Sérgio Brasil Gadelha morre antes de ir a julgamento. O advogado atacou a mulher, Hiromi Sato, a socos e pontapés, antes de estrangular a vítima no próprio apartamento do casal. Estava em uma absurda “prisão domiciliar”, apesar da gravidade do crime. A justiça não pôde alcançar o criminoso cruel: ataque cardíaco fulminante.

sergio gadelha

Sérgio Gadelha em foto da Folha de S. Paulo. Morreu antes da justiça.

                                    Faltava poucos meses para completar quatro anos desde o crime bárbaro, cometido em um dos endereços mais nobres da capital paulista, a Rua Pará, no tradicional bairro de Higienópolis, centro de São Paulo. Ali vivem profissionais de sucesso. empresários e artstas, como Jô Soares. Em março de 2013, durante o fim de semana, o advogado Sérgio Brasil Gadelha agrediu violentamente a companheira. Bateu tanto na secretária-executiva Hiromi Sato, que os legistas tiveram dificuldade para determinar a causa da morte. Finalmente, após exumação do corpo, solicitada pelo Ministério Público paulista, o IML atestou múltiplas agressões e estrangulamento.

                                   O assassino, preso em flagrante, estava sentado no sofá, assistindo à TV, quando a polícia chegou. O corpo da pequena Hiromi estava caído no quarto do casal. A médica do SAMU, que atendeu à ocorrência, manteve com o criminoso um diálogo surreal: “O senhor me desculpe, acho que errei de apartamento”. Sérgio Gadelha, impassível, respondeu: “É aqui mesmo, ela está ali no quarto”. Não para por aí. O sargento da PM, que efetuou a prisão em flagrante, depôs à polícia e à justiça: “Nunca vi uma coisa igual a essa, ele estava tranquilo”. Levado ao distrito policial do bairro, disse ao delegado: “Doutor, passei dos limites, dei um mata- leão”.

                                   Gadelha afirmou que amava a vítima, supostamente um crime passional, “por amor”. Tinha ciúmes da pequena nissei, que não pesava mais de 50 quilos e tinha menos de 1,60 de altura. O agressor tinha duas vezes (ou mais) as dimensões de Hiromi. Ficou uns dois dias detido, até que um juiz afirmou que ele poderia responder ao processo em “prisão domiciliar”. Aparentemente, era um idoso indefeso e inofensivo à sociedade. Tinha 74 anos, seis a menos do que determina a lei da prisão domiciliar. Mas o juiz foi condescendente. Esse Gadelha não representava uma ameaça à segurança pública. Acho que era pior: ele representava uma ameaça à humanidade.

                                   Entrou e saiu da cadeia ao menos duas vezes, até que uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, assegurou a Gadelha o “direito” de continuar vivendo na cena do crime, sob o horror dos seus vizinhos. A morte violenta de Hiromi Sato provocou manifestações de rua de amigos, parentes e movimentos de defesa das mulheres. Ocupou a mídia nacional – e a Veja/São Paulo o chamou de “cruel e covarde” em matéria de capa. Nem tudo isso somado o mandou para atrás das grades. Gadelha ameaçou testemunhas, incluindo irmãs da vítima, que obtiveram ordem judicial restritiva. E continuou “solto”, porque prisão domiciliar não tem fiscalização.

                                   O advogado Gadelha processou, inclusive, este autor: calúnia, injúria e difamação, por ter publicado neste site artigos a respeito do crime. A justiça paulista negou provimento à ação do criminoso, por improcedência. Mas Gadelha queria o bloqueio judicial dos meus bens, para garantir uma “reparação”. Quem me dera ter bens para garantir reparação a um criminoso cruel e ambicioso. Mandava pedidos de amizade pelas redes sociais, que me incomodavam profundamente. Ele nunca mostrou arrependimento pelo crime. E a justiça, no meu caso, a partir de uma defesa brilhante do advogado Marco Aurélio Cruz, mostrou que a demanda era absurda. Até recentemente, antes de sofrer uma condenação do destino, continuava a me incomodar pela Internet. Entendia como se fosse uma forma de dizer: “Estou aqui e vou incomodá-lo ‘. Quis uma outra justiça o interrompesse.

                                   Lamento que o homicídio de Hiromi Sato fique impune. Temos uma justiça lerda e parcial. Se fosse gente pobre, negra e favelada, alguém estaria sob barras. No caso de Higienópolis, a solução foi dada pelo destino.

 

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
Esse post foi publicado em Politica e sociedade. Bookmark o link permanente.

4 respostas para Sérgio Brasil Gadelha morre antes de ir a julgamento. O advogado atacou a mulher, Hiromi Sato, a socos e pontapés, antes de estrangular a vítima no próprio apartamento do casal. Estava em uma absurda “prisão domiciliar”, apesar da gravidade do crime. A justiça não pôde alcançar o criminoso cruel: ataque cardíaco fulminante.

  1. lb57 disse:

    Dificil confiar numa justiça que insiste em permanecer assim tão cega algumas vezes!Lamentável.

    Curtir

  2. Odete Lopes disse:

    ” Se fosse gente pobre, negra e favelada, alguém estaria sob barras. No caso de Higienópolis, a solução foi dada pelo destino.” E completo prezado Carlos, se fosse mulher o destino seria outro. Vai tarde ! Espero que a família tenha um pouco de paz !

    Curtir

  3. Quanta hipocrisia e incompetência nesta juizada toda.

    Curtir

  4. emilia disse:

    A justiça dos homens é falha,haja vista que há uma venda em seus olhos….mas a justiça divina é justa!

    Curtir

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s