Ataque de Michel Temer e Gilmar Mendes ao Procurador da República é a senha para uma ampla reação política contra a Lava Jato e os investigadores da maior devassa de corrupção da história do país. O tom agressivo corresponde à gravidade das acusações.

                                    O presidente Temer fez pronunciamento público sobre as denúncias de corrupção contra ele, apresentadas pela PGR: teria tentado extorquir meio bilhão de reais dos donos da JBS, em troca de favores públicos ao maior açougue do mundo, um dos principais financiadores de campanhas políticas dos últimos dez anos no Brasil. Temer transformou uma sala do Palácio do Planalto em palanque eleitoral. Reuniu uns 50 apoiadores e amigos. Atacou o procurador Rodrigo Janot, insinuando que teria recebido milhões de reais em troca da delação premiada dos irmãos Batista, proprietários da Friboi. Na imagem da TV, estava entre patético e temeroso, diante da consistência das denúncias. Ao final, foi saudado com gritos de “bravo, bravo” pela claque que reuniu no espaço público de governo.

                                   No dia seguinte, em sessão do Supremo Tribunal Federal, o ministro Gilmar Mendes secundou os ataques contra a PGR, por meio de uma intrincada elaboração jurídica, tentando demonstrar que o Ministério Público estava reescrevendo o Código Penal Brasileiro. Mendes também disparou contra o juiz Sérgio Moro, dizendo que há “um novo Direito em Curitiba”. Aparentemente, tudo articulado. No STF, a posição de Temer está amplamente rejeitada. Apesar de que o julgamento prossegue por mais um dia.

                                   Mas o que importa é o seguinte: tanto Temer quando Gilmar Mendes mandaram uma senha para a maioria conservadora no Congresso: resistência total contra a Lava Jato e os investigadores da corrupção. Quer dizer que vão ressuscitar o projeto de lei de abuso de autoridade, que visa constranger delegados federais, promotores e juízes. E – além disso – aprovar uma anistia ao caixa 2 de campanhas. Com isso, esvazia-se a maioria das acusações criminais que atingem um terço de deputados e senadores. A reação é a prioridade, suplantando as ditas reformas sociais que iriam   salvar o país. Aliás, salvar Temer é a prioridade total. Se ele cair, caem todos. É por isso que o Congresso vai rejeitar as denúncias da PGR. Liminarmente. Vai rejeitar tudo. Inclusive os processos de cassação dos integrantes da base governista, como Aécio Neves, por meio de um amplo acordo. A posição do PSDB, inclusive, é de envergonhar as pedras do Pátio do Colégio.

                                    Para processar criminalmente o presidente Temer, é preciso aprovação da Câmara. Não vai acontecer. Para pegar os cúmplices, será ainda mais complicado. Resta o populacho em geral ocupar as ruas. Parece improvável. Vamos ver o que haverá no dia 30, com a convocação de uma greve geral pelas centrais sindicais.

                                   Salve chuva e salve engano, Temer vai até 2018. E país que se dane!              

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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