Forças Armadas a passo de tartaruga

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O reaparelhamento das Forças Armadas brasileiras, prometido desde o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, caminha a passos de tartaruga. Reafirmado por Lula e Dilma, o projeto de modernização mal saiu do papel.

Houve investimentos nas áreas de pesquisa e formação de comando, mas o cofre do governo ainda não se abriu, como estava previsto. E pelo jeito também não vai se abrir em 2014, porque o dinheiro não está previsto no orçamento da União.

À medida que o Brasil se desenvolve – somos a 6ª. economia do mundo -, aumentam as exigências e as preocupações na área da defesa. Temos vizinhos instáveis, como Colômbia e Venezuela. O narcotráfico é um problema gravíssimo em nossas fronteiras. Comandamos uma força internacional de paz no Haiti que já consumiu bilhões de reais. E o mais grave: boa parte das reservas de petróleo do pré-sal estão fora das águas territoriais brasileiras, no oceano Atlântico, o que demandaria uma força militar de dissuasão que não possuímos. Além do mais, o Brasil pretende um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU, pressupondo que tenha uma força de intervenção rápida.

O país firmou um acordo de cooperação com a França para a construção de cinco submarinos, Um deles, movido a propulsão nuclear, poderia ficar até um ano submerso, sem precisar vir à superfície para reabastecimento. A França prometeu transferir ao país a tecnologia da moderna guerra não visual, passo decisivo ao desenvolvimento da indústria do setor. Mas o governo não presta contas e a opinião pública não sabe a quantas anda o projeto.

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A compra de jatos supersônicos de combate para a FAB, avaliada em muitos bilhões de dólares, também não aconteceu. Nossos F-5 e Mirage, fabricados nos anos 1960/70, estão em petição de miséria. Desatualizados e inseguros, não servem mais para missões de ataque e interceptação.  Houve uma forte discussão acerca de quem forneceria os aviões: americanos, russos, franceses, ou suecos? Nada se resolveu. Aparentemente o mais adequado ao tamanho de nosso país era o Sukhoi russo, que tem autonomia de voo para cobrir todo o território nacional ou chegar às capitais dos vizinhos. Com Obama, a pressão foi grande para comprarmos o F-18 Hornet. E os franceses, durante um encontro presidencial com Lula, anunciaram a venda de Mirages ao Brasil, o que foi desmentido pelos fatos seguintes. Há quem comente que Lula havia se comprometido com os franceses, o que interrompeu todas as negociações.

O Sukhoi russo

O Sukhoi russo

 

 

Em fevereiro deste ano, Dilma, num encontro com o primeiro-ministro russo Dmitri Mevedev, acertou a compra de lançadores de mísseis antiaéreos Pantsir-S1, capazes de atingir alvos em movimento a 15 quilômetros de distância. O Pantsir dispõe de seis tubos de lançamentos de foguetes, montados sobre um veículo especial onde há radares com alcance de 36.5 quilômetros. A compra é da ordem de US 1 bilhão. Se destina à proteção do espaço aéreo brasileiro durante as Olimpíadas de 2016. Os russos são famosos por não cumprir os prazos de entrega de seus brinquedinhos militares.

O Brasil acertou também a compra de 3.000 blindados para reaparelhar as brigadas mecanizadas do Exército, especialmente no sul do país. Alguns tanques pesados da classe Leopard, fabricados na Alemanha, já chegaram. Outro dia vimos pela televisão a passagem de quatro deles pela Marginal Pinheiros, em São Paulo, armados com canhões de 105mm e metralhadora. Mais uma vez, o público não tem informações sobre isso. O que é uma grande bobagem, porque no mundo da indústria bélica não há mais segredos.

Conseguimos desenvolver um novo fuzil leve de assalto, o IA2 5.56mm, totalmente nacional. A nova arma padrão das Forças Armadas veio substituir o antigo FAL 7.62mm. Este foi um passo importante, apesar de críticas de muitos especialistas, alguns dos quais se manifestaram aqui no site. De todo modo, dá início à produção de armas de infantaria com tecnologia nacional.

