O mistério de 4 de março: tropa da Aeronáutica impediu que Lula fosse levado para Curitiba. Coronel assumiu o controle do aeroporto de Congonhas e não deixou avião da PF decolar.

 

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Confusão na porta da delegacia da Polícia Federal no Aeroporto de Congonhas.

O mistério, cuidadosamente evitado pela grande mídia, cerca o noticiário em torno da detenção do ex-presidente Lula. Na sexta-feira 4 de março, quando ele foi levado de sua casa, em São Bernardo do Campo, para o Aeroporto de Congonhas, sob custódia da Polícia Federal e com mandado de condução expedido pelo juiz Sérgio Moro, o plano era embarcar o petista em um jatinho dos federais e levá-lo a Curitiba? Uma espécie de sequestro? Até agora – uma semana mais tarde – ninguém sabe explicar que aconteceu.

Entre os grandes jornais do país, aparentemente só a Folha de S. Paulo tocou no assunto. Foi na coluna de Jânio de Freitas, com o título de “O plano obscuro” (edição online de 10 de março). Parece incrível que algo assim, se de fato aconteceu, tenha escapado às primeiras páginas e aos telejornais. Nas redes sociais e na blogosfera pululam as informações a respeito desse episódio misterioso. O que de fato teria acontecido?

Com base no texto da Folha e no noticiário da Web, reconstituo o que teria ocorrido:

Depois de Lula ser apanhado em casa, os agentes da PF percorreram de carro os 25 quilômetros entre São Bernardo do Campo e o Aeroporto de Congonhas, onde um jatinho esperava o grupo na área destinada a autoridades. Eram mais de 10 policiais e procuradores. Alguns dizem que eram mais de 20, incluindo uma força de operações especiais uniformizada e fortemente armada. Todo esse pessoal, levando o ex-presidente, se dirigiu à área reservada do aeroporto, considerada zona militar por questões de segurança. Uma área controlada pela Aeronáutica. Os militares estranharam a movimentação de gente armada e bloquearam a passagem dos agentes. O coronel comandante da base, cujo nome não foi revelado, foi chamado às pressas. Todo o efetivo da Aeronáutica em Congonhas foi mobilizado.

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O jornalista Jânio de Freitas.

Ao saber que os federais estavam conduzindo um ex-presidente da República, quis saber onde estava o mandado de prisão e o plano de voo do jatinho. Não havia nenhum dos dois. Resultado: cercou com tropa armada os policiais e promotores federais e mandou bloquear a pista. O coronel teria avisado a administração de Congonhas que estava assumindo, naquele momento, o controle do aeroporto. Também teria comunicado ao grupo que detinha Lula: “Vocês sabem o que estão fazendo com um ex-presidente? Daqui vocês não passam!”.

Impedidos pelo comandante da base, os homens da Lava-Jato não tiveram alternativa: interrogaram Lula ali mesmo, numa sala VIP (durante três horas) e o libertaram a seguir. No entanto, a Aeronáutica não confirma essa versão dos fatos. Mas também não desmente. A PF e os promotores também não. E o próprio Lula não citou o episódio na coletiva que deu após ser libertado. Houve um acordo? Por que Lula foi levado ao aeroporto e não à sede da PF, no bairro paulista da Lapa? E o juiz Sérgio Moro, disse alguma coisa? Não.

Ao que tudo indica, o episódio vai ficar para os historiadores. Talvez daqui a dez anos se saiba o que de fato aconteceu naquela manhã de sexta-feira.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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18 respostas para O mistério de 4 de março: tropa da Aeronáutica impediu que Lula fosse levado para Curitiba. Coronel assumiu o controle do aeroporto de Congonhas e não deixou avião da PF decolar.

  1. José Antonio Severo disse:

    Amorim: Sem entrar e nem discutir o mérito, apenas comento achar fantasiosa esta hipótese. Quem é do ramo sabe que um aeroporto não é uma casa da Mãe Joana, aonde cada um chega e faz o que quer. Pelo contrário do que se falou, acho que estava tudo acertado com as regulamentações. Abraço
    .

