Morte de promotor argentino, agora investigada como provável homicídio, esconde escândalo político, corrupção e terror.

Atentado contra a Amia, em 1994.

Atentado contra a Amia, em 1994.

O ex-presidente argentino Carlos Saul Menen, que esteve no poder por dois mandatos (entre 1989 e 1999), vem de uma família de origem síria. Eleito pelo Partido Justicialista (peronista), Menen mantinha estreitas relações com empresários, líderes religiosos e políticos do Oriente Médio, especialmente na terra natal de seus ancestrais, a Síria, e no Irá. Ao final do primeiro mandato, enfrentava oposição e precisava de dinheiro para a campanha de reeleição. Encontrou apoio na terra dos aiatolás xiitas. Teria recebido 40 milhões de dólares de fontes iranianas nunca reveladas. Em troca, reeleito, Menen facilitaria a transferência de tecnologia para a fabricação de giroscópios ao Irã, equipamento que serve para dar direção a mísseis balísticos. Não cumpriu a promessa – e o dinheiro sumiu em contas secretas suíças.

Alberto Nisman: suicídio?

Alberto Nisman: suicídio?

A resposta não demorou: em 17 de março de 1992, terça-feira chuvosa em Buenos Aires, um carro bomba explodiu em frente à embaixada israelense,  matando 29 pessoas e deixando 242 feridos. Pior: no sábado 18 de julho de 1994, outro ataque, dessa vez contra a Associação Mutual Israelense Argentina (Amia). Cem quilos de dinamite foram detonados diante do prédio, que veio abaixo. Oitenta e cinco mortos e mais de 300 feridos. Os dois atentados foram atribuídos à milícia libanesa Hezbollah (Partido de Deus), aliada do Irã e financiada pela Síria. Os atentados teriam sido planejados em Foz do Iguaçu, no Paraná.

Este era o caso que estava sendo investigado pelo promotor federal Alberto Nisman, 51 anos, encontrado morto em seu apartamento na capital argentina, na madrugada de segunda feira (19 jan). O governo argentino apontou para um suicídio, mas voltou atrás em face de provas encontradas na cena do crime. Nisman, de origem judaica, denunciava a atual presidente argentina, Cristina Kirchner, de tentar abafar a investigação, em troca de acordos comerciais com o Irã: petróleo.

Menen, o pivô da crise.

Menen, o pivô da crise.

Para quem se interessa por esse tipo de investigação, anote aí: o jornalista brasileiro Mário Chimanovitsh publicou reportagem na revista “Isto É!” (3 de outubro de 2001) contando detalhes da trama. Em um dos meus livros (“Assalto ao Poder”, Ed. Record 2010, página 285 e seguintes), também descrevo detalhes da patifaria que resultou nos atentados e na morte do procurador.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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