STF recebe lista de 54 políticos apontados pelos delatores dos escândalos na Petrobras. Eles teriam se locupletado com o desvio bilionário. Horas antes da chegada das denúncias à Suprema Corte, o presidente do Congresso rejeitou medida econômica do governo, declarando que Dilma pretende “usurpar os poderes” do Parlamento.

STF recebeu denúncias à noite.

STF recebeu denúncias à noite.

Os emissários do Procurador-Geral da República chegaram ao Supremo Tribunal (STF), às horas da noite desta terça-feira (3 fev), carregando 54 pastas volumosas. Uma para cada político envolvido no “petrolão”. O prédio do STF estava cercado por seguranças e policiais, até porque, pouco antes, houve um protesto de funcionários do judiciário. Todo o material foi entregue diretamente no gabinete do ministro-relator do caso, Teori Zavaski, a quem cabe tomar as primeiras decisões.

Dos 54 políticos investigados, o procurador Rodrigo Janot pediu abertura de inquérito contra 28, considerando que há fortes indícios de crime. Solicitou o arquivamento das investigações contra 7 deles, por falta de provas e porque dois já morreram. Quanto aos 19 restantes, nada se sabe ainda. Genericamente, as acusações são de corrupção passiva, peculato e associação criminosa, que podem resultar em dezenas de anos de prisão. Ao lado disso, a PGR pediu a quebra do sigilo judicial sobre o caso, de modo que a opinião pública possa tomar conhecimento dos nomes e das acusações.

O ministro Teori Zavaski deve apresentar as primeiras conclusões nos próximos dias, como o arquivamento de algumas denúncias e a quebra do sigilo. Mas a avaliação da participação dos políticos pode levar meses, já que o material reúne milhares de páginas. O julgamento pode demorar uma década: há 51 mil pessoas jurídicas envolvidas nos desvios da Petrobras. Só para ter uma ideia: a Ação Penal 470, o processo do “mensalão”, durou sete anos. No entanto, as consequências políticas chagam mais rápido. Isso talvez explique a violenta reação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado e do Congresso Nacional, ao rejeitar medida provisória da presidente Dilma Rousseff que pretendia aumento de tributos para empresas, uma das medidas do pacote de ajustes do ministro Joaquim Levy, da Fazenda.

O plenário da Suprema Corte, que vai julgar os políticos do "petróleo".

O plenário da Suprema Corte, que vai julgar os políticos do “petróleo”.

Renan, que foi eleito para o cargo com apoio do PT e do Planalto, disse que o governo pretende usurpar os poderes do Parlamento. E isso com transmissão ao vivo pela televisão (Globonews, TV Senado, Bandnews e outras). Mas, na real, usou um argumento técnico: aumento de tributos tem que ser feito por decreto-lei. A oposição, que durante a campanha eleitoral urrava por ajuste fiscal, aplaudiu a decisão do congressista, mostrando que a política é mesmo cínica. Houve discursos de Aécio Neves, José Serra e muitos outros. Uma hora e meia após o espetáculo no Senado, a presidente Dilma voltou atrás: retirou a medida provisória e enviou um decreto-lei com o mesmo texto. E qual a diferença? A diferença é que um decreto-lei tem tempo maior de tramitação, abrindo espaço para negociações entre os políticos e o Planalto. E quais negociações? Bem, isso vocês já sabem.

Um detalhe importante: de acordo com a edição online do jornal O Globo de hoje, em matéria assinada por Paulo Celso Pereira, Renan Calheiros e Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, estariam na lista do procurador Janot. Segundo outras fontes, os dois teriam sido avisados disso pelo próprio vice-presidente da República, Michel Temer. Tire você, leitor, as suas próprias conclusões.

Renan e Cunha.

Renan e Cunha.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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3 respostas para STF recebe lista de 54 políticos apontados pelos delatores dos escândalos na Petrobras. Eles teriam se locupletado com o desvio bilionário. Horas antes da chegada das denúncias à Suprema Corte, o presidente do Congresso rejeitou medida econômica do governo, declarando que Dilma pretende “usurpar os poderes” do Parlamento.

  1. Cássio Freitas disse:

    Com os nomes da lista já em conhecimento do público (digo do público pois muito o que se faz no Senado muitas vezes parece se tratar de um espetáculo que busca chamar a atenção do eleitorado por meio de uma tentativa dos grupos de rotular os apoiadores de mocinhos e os demais de vilões) devemos cobrar que os desvios identificados sejam punidos. Há necessidade de maior fiscalização para que os poderes não sejam tão corrompidos no país, visto o envolvimento em tal escândalo de membros do legislativo e de alguns que outrora estavam no executivo. Dado o envolvimento de várias empresas nos desvios, como pode ser visto na matéria a cima (mais do que imaginava), fica claro que a fiscalização deve ser a maior arma para o combate da corrupção. É muito fácil defender o financiamento público de campanhas como se o não envolvimento direto de empresas privadas resolvesse o problema da corrupção. A fiscalização não é simples, e muitas vezes é mal feita. Grande parte das doações feitas aos partidos não é fiscalizada, o que faria com que os possíveis ganhos em relação a um financiamento público de campanha não fossem sentidos. Precisamos fortalecer a fiscalização, pois sem a mesma, estaremos sempre esquecendo um escândalo por meio da ascensão de outro, sem que o problema da corrupção seja realmente controlado (não digo eliminado porque isso nunca aconteceu em qualquer país, e creio que não seremos os primeiros a eliminar tal ação, que tem funcionado como uma das principais formas por meio das quais as articulação políticas tem se dado). Um texto muito interessante sobre o financiamento público de campanhas e problemas que o mesmo pode enfrentar segue no link abaixo:
    http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9530&revista_caderno=28
    Combater a corrupção é necessário, mas isso só será feito por meio de punição e fiscalização.

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  2. carlos amorim disse:

    precisamos de imediato de uma verdadeiro reforma politica e estrutural em nosso sistema politico. esse sistema capitalista e corrosivo já mostrou que não da resultado algum a todos os brasileiros. precisamos de um sistema mais justo e não corrupto, a alternativa é o socialismo abram os olhos e o enxerguem como unica sáida deste terivel buraco negro

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  3. Diana Barros disse:

    Não entendo pq a Dilma e Lula que foram inúmeras vezes citados não estão na lista e não estão sendo investigados? Pode me esclarecer? Sempre bom ler o seu blog é uma forma de matar a saudade das boas e interessantes conversas da minha infância. Um beijo

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