O crime organizado pretende a tomada do poder. Na comunidade pobre ou no Senado Federal, o que importa é assumir o controle. Quando vemos o que se passa no país, parece uma conclusão adequada.  

crime-organizado-01

                                   A sociedade brasileira está criminalizada de alto a baixo. A violência doméstica tem índices alarmantes. Os números de abandono e abuso de crianças se comparam à Índia e ao Paquistão. Temos trabalhadores assemelhados à condição de escravos. Muitos servindo a marcas mundiais. A maioria das mulheres presas tem penas relacionadas ao tráfico de drogas, porque substituíram maridos e companheiros no mundo do crime. Gays ainda são espancados até a morte. A corrupção começa no guarda de trânsito e vai até os altos escalões da República, como disse, certa vez, Fernando Henrique Cardoso, um sociólogo que preferiu sugerir: “Esqueçam o que escrevi”.

                                   Nesse país de meu Deus, o trânsito mata quase tanto quanto a guerra na Síria, no mesmo período. Temos uma média superior a 50 mil homicídios por ano, nas últimas décadas, metade dos quais são execuções sumárias com armas de fogo. O pobre tem mais medo da polícia do que dos criminosos. O cidadão comum não recorre à justiça porque sabe que não vai dar em nada. A Receita Federal informa: a cada ano, 200 bilhões de reais em impostos são sonegados. A banca cobra até 480% de juros anuais, quando a taxa oficial de juros é de 14%. Não seria falta de governo? O Ministério Público Federal diz que a corrupção pode atingir outros 200 bilhões de reais por ano. É um país bandido!

                                   Bandos de políticos, empresários e advogados tramam rotineiramente formas de burlar as leis e obter vantagens. Políticos têm foro privilegiado, como se servir ao público fosse um privilégio. Como diria Nelson Rodrigues: “A vida como ela é”. E a opinião pública, ingênua como sempre, reclama leis mais duras. Aumentar o encarceramento, inclusive de crianças, quando não temos onde coloca-las. Se houvesse um plebiscito sobre a pena de morte, seria aprovado. A mesma opinião pública continua elegendo os trapalhões e os oportunistas, para não falar dos ladrões. Aquela gente que rouba a merenda da escola pública. Os canalhas são eleitos ao sabor do poder econômico, sem que as suas biografias (ou a ficha penal) sejam avaliadas. Fica tudo a cargo da propaganda milionária.

                                   A Câmara dos Deputados acaba de aprovar a limitação do investimento público, equiparado à inflação do ano anterior, por meio da PEC 241. Temer e seus apoiadores comemoram a “vitória” no Parlamento. As vítimas serão a saúde, a educação, a pesquisa científica, a habitação popular e a segurança. Sem falar em coisas como o Bolsa Família, que a classe  média considera “dar dinheiro a preguiçosos”.  Por que não propuseram uma PEC para limitar o juro bancário, que faria enorme diferença na economia? Que tal cinco vezes a taxa oficial, para compensar o trabalho e o risco dos bancos? Não, isso não! Querem anistiar o caixa 2 de campanhas políticas. Por que não anistiar a dívida pública de micro e pequenas empresas com o governo, responsáveis que são pelo maior nível de emprego no Brasil ensolarado? São perguntas sem respostas. Mas revelam o caráter deste governo: não vai mudar nada, só vai favorecer o próprio governo e o grande capital. E quer proteger seus integrantes e aliados.

                                   E vocês, acham que isso tudo não representa a atuação do crime organizado, em busca do poder absoluto?         

 

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
Esse post foi publicado em Politica e sociedade. Bookmark o link permanente.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s