
Na porta do sindicato. Imagem TVT.
O ex-presidente, após a decretação da prisão, foi buscar abrigo entre sindicalistas, movimentos sociais e militantes do PT em São Bernardo do Campo. Milhares atenderam à convocação de impedir a execução do mandado de Sérgio Moro. Lula e o PT foram surpreendidos pela velocidade da reação do magistrado de Curitiba, o xerife da Lava Jato. Enquanto os advogados de defesa conversavam, Moro atropelou os prazos legais e mandou prender.
Lula e o PT acreditavam que ainda poderiam apresentar embargos dos embargos e coisas que tais. Mas o juiz atropelador entendeu que a recusa do STF ao habeas corpus do metalúrgico nordestino, duas vezes presidente do Brasil, transmitida ao vivo pela TV, tornava o feito um fato público e notório. O TRF-4, a segunda instância do processo, achou o mesmo. E autorizou Moro a agir, antes mesmo da publicação da decisão do STF. Daí adiante, a coisa se complica.
Lula não se entregou. Apoiado por milhares em São Bernardo, desobedeceu. Para evitar um grave conflito, com cenas de violência que correriam o mundo, as autoridades resolveram esperar. Mas há negociações que a gente não entende muito bem. Lula evitou subir no carro de som e fazer um discurso que poderia ser entendido como uma senha para a resistência radical. Certamente, resultaria em conflitos de rua.
Como tem um instinto conciliador (“Lulinha Paz e Amor”, slogan da campanha de 2002), preferiu jogar um jogo de paciência. A polícia não poderia (ou não deveria) invadir o sindicato para prendê-lo, sob pena de martiriza-lo. E ele não iria se render, sob pena de desmobilizar a militância. Sinuca de bico. No interior do sindicato, segmentos mais radicalizados do PT queriam o chamamento à resistência. A ala parlamentar do partido (e os advogados) argumentavam que Lula é um estadista, mundialmente reconhecido, e não poderia romper a estrutura jurídica do país.

O metalúrgico nos anos 1980;
Em política, quando há um impasse, é melhor esperar mais um dia.
Fato: Lula será preso, amanhã ou depois. Ele queria se entregar na segunda-feira (9 abril), mas a Polícia Federal recusou a proposta. Deve se render amanhã, sábado, após uma missa que comemora os 68 anos que Dona Maria Letícia faria nesta data. Vai haver um grande comparecimento ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde será a celebração. A prisão (ou a entrega) pode acontecer em seguida, em clima de grande comoção. E ele, finalmente, fará um pronunciamento público.
Enfim, nos próximos dias, haverá uma forte alteração no quadro político e eleitoral. Em qual direção? Os historiadores do futuro é que devem comentar.
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.