
Uma das irmãs de Hiromi Sato dá entrevista à TV Record, logo após a prisão do criminoso: “Estamos aliviados”.
“A sociedade brasileira, a polícia e o Judiciário precisam acabar com a impunidade nesse país. Precisamos acabar com a sensação da impunidade, que é coisa ainda pior. Esse Sérgio Gadelha zomba da Justiça. Precisa ser preso imediatamente. E é por isso que está aqui um delegado da centenária polícia paulista, para cumprir a ordem de prisão agora mesmo”.
Com essas palavras, visivelmente irritado, o desembargador Ricardo Tucunduva, da 6ª. Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, mandou o advogado Sérgio Brasil Gadelha de volta à prisão. “Esse Sérgio Gadelha”, como disse o magistrado, matou a própria mulher no apartamento do casal na Rua Pará, em Higienópolis, bairro nobre da capital paulista. Matou com as próprias mãos. O voto de Tucunduva obteve a unanimidade da corte. Um hora depois o advogado já estava preso. Seria um sonho se a Justiça fosse sempre assim.
Hiromi, uma nissei pequena e frágil, indefesa diante do agressor, foi torturada, agredida e espancada por um longo tempo. E ainda teria sido estrangulada. A violência foi tamanha, que motivou protestos de rua contra o miserável criminoso. Além disso, o assassino ficou com o corpo da mulher caído no chão do apartamento por pelo menos um dia. Não pediu socorro para Hiromi. Ficou sentado próximo ao cadáver, vendo TV.
Apanhado pela polícia em flagrante, ficou detido pouco mais de 30 horas. Por que? Um juiz do Tribunal do Júri, que apura crimes contra a vida, entendeu que o acusado não representava uma ameaça à sociedade ou ao bom andamento do processo penal. Imaginem: ele matou a mulher a socos e pontapés. É não apenas uma ameaça à segurança pública, mas à própria humanidade. Não foi esse o entendimento do juiz, que tem fama de benevolente.
O magistrado decretou a prisão preventiva do acusado até 2022, mas no mesmo despacho, contraditório, concedeu o benefício da “prisão domiciliar”. Solto, porque nesse país não se fiscaliza a prisão domiciliar, Gadelha passou a constranger testemunhas do caso. Inclusive uma das irmãs da mulher que ele matou. A acusação, através da promotora pública Solange Beretta da Silveira e do advogado da família Sato, Marco Aurélio Gonçalves Cruz, recorreu da decisão do “magistrado”. E ganhou. O assassino foi mandado para a prisão.
Foi ocupar uma “sala de estado-maior” em um regimento de cavalaria da Polícia Militar paulista, o 9 de Julho. Por que? Por ser advogado, o criminoso cruel e covarde tem direito à “prisão especial”, coisa anacrônica no Século 21. Um diploma universitário livra o sujeito da cela, não importando a qualidade do delito. Mesmo assim, a Defensoria Pública apresentou recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, alegando que não fora intimada para a decisão da 6ª. Câmara Criminal. Um detalhe técnico, na verdade um truque da defensoria.
Os ministros do STJ, baseados no princípio constitucional da garantia de ampla defesa, anularam a sentença do tribunal paulista. Ou seja: mandaram Sérgio Gadelha de volta ao apartamento que foi a cena do crime. Para horror dos seus vizinhos. O condomínio do prédio na Rua Pará está com uma ação de despejo contra ele, por anos de falta de pagamento das taxas condominiais.
Na tarde de ontem (13 ago), o caso foi novamente julgado pela 6ª. Câmara Criminal do TJ paulista. Uma perda de tempo e de dinheiro público. Os desembargadores, por unanimidade, devolveram Sérgio à prisão especial. O voto revoltado do desembargador Ricardo Tucunduva foi seguido por todos os outros magistrados, inclusive o presidente da corte.
A defesa de Gadelha se omitiu mais uma vez. Talvez preparando o próximo golpe. O Tribunal de Justiça decidiu notificar a defensoria pública e informar que os defensores, mesmo intimados, não apareceram porque não quiseram. O criminoso deve ir a júri popular no início do próximo ano.