CPI da Petrobras vira circo de vaidades. CUT, MST e PT reagem nas ruas, mobilizando cerca de 50 mil militantes. Mas tudo indica que vão levar um banho da oposição neste domingo.

Eduardo Cunha na CPI.

Eduardo Cunha na CPI.

                      Após alguns dias fora, volto a São Paulo e o quadro político brasileiro parece ter-se tornado uma ópera bufa. Assisti à gravação da sessão da CPI da Petrobras da última quinta-feira (12 mar) com espanto. Um dos indigitados na lista do procurador Rodrigo Janot, contra quem o Supremo Tribunal mandou abrir investigação criminal, justamente o presidente da Câmara Federal, apresentou-se voluntariamente à Comissão Parlamentar de Inquérito. Foi recebido como um chefe de estado, saudado por oposicionistas e governistas. Eduardo Cunha fez um longo discurso autoelogioso, no qual atacou duramente o Procurador-Geral da República. Disse que a lista de implicados no escândalo da maior empresa estatal do país foi escolhida por razões políticas. Ou seja: o perseguido ameaçando o perseguidor.

Sérgio Gabrielli.

Sérgio Gabrielli.

                          Depois foi o depoimento do ex-presidente da petroleira, Sérgio Gabrielli, que não está sendo investigado. Respondeu a dezenas de perguntas do relator, deputado Luiz Sérgio, metalúrgico do PT. Horas e horas de interrogatório. Pelo regimento interno, não podia ser interrompido pelos demais deputados. As perguntas do relator serviram para que Gabrielli defendesse a tese de que não havia corrupção sistemática na Petrobrás. Ele explicou que a corrupção ocorria numa parte do orçamento dos projetos da e presa chamada “BDI”, uma reserva de 3% destinada ao lucro das empreiteiras envolvidas nas obras. O dinheiro desse “BDI” era distribuído entre funcionários da estatal, políticos e partidos. Gabrielli insistiu que a empresa não teve prejuízos, porque a grana, legalmente, pertencia às empreiteiras. Elas, as empreiteiras, é que subornavam os políticos.

                      Se isso for verdade, fica revelado pela primeira vez os bastidores do financiamento privado de campanhas políticas, envolvendo bilhões de reais. Só um dos gerentes da Petrobrás tinha 180 milhões de reais em bancos suíços, fruto das propinas que recebeu. Qualquer criança do primário sabe que um esquema deste tamanho não poderia existir sem o conhecimento do alto escalão da Petrobras e do governo. Mas as crianças do primário também sabem que esses deputados, que vivem de doações de campanha, não irão fundo nessas questões. A CPI vai virar um circo de vaidades e manobras evasivas. Como foram, aliás, as duas anteriores.

Manifestação de apoio a Dilma.

Manifestação de apoio a Dilma.

Enquanto rolava a pantomima na CPI, a CUT, o MST e o próprio PT mobilizavam suas bases para as manifestações de rua que ocorreriam no dia seguinte, sexta-feira (13 mar). Cerca de 50 mil militantes fizeram atos públicos em 24 estados e no Distrito Federal. A maior deles foi na Avenida Paulista, coração da oposição. Pensando bem, o protesto terá sido pequeno diante do que deve acontecer neste domingo. O povo pobre, que apoia Dilma, Lula e o PT, não faz passeata. Mas a classe média abastada vai encher as ruas por esse país a fora. Esta classe média está cozinhando um ódio de classe contra “os porteiros, nordestinos e empregadinhas” que reelegeram Dilma.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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6 respostas para CPI da Petrobras vira circo de vaidades. CUT, MST e PT reagem nas ruas, mobilizando cerca de 50 mil militantes. Mas tudo indica que vão levar um banho da oposição neste domingo.

  1. Cássio Freitas disse:

    A meu ver qualquer tipo de mobilização política é válida, visto que não há voto que vale mais do que outro. É bom ver que os dois lados possam se manifestar, pois essa é a essência da democracia, o direito do eleitor não só de votar mas de se fazer ser ouvido pelos governantes. Concordo que as últimas eleições levaram à intensificação de um ódio de classe e de uma polarização política, mas a meu ver grande parte dessa radicalização é culpa dos próprios políticos e da forma com a qual levaram a campanha, sempre tratando o outro partido que estava na disputa como inimigo e não como adversário político, o que vale tanto para PT quanto para PSDB. Caberia aos eleitores reagir a esse discurso adjetivado e sem conteúdo que os partido apresentam buscando mais conhecimento sobre o processo político de modo que as exigências feitas tanto no dia 13 quanto hoje apresentassem um cunho mais ideológico e não partidário. Infelizmente, os eleitores busca adaptar seu pensamento ao que defendem os partidos, ou seja, os partidos deveriam refletir uma a ideologia de parte da população sendo uma fonte de representação da mesma, e o que se vê é a população adaptando seu pensamento a um discurso partidário. Enquanto não houver essa compreensão tenderemos a cair na radicalização política (não ideológica, pois é evidente que os partidos não apresentam uma ideologia a qual seguem, caso contrário não justificaria o número elevado de partidos que temos atualmente havendo mais partidos que grupos a serem representados), o que tende a segar os grupos que defendem PT e PSDB, que fazem a defesa dos partidos e seus membros, que se mostram muitas vezes indefensáveis, e não de uma ideologia que deveria ser o papel dos eleitores. Não vejo perspectiva de melhora, pois os lados não se mostram abertos para um verdadeiro debate.
    Quanto à corrupção, a mesma ocorre em todas as esferas do poder e tanto no setor privado quanto no público. Acredito que uma reforma política venha a ajudar a melhorar tal quadro, mas de forma alguma acabar com a corrupção, que ocorre em todo o mundo, inclusive em países que apresentam financiamento exclusivamente público para as campanhas. Como eu já defendi em outra oportunidade aqui no site, é necessário melhorar os mecanismos de fiscalização, sendo que sem fiscalização muitos dos ganhos esperados por uma reforma política podem acabar não se realizando.

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  2. Diana disse:

    Estou chocada com essa parte do seu texto “O povo pobre, que apoia Dilma, Lula e o PT, não faz passeata. Mas a classe média abastada vai encher as ruas por esse país a fora. Esta classe média está cozinhando um ódio de classe contra “os porteiros, nordestinos e empregadinhas” que reelegeram Dilma.”

    Quem criou o dircuso de odio entre classes foi o PT.
    Esse discurso vindo de uma pessoa de classe média alta!
    Nunca esperei!
    DECEPCIONADA.

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    • Diana disse:

      discurso!!!

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    • Carlos Amorim disse:

      Sorry. Não sou filiado ao PT nem votei no PT. Mas o fato é: foi a classe média alta e escolarizada que foi às ruas. E isto é bom. Só a pressão das ruas vai ,mudar alguma coisa neste país. Mas não entro na paranoia de que tudo está errado no governo.
      abs
      Camorim

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      • Diana disse:

        Obrigada pela resposta e tmb peço desculpa pela maneira que abordei, queria ter editado ou removido o comentário mas não consegui.

        A classe média alta é quem tem acesso a informação e formação, por isso é politizada e consiente do que se passou e se manifesta, agora convenhamos que a “elite caviar” tmb não foi a rua se manifestar a favor do seu partido.

        Agora entendi sua frase e concordo com sua afirmação de que não está td errado no governo PT, pois sou a favor e agradecida ao PT por ter acabo com a fome no Brasil e todos os programas sociais implementados.

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  3. Diana disse:

    *consciente

    Abs

    Diana

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