Valorização das empresas brasileiras de capital aberto revela que a crise – fora da mídia, no mundo real – não é assim tão assustadora. No entanto, o desempenho modesto da economia serve como principal argumento contra o governo, influenciando nas eleições.

Pregão da Bovespa.

Pregão da Bovespa.

 

                    As 328 maiores empresas brasileiras de capital aberto, com ações negociadas na Bovespa, chegaram a um recorde histórico de valorização no último dia 29 de agosto. De acordo com a consultoria Economática, uma das mais respeitadas do país, essas empresas valem agora 2,59 trilhões de reais. Só no mês de agosto, o valor dessas companhias aumentou 196,5 bilhões de reais. A alta é liderada pelos 22 maiores bancos nacionais, os grandes beneficiários da elevação das taxas de juros. E – acreditem – pelas empresas estatais de petróleo e gás, alem do setor elétrico. Mas como? A Petrobrás não estava para falir, segundo a grande mídia brasileira? Como uma coisa dessas pode acontecer? No pregão de hoje (1º set), as ações da Petrobrás tiveram altas significativas. E o setor elétrico, não estava em vias de um “apagão”? Parece que o mundo real é diferente das especulações dos “especialistas”.

                    No entanto, o desempenho modesto da economia brasileira em 2014 (segundo o jornal Financial Times a “recessão” vai eleger Marina Silva) se tornou a principal arma de oposição nas eleições deste ano. Já que não é possível criticar os avanços de Lula e Dilma no campo social, como a distribuição de rendas, vamos bombardeá-los no nível econômico. Hoje, por exemplo, foi anunciado um superávit na balança comercial de algo parecido com 1,2 bilhões de dólares. Mas a mídia destacou: “é o pior superávit dos últimos tempos”. Como classificar de pior um resultado positivo de 1,2 bilhões de dólares? Não sendo economista nem especialista em finanças públicas, isso me assusta. De novo: o mundo real parece diferente das manchetes de jornais. O que diriam Portugal, Espanha e Itália de um resultado como esse, só para citar os europeus mais próximos de nós? Um desastre?

                    Curiosamente, os “especialistas” não nos informam o percentual dessa valorização das maiores empresas brasileiras. Se compararmos aos últimos dez anos, que percentual seria esse, para ser o maior da história? Confesso que a minha matemática é amadora demais para fazer a conta. Mas seria um tremendo resultado, sem dúvida. Tanto é assim, que somente este ano o país recebeu 18 bilhões de reais de investidores estrangeiros. Será que os capitalistas globais são tolos e inocentes? Parece que não. E mais: hoje, em entrevista à Rádio CBN (Organizações Globo), um diretor da Confederação do Comércio Varejista anunciou que as vendas diretas ao consumidor devem crescer de 3% a 4% este ano, com o correspondente aumento do nível de emprego no setor.

                    Em um mundo em crise econômica, deve haver algo de errado nas manchetes dos jornais brasileiros. Ou não?

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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