
Juan Carlos Abadia
A Polícia Federal investigou, durante um ano, 12 policiais do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) e do Departamento de Narcóticos (Denarc) de São Paulo. Motivo: o grupo de elite paulista estava prendendo traficantes e “vendendo” a liberdade dos criminosos, todos procurados. O relatório da PF, com cerca de 1.700 páginas, afirma que os policiais faturaram 3 milhões de reais com o esquema. Os negócios do grupo eram realizados na própria sede do Deic, onde os traficantes ficavam em cárcere privado. Os federais gravaram, com autorização judicial, centenas de horas de telefonemas entre os policiais e representantes dos bandidos, quase sempre advogados e parentes dos sequestrados. Fotografaram e filmaram os acertos, que se realizavam numa rua atrás do prédio da polícia. Escândalo monumental, denunciado pela Folha de S. Paulo.
O governador Geraldo Alckmin, em entrevista à televisão, disse que o caso era “grave” e prometeu “expulsar da polícia e prender” os corruptos, se a culpa fosse provada. Nenhum dos policiais acusados foi preso até o dia de hoje, passadas 94 horas da denúncia. Na verdade, o caso é gravíssimo, uma vergonha para a segurança pública, um acinte contra a sociedade. É inacreditável que tais bandidos com distintivo continuem livres e armados. O Denarc, especialmente, já foi alvo de incontáveis denúncias. Certa vez, sumiram do depósito do órgão vários quilos de cocaína apreendida. E disseram à imprensa que os ratos tinham comido a droga. Ratões muito doidos, que usam terno e gravata!
No dia 7 d agosto de 2007, os federais prenderam em São Paulo o maior produtor colombiano de cocaína, Juan Carlos Abadia, chefão do Cartel del Norte. Ele declarou que havia pago 2 milhões de reais a policiais do Denarc para continuar em liberdade. Abadia morava tranquilamente, com mulher e filhos, na Aldeia da Serra, bairro de luxo nos arredores de São Paulo, reduto de artistas e empresários – e, pelo jeito, de traficantes. Só foi preso porque o FBI e o DEA norte-americanos enviaram ao governo brasileiro a localização exata do bandido. Juan Carlos Abadia agora cumpre pena no presídio federal do Brooklin, em Nova Iorque, onde também estão alguns presos da Al Qaeda.
Abadia foi extraditado do Brasil em tempo recorde, apenas algumas semanas. Ninguém queria esse cara por aqui. Falava muita bobagem!

A casa de Abadia na Aldeia da Serra
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
Trecho de nota da PF, publicada na sexta-feira: “Diante da notícia divulgada no jornal Folha de São Paulo nesta data, “PF acusa policiais de SP de extorsão a traficantes”, a Polícia Federal presta os seguintes esclarecimentos […] A investigação foi concluída e remetida ao Ministério Público Federal em 7/12/2011 e não identificou policiais civis envolvidos na organização criminosa. Diferentemente do que foi publicado de que “policiais civis não foram presos porque isso alertaria os traficantes”, esclarecemos que os supostos policiais civis não foram identificados.”
http://www.dpf.gov.br/agencia/noticias/2011/dezembro/nota-a-imprensa-pf-acusa-policiais-de-sp-de-extorsao-a-traficantes
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Uma nota oficial da Polícia Federal desmente parcialmente a reportagem da Folha de S. Paulo. No entant, não desmente a extorsão contra os traficantes, que seriam libertados em troca de propina milionária. Veja a seguir a íntegra do documento:
São Paulo – Diante da notícia divulgada no jornal Folha de São Paulo nesta data, “PF acusa policiais de SP de extorsão a traficantes”, a Polícia Federal presta os seguintes esclarecimentos.
Deduz-se que a matéria se refere à operação policial deflagrada em 27/10/2011 para combater organização criminosa baseada em São Paulo/SP que atuava no tráfico internacional de drogas. Essa operação decorreu de uma investigação iniciada em 2010, com abrangência em 7 estados da Federação, e resultou, ao longo de um ano e meio, na prisão de 105 pessoas e na apreensão de cerca de 4,3 toneladas de cocaína e 5,2 toneladas de maconha – fato amplamente divulgado pela imprensa.
A investigação foi concluída e remetida ao Ministério Público Federal em 7/12/2011 e não identificou policiais civis envolvidos na organização criminosa. Diferentemente do que foi publicado de que “policiais civis não foram presos porque isso alertaria os traficantes”, esclarecemos que os supostos policiais civis não foram identificados. Caso isso ocorresse, todas as medidas legais cabíveis teriam sido tomadas em conjunto com a Delegacia Geral de Polícia e com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.
Toda vez que uma investigação da PF não consegue apurar indícios de outros crimes envolvendo servidores públicos, as informações são encaminhadas aos órgãos competentes, após autorização da Justiça Federal.Enfatizamos que o inquérito policial está sob segredo de Justiça e que a Polícia Federal se restringirá as informações desta nota.
Setor de Comunicação Social / Superintendência da PF em São Paulo
Tel.: (11) 3538-5012/5013 (fax) 3538-5014
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Mais uma coisa sobre esse tema: o maior jornal do país faz uma denúncia dessa envergadura e a PF desmente apenas o título e uma frase do texto. Dessa meneira, tomamos o restoo como verdade. Certo?
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É difícil ignorar a dimensão política da denúncia. Vale a pena ver o que disse o Reinaldo Azevedo sobre isso.
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/conspirata-desmontada-nota-da-pf-sobre-a-policia-de-sp-%E2%80%9Ca-investigacao-nao-identificou-policiais-civis-envolvidos-na-organizacao-criminosa%E2%80%9D/
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Esse assunto é de espantar. Se o governador de São Paulo pediu ao Ministro da Justiça a lista dos policiais envolvidos na denúncia da Folha e ele não tinha, a coisa é grave. A Folha de S. Paulo teria sido arrastada numa trama política? Com manchete de primeira página e tudo?.
Infelizmente, para quem gosta da verdade, a nota da PF também não é nada esclarecedora. Afirma que não foram identificados policiais civis envolvidos na extorsão, mas não desmente a extorsão. Quem seriam aqueles homens atrás do Deic, que vimos no Jornal Nacional.? E de quem seriam as vozes nas gravações telefônicas? Tudo mentira?
Essa história ainda vai render…
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De novo:
fica a impressão de que havia policiais envolvidos, só que não foram identificados. A matéria da Folha ocupava duas páginas do jornal, mas o conjunto do texto não foi questionado pela nota da PF.
Seria tudo uma armação?
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