Compramos quatro aviões não tripulados da classe Predator (modelo SQ-450), que deveriam equipar a Polícia Federal e a FAB na proteção das fronteiras. Durante os testes da aeronave, pistas clandestinas do narcotráfico foram localizadas e destruídas. Mas os Vants têm muitos problemas e os da PF estão parados por falta de um contrato de manutenção. As aeronaves não tripuladas devem ser empregadas durante a Copa do Mundo.

Ou seja: algumas coisas avançaram, mas o grande projeto de reaparelhamento das Forças Armadas vai devagar e aparentemente sem um plano estratégico.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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6 respostas para Forças Armadas a passo de tartaruga

  1. Cássio Freitas disse:

    Em um país como o Brasil que conta com vários recursos naturais escassos seria muito importante que contassemos com equipamentos de qualidade para nossas forças armadas. As características do país como o amplo território e a grande extensão das fronteiras com vários países (muitas ao longo de floresta tropical) só mostra como um armamento de qualidade e militares bem treinados são fundamentais.

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  2. Se isso não bastasse, os contingentes hoje apresentados não são suficientes e estão mal distribuídos pelo território nacional.
    Para se ter uma ideia, as Forças Armadas precisam proteger cerca de aproximadamente 8.514.876 km quadrados de território, cerca de 16.886 km de fronteira terrestre e aproximadamente 7.367 km de fronteiras marítimas. Porém, as tropas estão distribuídas da seguinte maneira pelo território:
    Exército
    Região Sul: 25%
    Rio de Janeiro: 23%
    Amazônia: 13%
    Marinha
    Rio de Janeiro: 71%
    Resto do País: 29%
    Aeronáutica
    Rio de Janeiro: 32.5%
    Resto do País: 14,2
    Talvez, esse excesso de tropas no Estado do Rio de Janeiro possa ser por causa de a capital do Brasil ter sido lá. Se realmente for esse o motivo, isso mostra o quão despreparado e desatualizado encontram-se nossas Forças.
    Esse descaso com nossa tropa, só faz reforçar um pensamento que tenho: Que o grande compromisso e patriotismo de nossos militares é o grande diferencial de nossas tropas.
    O problema da mal distribuição da tropa focando-as nas regiões sul e sudeste, principalmente no Rio de Janeiro, faz com que nossa fronteira com os países latino americanos fique desguarnecida e não é segredo pra ninguém que lá, principalmente na região Amazônica, é a porta de entrada para drogas e armamentos.
    Se o governo estiver tão interessado em resolver problemas como violência e dependência química, deveria começar com um plano de melhor disposisão dos nossos efetivos pelo território, ao invés de se preocupar com estatutos de desarmamento e outros…

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    • carlos amorim disse:

      Prezados Cássio e Fernando,
      obrigado pelos comentários. Os números apresent
      ados pelo Fernando impressionam.
      De fato, o problema de defesa é grave.
      Continuem participando desse nosso debate.
      abs
      Camorim

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    • Antonio Ernesto de Fonseca e Oliveira disse:

      esses números são preocupantes. qual a sua fonte?

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  3. julio cesar disse:

    Li em reportagens que o Brasil gasta cerca de 80% dos recursos destinados a defesa com o pessoal que não está mais na ativa, e tende a piorar. Já vi algumas pessoas dizerem que enquanto isso não for resolvido os recursos continuaram escassos.

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  4. Alex disse:

    Existe um plano estratégico? Ou seriam conversas estratégicas? Que tristeza! Sinceramente, questiono a questão no percentual 80% ser gasto em folha. Acho que o que é empenhado é que está seriamente comprometido com folha. Se investissemos de fato o que é propagado pelos políticos, a história seria outra, o resultado seria outro e o percentual também.

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