
Santos e o comandante das FARCs: abraço histórico em Cartagena. Imagem do portal AFP.
No próximo domingo (2 out), um referendo popular vai confirmar o acordo de paz assinado há dois dias pelo governo de Juan Manuel Santos e as FARCs. As pesquisas de opinião garantem: 67% dos colombianos apoiam o tratado, que acaba com meio século de violência naquele país. A guerra civil provocou 310 mil mortes (220 mil mortos oficiais e 90 mil desaparecidos), além de um número indeterminado de feridos. Com uma população atual de 49 milhões de pessoas, há 6,5 milhões de refugiados internos. Uma crise muito maior do que a da Síria. Vinte mil pessoas foram sequestradas. Foi o maior conflito no continente desde o fim da Guerra do Paraguai.
Nos governos FHC, Lula e Dilma, o Brasil teve importante papel em várias tentativas de conciliação e ajuda humanitária. As nossas Forças Armadas realizaram uma série de missões na Colômbia, inclusive participando de resgates de reféns, sob supervisão da ONU. A presença brasileira era vista como fator importante na pacificação do país vizinho. Agora, porém, quando é firmado o acordo de paz, nossa diplomacia foi tímida e quase desimportante. Muitos observadores achavam que o Brasil, na qualidade de maior nação da região, seria uma espécie de fiador do tratado. Deveria integrar o grupo internacional de supervisores. Mas não encontrei essa notícia em lugar nenhum.
O presidente Michel Temer, que prometera ao colombiano Manuel Santos estar na assinatura do acordo de paz, não foi. Mandou José Serra, seu Ministro das Relações Exteriores. Após a cerimônia, que reuniu 15 Chefes de Estado e 2.500 convidados notáveis, Serra declarou aos jornalistas: “Este é o fim do começo”, frase famosa que tomou emprestada do primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, ao final da Segunda Guerra Mundial. E foi só isso.

As FARCs vão entregar as armas a supervisores internacionais. Imagem: FARC-EP.
O distanciamento da diplomacia brasileira no episódio mostra uma mudança de rumos no Itamaraty. Estamos nos afastando da solidariedade latino-americana, tão afirmada pelos governos anteriores, e nos aproximado dos grandes centros do poder, especialmente dos Estados Unidos e da Europa. Podemos ter vantagens comerciais com essa posição, mas abrimos mão de um papel de liderança continental.
O acordo de paz foi firmado com apoio de americanos e cubanos, com as benditas do Papa Francisco. Temer parece ter desdenhado o episódio, apostado em permanecer em Brasília e aprovar suas medidas de ajuste fiscal. Perdeu uma chance de entrar para a história. Cada país teme o que merece.
Nota: no domingo, o povo colombiano foi urnas e rejeitou o acordo de paz. Por uma diferença de aproximadamente 58 mil votos, o plebiscito decidiu que a guerra vai continuar. Observadores militares acreditam que o conflito no país não terá solução nos próximos 25 anos.
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
Temer temia(sic) uma cena constrangedora com Maduro. Com isto perdeu a oportunidade de apresentar-se como uma ator da política externa sul-americana.
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É isso mesmo, caro Severo. Perdeu uma chance única.
abs
Camorim .
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