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    • Carlos Amorim disse:

      Severo,
      obrigado pelo comentário. E continue participando do nosso site.
      Agora: os acontecimentos do 4 de março não foram suficientemente explicados. Particularmente, ninguém dá conta do fato de que Lula foi levado ao aeroporto. Não seria local adequado para um depoimento.
      Abs
      Camorim

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  2. Dian disse:

    Teoria da conspiração para sequestrar a alma mais honesta do Brasil… lol

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  3. Caro Amorim, cuidado para não ser pego pelos “Coronéis Oligarcas” desta Terra Brasilis e fazerem com Você o que o braço armado do PSDB/PMDB fizeram com o jornalista e o blogueiro de MG, no caso A Lista de Furnas. Um abraço e Sorte!

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  4. Luiz disse:

    Não acredito nisso, até porque todo avião tem que ter um plano de voo por medidas de segurança, tanto da tripulação com do sistema de controle de trafego aéreo.

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    • johnny disse:

      Talvez seja justamente por isso que o jato não pode decolar, some um jato na obscuridade a serviço de Moro e a condução coercitiva de um ex-presidente e o que teremos é uma tentativa de sequestro frustrada por um comandante.

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  5. ANTONIO CHAVES disse:

    O COMANDANTE E SEUS COMANDADOS SÃO HERÓIS LEGALISTAS, MERECEM PROMOÇÕES PARA POSTOS SUPERIORES.
    VIVA A COERÊNCIA E LEALDADE A LEI!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    ANTONIO CHAVES
    RIO DE JANEIRO.-RJ

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  6. ze disse:

    Será que a “compra” dos caças suecos interferiu ?

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  7. Roberto carlos tomaz disse:

    É tudo muito obscuro. Mais o que esta acontecendo ta fazendo com que muitas pessoas deixem de assistir telejornais e etc… estão plantando a discrença no judiciário nos MPs em fim estamos perdendo a fé nas instituiçoes quanto a sergio moro chega ser nojento! E sei que tem muitos moro por aí a fora. Se fosse mais jovem sairia do meu PAÍS

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  8. Marisa disse:

    Não duvido de nada pois nesse nosso Brasil tudo pode, só não podem dar vida digna para os menos favorecidos, ou seja aqui a lei é vc vale o que tem e quanto mai tem mais quer, são poucos com muito e muitos com pouco. Só Deus para dar jeito nesta falta de vergonha nos representantes do povo.

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  9. Precisamos entender que o país está envolvido em golpe que perdura a mais de três anos, por tanto não me causa estranheza esse artigo aqui publicado haja vista que vivemos em um estado de exceção praticados por parte do executivo, legislativo e judiciário em atendimento a interesses obscuros defendido por uma elite que não quer uma distribuição de renda que atenda aos anseios do povo brasileiro, em proteção as suas fortunas nem que com isso possa entregar de bandeja o nosso país ao capital estrangeiro. Acredito sim, nessa probabilidade.

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  10. jorge disse:

    Sera que faltava esta cena para depois colocar no filme “Com o Moro ninguém pode”.?

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  11. SEQUESTRO DE CIVIS….mudou de nome, agora é chamado de “condução coercitiva” voces ou são desinformados no direito, ou tem medo ou compactuam(essa é forte), todos operadores do direito sabem que a condição “sine qua non” para que ocorra a “coercitiva” é a “ausencia injustificada no ato designado previamente e da qual ele estava intimado para comparecer” de resto, é incabível a medida.
    SEQUESTRO DE CIVIS….Estado de Exceção…….Fascismo Puro…..judiciário maçom sionista.

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  12. Pingback: Artigo publicado neste site em março do ano passado provoca explosão de leitores agora. Foi um texto tentando explicar o que poderia ter acontecido com Lula ao sofrer a famosa condução coercitiva por ordem de Sérgio Moro. | Carlos Amorim

  13. Lafaiete Spínola disse:

    Proliferam discussões, teorias, explicando nossas mazelas.

    Mas, o mais importante: Não nos unimos por algo simples e viável, um projeto aceitável e esperado pelo nosso povo. Converse com a nossa população e verá que isso uniria o povo, permitindo um projeto de nação!
    ABRA O LINK:

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