
O assassino de Hiromi Sato.
A 6ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, em decisão unânime nesta quinta-feira (14 ago), determinou que o advogado Sérgio Brasil Gadelha continue preso até que seja julgado pela morte da mulher, a secretária-executiva Hiromi Sato. O crime foi praticado com requintes de crueldade e chocou a opinião pública do país, ocupando espaço em jornais, revistas de grande circulação e na televisão. Hiromi, uma descendente de japoneses, 1.60 de altura, pesando 50 quilos, foi massacrada a socos e pontapés pelo marido, que ainda por cima a estrangulou.
Toda essa violência aconteceu num apartamento de classe média alta, no bairro de Higienópolis, centro de São Paulo, um dos endereços mais nobres da capital. Os gritos dela foram ouvidos na vizinhança, o que não impediu que o criminoso ficasse pelo menos um dia com o corpo dentro do apartamento, sem tentar qualquer ajuda. Sérgio Gadelha foi preso em flagrante, ainda com o corpo caído no chão, quando uma de suas filhas chegou de viagem e se deparou com a tragédia. Quando a polícia chegou, Sérgio Brasil Gadelha estava sentado no sofá da sala assistindo à TV.
Na delegacia, confessou o crime. Mas ficou preso pouquíssimo tempo, talvez uns dois dias, porque um juiz do 1º Tribunal do Júri tomou estranha decisão: decretou a prisão preventiva do acusado, mas, no mesmo despacho, concedeu a ele o direito de ficar em “prisão domiciliar”. O criminoso, de 75 anos, alegou que tinha “problemas de saúde”. E o juiz aceitou. O mandado judicial o devolveu ao apartamento de Higienópolis, para horror dos vizinhos e indignação de parentes e amigos de Hiromi.
Disto surgiu o movimento chamado “Justiça por Hiromi”, que reuniu gente comum do bairro e os movimentos independentes de defesa das mulheres. Resultado: protestos, manifestações de rua, apelos na Internet. Meses após o crime, o Tribunal de Justiça mandou Sérgio Gadelha de volta às grades: em votação majoritária (3 a 1), o advogado foi encarcerado no 31º Distrito Policial, na Vila Carrão, em cela comum, com outros 17 prisioneiros. O TJ assentou que o criminoso oferecia perigo à sociedade e havia ameaçado parentes da vítima. Mas a defesa recorreu.
Com a decisão desta quinta-feira, unânime (5 a 0), os desembargadores rejeitaram o recurso, mantendo o réu preso. Se a Justiça agir sempre dessa maneira, seremos uma Nação melhor. A decisão dos desembargadores impede que um criminoso perigoso como o Sérgio Gadelha escape da punição. Ele já tem 75 anos. Com a morosidade do judiciário, poderia se tornar inimputável. Acusado de homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel etc), vai a júri popular, possivelmente no primeiro semestre do ano que vem. Está sujeito a penas de 12 a 30 anos de prisão em regime fechado. Enquanto aguarda o julgamento, por ter curso superior, está recolhido a uma sala com banheiro no Regimento de Cavalaria 9 de Julho, da PM.
Esta prisão especial é uma injustiça. Os criminosos não deveriam ter privilégios em função de status social ou de nível educacional. Deveriam ser julgados por seu caráter e pelos crimes que cometeram, sem distinções. Mas, como diria o filósofo francês Michel Foucault, “a Justiça insiste em demonstrar a sua dissimetria de classe”.
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
Que caso horrível de violência! Espero que a justiça seja feita. Mas quanto ao “massacre” de mulheres o Sr. sabia que 91,50% das vítimas de homicidio no Brasil são homens? (fonte: SIM/Datasus/Ministério da Saúde) Existe sim um massacre em nosso país, mas de homens, não de mulheres!
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