
O horror em Paris: 129 mortos e 350 feridos.
No início da tarde desta segunda-feira (16 nov), a capital da França se transferiu de Paris para Versalhes, para dar lugar a uma reunião conjunta do Senado e da Assembleia Nacional. Foi a terceira vez em mais de um século e meio que uma coisa dessas aconteceu. O presidente François Hollande, em um discurso de 40 minutos de duração, ao vivo pela televisão em todo o mundo, deu a verdadeira dimensão da tempestade de fogo e horror que desabou sobre a França na última sexta-feira (13 nov).
A nação mais democrática do planeta, que praticamente inventou as liberdades individuais, declara estado de guerra contra o ISIS (“Estado Islâmico do Iraque e do Levante”, em inglês). Anuncia que vai criar novas leis e mexer na Constituição, de modo a poder invadir residências, realizar buscas e prisões sem ordem judicial. É uma mudança dramática para a democracia naquele país, forçada pelo terror a rever seus princípios baseados na ampla liberdade.

Franceses em estado de choque.
Esta foi a primeira grande vitória do Estado Islâmico em escala global. Atinge valores universais e obscurece a humanidade. O preço foi a morte de 129 inocentes no centro de Paris. Em ataques coordenados dos terroristas do ISIS, 350 pessoas ficaram feridas, quase uma centena em estado grave. E os extremistas eram apenas oito, com fuzis Kalashnikov, granadas e cinturões de bombas. Sete deles morreram. Pelo menos um conseguiu fugir do cenário macabro. Aparentemente, vários cidadãos franceses estiveram envolvidos nos atentados.
O governo francês também anunciou a abertura de 13.500 novas vagas para as forças de segurança. E proibiu baixas administrativas nas Forças Armadas até 2019. Pôs o Exército nas ruas e já prendeu mais de 120 suspeitos de ligação com grupos extremistas. Mas a derrota do Estado francês é evidente. Ao anunciar as medidas de exceção, o presidente Hollande, que amarga baixíssimos índices de popularidade, foi aplaudido de pé – e longamente – pelos 900 parlamentares franceses. De quebra, ele ainda revelou que está deslocando para o Mediterrâneo o maior porta-aviões francês, que vai triplicar o poder de fogo contra a milícia islâmica na Síria e no Iraque.

A cara do terror: jovens europeus atuam com o ISISS.
Quase simultaneamente, na reunião de cúpula do G20 (Turquia), Barak Obama fazia um discurso dúbio: continuaria com os ataques aéreos contra o Estado Islâmico, mas não colocaria tropas na Síria. É o mesmo que dizer: vai continuar tudo igual. O ISIS somente será derrotado por terra, com grandes divisões blindadas apoiadas por fogo aéreo e seguidas por infantaria. A conclusão é dos próprios generais do Pentágono, que falam no emprego de 200 ou 300 mil homens. Mas Obama, em fins d governo, não vai fazer nada disso.

O presidente François Hollande.
Infelizmente, a Europa deve se preparar para muitos outros ataques devastadores, inclusive por causa da migração em massa de refugiados. E o Estado Islâmico vai acumular vitórias, porque a estratégia da milícia extremista é levar as trevas e a barbárie a todo o mundo.
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
Sempre tenho comentado as matérias de Carlos Amorim neste blog, pois considero um dos espaços mais lúcidos da chamada globosfera brasileira. Também só tenho falado de Oriente Médio, uma região que acompanho politica e economicamente desde meados dos anos 1970, quando conheci pessoalmente o local e pude ver o que havia por trás do noticiário. Naqueles tempos as questões dessa região eram mascaradas pela batalha midiática da Guerra Fria. Entretanto, todas estas polêmicas intra-islamismo que se resolvem à bala já estavam presentes e os antagonistas saltando no pescoço uns dos outros.
Portanto, quero dizer que no Estado Islâmico é apenas um dos beligerantes nestas frentes. Seus maiores inimigos não são nem os cristãos nem os ocidentais, mas as seitas concorrentes. Melhor dizendo: na luta de nacionalidades, pois nessas antigas civilizações a religião é parte indissociável da identidade nacional de cada etnia. Entretanto, não é este o caso do Estado Islâmico, pois o recrutamento de muçulmanos europeizados muda um pouco esta configuração. Porém, esses neo-jihadistas são apenas uma massa de manobra, manipulados pelos líderes que efetivamente estão disputando o poder em suas terras e suas nacionalidades.
Neste sentido é que a ação do Estado Islâmico fora de suas fronteiras pode indicar um enfraquecimento dessa organização no mundo wahabita, cujo resultado é um corte nas verbas para sustentar seu exército e demais custos da causa. Um ponto forte do Estado Islâmico são a manutenção de limites geopolíticos. Suas fronteiras são um “fanatódromo”, Disneylândia de fundamentalistas europeus. Entretanto, ao atacar Paris os rapazes queimaram a raia. Podem ter feito isto para provocar reações entre seus financiadores, exigindo mais recursos para manter o front nos seus limites atuais. Certamente com a baixa dos preços do petróleo as finanças do ISIS entravam em processo de ajuste fiscal. Pode ser que os árabes paguem a conta, deixando a Europa em paz. Quanto custa?
Outra consequência desses fatos é o aperto contra a lavagem de dinheiro captados nessas contribuições. Aí efetivamente reside uma forte reação, no Brasil. À criminalização do terrorismo, pois ao entrar no clube das nações ricas (e ditas responsáveis) do mundo, o país teria que conter as remessas de brasileiros de origem árabe para o Oriente Médio, o que se faz legalmente no País. Isto aí já é outra história.
A verdade histórica é que tudo isto faz parte da Revolução Árabe, como chamou o herói médio-oriental T. E. Lawrence. Desde que os árabes perderam o poder na região com a extinção do Califado de Bagdá pelos mongóis de Kublai Kahn, no final das Cruzadas, os semitas perderam o poder nessa região, pois os mongóis foram sucedidos pelos turcos arianos, até serem derrotados pelos árabes de Houssein na Primeira Guerra Mundial. Desde então a política nesta região é um lenta escalada, degrau a degrau, para retomar a hegemonia árabe. O ISIS é um peão nesse xadrez.
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