
Suspeitos do sequestro. Foto da DAS.
Na manhã da sexta-feira 22 de julho, Aparecida Schunk, 67 anos, esperava receber uma encomenda em casa, no bairro de Interlagos, extremo sul de São Paulo. É um bairro só de casas, ruas arborizadas, quase bucólico, afastado da confusão da metrópole. Ela não estranhou quando dois homens bateram à porta carregando um pacote. Esperava mesmo a entrega. Eram os sequestradores. Aparecida é mãe de Fátima, 38 anos, que em 2012 se casou com o poderoso inglês dirigente da Formula 1, Bernie Ecclestone, 47 anos mais velho do que ela. Em 2015, Fátima se tornou cidadã britânica, jurando lealdade à rainha Elizabeth II. Até a fatídica sexta-feira, era tudo um mar de rosas.

Fátima, mulher do dirigente da Formula 1, após sequestro da mãe.
Os sequestradores levaram Dona Aparecida para uma modesta casa em Cotia, na região metropolitana paulista, onde o bando pagava em dinheiro – e adiantado – 430 reais de aluguel. Também pagava outros 30 reais pelo uso da garagem. Por email, endereçado a familiares da vítima, foi exigido um resgate astronômico, impossível de pagar. Depois, conformados, os sequestradores fixaram a quantia em 120 milhões de reais. O maior resgate já exigido no Brasil. A polícia paulista usou moderníssimos sistemas de rastreamento eletrônico na Internet, para seguir a pista dos emails. Provavelmente, contou com a colaboração da empresa operadora do portal de mensagens. Localizada a fonte do pedido de resgate na Web, os investigadores levantaram as comunicações telefônicas (celular e WatsApp) daquela pessoa. A polícia consegue fazer isso de um modo que não vou explicar aqui, porque pode ser útil em outros casos. Mas é coisa corriqueira.
O líder do bando se comunicava com várias pessoas. Mas duas delas estavam no Jardim São Miguel, localidade de baixa renda em Cotia. O autor dos emails também estava em Cotia, só que na parte rica do município, a Granja Vianna, onde vive gente famosa, artistas, gente de televisão e empresários. Na madrugada de ontem (domingo, 31 de jul), a Divisão Antissequestro estourou o cativeiro e libertou Dona Aparecida. Hoje de manhã, pegou o chefe da quadrilha. Quem? O empresário e piloto de helicóptero Jorge Eurico da Silva Faria, que o governo de São Paulo acusa de ser o mentor do crime. Jorge teria contratado dois bandidos profissionais para o sequestro – e as autoridades acreditam que pelo menos outras 6 pessoas estejam envolvidas no sequestro.

Piloto e empresário, acusado do sequestro.
Jorge Faria é um empresário, dono da JF Empreendimentos, uma empresa que atuou fornecendo serviços de helicóptero para os eventos da Formula 1 em São Paulo. O GP Brasil acontece sempre em novembro e é uma das últimas provas do campeonato mundial da categoria, transmitida com exclusividade pela TV Globo. Jorge também prestava serviços a Bernie Ecclestone e à família brasileira dele, quando estava no Brasil. O secretário da segurança paulista, Mágino Alves, disse aos jornalistas que o sujeito conhecia a rotina da família, da qual “era íntimo”. Em uma sucinta declaração às TVs, que durou apenas 32 segundos, após a prisão, o piloto disse que não conhecia os sequestradores e que não tinha vínculos de amizade com a família da vítima. Menos ainda com Bernie Ecclestone.
O governador paulista, Geraldo Alckmin, pegando uma carona na repercussão mundial do sequestro, declarou em entrevista coletiva que o resultado da ação policial demonstra que esse tipo de ação criminosa não compensa. Será? Aqui no site, mesmo sob o silêncio da grande mídia, na semana passada noticiamos o sequestro.