
Corre solta nas redes sociais a notícia de ameaças à vida de Jô Soares, depois que ele entrevistou a presidente Dilma Rousseff na biblioteca do Palácio da Alvorada, em Brasília, no dia 22 de junho. O encontro foi gravado e exibido pela TV Globo por volta da meia-noite. Foi um “Programa do Jô” especial, com mais de uma hora de duração, em horário em que a audiência popular é baixíssima. Teve “chamadas” no Jornal Nacional e em todos os intervalos da programação.
Os ataques começaram pela Internet, já na noite em que a entrevista foi levada ao ar. Em seguida, um grupo de xenófobos – ainda não identificado – fez uma enorme pichação na rua de Higienópolis (SP) em que vive o humorista. Xenofobia, pelos dicionários eletrônicos, é igual a racismo e intolerância. E é crime previsto pelo Código Penal. Quem viu a entrevista, como o locutor que vos fala, por obrigação profissional, porque foi chatíssima, sabe que não tinha nada demais. Dilma se comunica mal e suas frases são recheadas de números vazios de significado para o grande público. Nunca brilhou como Fernando Henrique ou Lula, os grandes comunicadores do período democrático.
No entanto, Jô Soares tratou a presidente com educação e respeito, como cabe a tal gênero de entrevista. Não a interrompeu sem motivo. Não fez muita graça, negando um pouco a sua condição de humorista. Mas – pecado capital na opinião dos radicais – deu a ela um espaço privilegiado de exposição pública, em um momento em que o governo é acuado pela crise econômica e pelas denúncias de corrupção.

Jô Soares se defende: “assustaram as crianças”. Reprodução da TV Globo.
O próprio Jô se defendeu, na última quarta-feira, utilizando o espaço de seu próprio programa: “(a pichação) assustou as crianças do bairro”. O jornalismo da TV Globo reagiu timidamente – se é que reagiu. Eu mesmo não vi nada. Algum gênio da lâmpada deve ter imaginado que defender o humorista seria defender a própria Dilma. Engano lamentável. Tratava-se da liberdade de informação. Consequência direta da crise, infelizmente, temos um país dividido. Com radicalismos cada vez mais frequentes em ambos os campos da disputa política.
Quem perde com isso? Nós, os bons, os ingênuos, aqueles que pagam impostos em dia, o público carente de informações despolitizadas (e claras) para entender o drama do país. E quem ganha com isso? Os radicais de todas as cores. Essa gente que quer ver o circo pegar fogo.
(PS: este artigo foi publicado originalmente em Notícias da TV/UOL, site comandado pelo jornalista Daniel Castro, onde obteve grande audiência. Aqui, se aproxima de mil leitores.)
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.