Segurança será tema central da campanha presidencial. O país que mais mata no mundo deseja um projeto contra a violência. E os candidatos, sabem o que fazer? Não!

moro e aecio

Uma justiça desigual. Foto portal IstoÉ.

                                   Este país ensolarado, às margens do Atlântico Sul, forrado de florestas, terra do samba e do futebol, quer dormir em paz. Mas os brasileirinhos não conseguem conciliar o sono ao som dos tiroteios. Os números oficiais informam que matamos 61,5 mil pessoas por ano (2016). Além disso, há mais 47 mil mortos no trânsito e 35 mil desaparecidos. A cada 12 meses registram-se 6 milhões de assaltos à mão armada. Um estupro a cada 15 minutos.

                                   O tráfico de cocaína é o segundo maior do planeta. E, no crack, somos campeões absolutos. Também somos campeões em fraudes bancárias e crimes cibernéticos, um por minuto. Batemos recordes mundiais em assaltos aos cofres públicos. O mundo diz que o Patropi é considerado um dos países mais corruptos, com o envolvimento direto de governantes, políticos e empresários que controlam o grande capital. A Receita Federal e o Ministério Público estimam que a sonegação fiscal e a corrupção podem alcançar a cifra absurda de 200 bilhões de reais/ano. Uma única empresa de bebidas teria sonegado 5 bilhões em impostos. Sem falar nas empreiteiras, montadoras de veículos e os bancos. Ah, sim: as grandes empresas de comunicação.

                                   Neste país bandido, o cidadão tem medo de ir à farmácia ou ao mercado, diariamente saqueados por adolescentes armados. O sinal de trânsito fecha e o medo arrepia os motoristas. Apenas 3% dos crimes cometidos resultam em condenações. No Rio e em São Paulo, há quase 300 mil mandados de prisão a serem cumpridos. E olha que temos 100 milhões de processos nos tribunais. O sistema prisional também está falido: o sujeito entra batedor de carteiras e sai chefe de quadrilhas ligadas às facções criminosas.

                                   Enquanto tudo isso acontece, as altas cortes liberam o pessoal do colarinho branco, alegando valores humanitários e respeito às leis. A execução penal segue uma dissimetria de classe: cadeia é para pobre, preto e favelado. Temos algo como 700 mil prisioneiros, superlotando “masmorras medievais”, como já assentou a Suprema Corte. E 42% deles nunca foram condenados. Alguns jamais viram um juiz. Pior: parte desses miseráveis já cumpriu as penas e continua atrás das grades. Um mutirão recente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) libertou 22 mil dessas infelizes.

                                   Só que Aécio Neves, Paulo Maluf, Romero Jucá e uma infinidade de outros foram salvos por decurso de prazo, porque os crimes deles prescreveram. Ou seja: as penas seriam menores do que o tempo decorrido na investigação e no processo. Simples assim! No caso de Maluf, coitado, foi para a luxuosa mansão nos jardins paulistas porque estava velho e doente. Este é um ícone da impunidade. Mas o bandidinho vagabundo, preso com 40 gramas de maconha, está em cana. Ele não pode pagar advogados. Veja só, leitor: os tribunais que condenaram Lula atropelaram todos os prazos. No TRF-4, o julgamento foi colocado à frente de centenas de outros processos. É assim que funciona.

                                   O brasileirinho anda esperando o surgimento de um messias, um salvador da pátria, que vá apresentar soluções para a questão da violência urbana, do crime organizado e da corrupção. Ainda não apareceu. A não ser o maluco do Bolsonaro, que disse que se poderia bombardear os pontos de venda de drogas na Rocinha, como se não houvessem uns 100 mil civis ao redor.

                                   Os candidatos à Presidência da República estão devendo aos eleitores um projeto concreto de segurança pública. Eles sabem o que fazer? Não! O desastre da intervenção federal no Rio é prova disto. O Brasil já teve duas políticas de segurança nas últimas muitas décadas. A primeira foi no Estado Novo (1937), a ditadura de Getúlio Vargas, cujo objetivo era proteger o governo e a própria figura do ditador. A segunda foi a Lei de Segurança Nacional (LSN) do regime militar (1964-1985), também voltada à proteção do estado de exceção.

                                   Agora, trata-se de proteger o cidadão. E nenhum deles sabe o que fazer. Estamos entregues ao desmando. Vivemos em cidades sem lei. Este é – miseravelmente – o país do medo. O medo da violência física e do desrespeito à cidadania. No país,   os direitos individuais começam a partir de uma renda familiar de 10 salários mínimos. Abaixo disto é um salve-se quem puder.     

                                  

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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