fiz em meu blog. Pode comentar aqui nos comentários do seu blog mesmo, que eu venho ler. É sobre segurança publica e o papel dos usuários. Ignorei muita coisa no texto, mas tentei dar este enfoque da responsabilidade também de quem usa.

    Obrigado

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  3. Yuri Quadros disse:

    Amorim,
    O momento recente da política e economia no nosso país nos mostra como vivemos uma dualidade que caracteriza alguns dos momentos históricos dessa nação. Projeções dão conta que seremos a quinta maior economia em 2020, discutimos questões nacionais como reformas estruturais importantes, no entanto o dia a dia é pautado pela miséria que assola principalmente os negros, sem contar a corrupção tão largamente arraigada na sociedade e a violência urbana financiada pela classe média e suas festas regadas a muito pó e drogas sintéticas.

    Como aspirarmos a ser uma nação com respeito no cenário internacional (não que Índia e China sejam) quando não conseguimos resolver nem os nossos tão miseráveis problemas internos, tratados pela classe política brasileira como secundários e sem poder de voto….deixamos milhares de pessoas morrer nas filas de hospitais, o dinheiro de corruptos está em contas secretas na suiça, crianças pobres têm uma educação primária indigna enquanto os centros de excelência estão reservados a classe média alta que investiu toda suas economias para que os filhos pudessem ingressar numa universidade publica (me incluo nessa minoria).

    Enfim, temos que olhar pra dentro de casa, resolver nossos problemas, cuidar dos miseráveis e fazer com que seus filhos sejam num breve futuro cidadãos capazes de mudar suas próprias vidas, por meio da educação e dessa economia de mercado que de certa forma vai fazer com que muitos saiam da miséria.

    Parabéns pelo texto e pelo livro Assalto ao Poder (acabei de ler). Desejo força para que continue com sua brava luta, por meio das palavras, para que possamos discutir questões tão importantes abordadas em seus textos.

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