Um dia de votação em Brasília

No domingo 31 de outubro, estava em Brasília, com a tarefa de produzir o programa Brasilianas.Org, do jornalista Luís Nassif, para a TV Brasil, a rede pública do governo federal. Cheguei à emissora por volta das três da tarde do segundo turno – e fui escalado para editar o perfil histórico e biográfico de Dilma Rousseff. Baseado em texto da jornalista Tereza Cruvinel, comentarista política sênior e presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), iniciei o trabalho às cinco e meia da tarde. Parecia impossível concluir a tempo de uma apuração de votos tecnológica, que coloca o Brasil na liderança dos processos eleitorais.

Estava ali por ser o gerente do Núcleo de Programas Especiais de Jornalismo da TV Brasil em São Paulo. Mas não sabia que iria encarar tarefa tão apertada. Com a cooperação e a solidariedade do pessoal do Departamento de Jornalismo, entreguei o Blue Disk editado faltando cinco minutos para o TSE declarar a Dilma eleita. O VT tinha em torno de cinco minutos de duração, com imagens de campanha e da vida da candidata, desde a infância.

Macaco velho da produção e edição de telejornais, utilizei uma técnica rudimentar para cumprir a tarefa. (Outra hora conto como se faz isso.) Após cinco horas de transmissões ao vivo, a pequena TV Brasil saiu-se muito bem. Deu todos os números da apuração, incluindo nos estados onde havia segundo turno para governador. E foi a única rede de televisão que mostrou em tempo real os dis-cursos de Dilma e José Serra após os resultados.

Depois do encerramento das transmissões, fui procurar algo que comer, acompanhado da Tereza Cruvinel. Passamos pela Esplanada dos Ministérios, onde pude ver aquele monte de bandeiras agitadas no ar da capital do Brasil. Um enorme buzinaço nos acompanhou até o Piantela, por volta da meia noite. O restaurante, como sabemos, era lugar favorito da oposição parlamentar ao regime militar. Ali, Ulysses Guimarães organizou algumas das jogadas da campanha das diretas e da constituinte de 1988. Nessa noite de eleição, no entanto, encontramos só duas mesas ocupadas: uma, com três pessoas, tinha na cabeceira o ministro do STF Gilmar Mendes; outra, no bar, tinha o José Dirceu, cercado por uns 20 amigos. Duas faces da mesma moeda da política brasileira?

No entanto, o que me ficou na mente foi a festa popular, as bandeiras, o som das buzinas. Sons de uma jovem democracia que teima em aprender os caminhos do futuro.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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Uma resposta para Um dia de votação em Brasília

  1. Joel Paviotti disse:

    Carlos, eu como leitor assiduo de seu blog! O Qual acesso frequentemente!
    Gostaria gentilmente de pedir, se vc pudesse, é claro! Para tecer com suas consistentes palavras um comentário sobre os últimos acontecimentos na capital do Rio de Janeiro!
    Vendo o que está rolando por lá hoje, estou lembrando prontamente do seu ultimo livro!

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