O fiasco da intervenção no Rio: o número de tiroteios na Cidade Maravilhosa aumentou 86% em relação ao mesmo período do ano passado. Um a cada 40 minutos.

violencia-no-es-01

Soldado do Exército faz papel de polícia. Foto Agência Brasil.

 

                                   A intervenção federal no Rio de Janeiro, com militares assumindo o comando do combate à criminalidade, é um fracasso sem tamanho. As organizações civis que monitoram a violência no estado acabam de divulgar um levantamento que mostra forte aumento dos índices de ações criminosas. Só os enfrentamentos armados aumentaram 86%. Tornaram-se uma rotina tão banal quanto trágica. Os militares sequer apresentaram um plano de operações, uma especialidade deles.

                                   Na verdade, as Forças Armadas não queriam participar da farsa de intervenção montada ardilosamente pelo governo de Michel Temer. Diante da perda vertiginosa de popularidade (é o presidente pior avaliado da história), em face de derrotas importantes no Congresso, a trinca governante (Temer, Moreira Franco e Padilha) urdiu um novo golpe. Como não conseguiriam aprovar uma reforma da previdência conta os interesses dos trabalhadores, em ano eleitoral, inventaram a intervenção.

                                   A tal reforma tinha como foco o interesse do patronato. Já que não daria certo, a troika governante optou pela intervenção no Rio. Com um dos estados da federação sob intervenção, não  é possível aprovar emendas à Constituição, como no caso da previdência. Saída pela direita. Um artifício legal para evitar uma derrota fragorosa no Congresso.

                                   Evidentemente, usados como massa de manobra, os militares não ficaram nada satisfeitos. Custaram a reagir. Ganharam tempo para que surgisse um consenso no Estado Maior. Minhas fontes em uniforme dão conta de que a decisão foi não desenvolver operações de combate contra traficantes e milicianos, por causa dos danos colaterais. Esse tipo de enfrentamento produziria danos à imagem das Força Armadas. No Brasil de hoje, as Forças Armadas são as instituições melhor avaliadas pelo povo brasileiro, junto com bombeiros e paramédicos. Por que danificar essa imagem a favor de um governo supostamente corrupto, acusado de crime organizado?

                                   Os militares optaram por uma intervenção administrativa, resolvendo problemas, arrumando o fluxo de caixa. Mais dinheiro e menos balas. Até porque o Exército não tem munição para dois meses de combate aberto. Em muitos casos, os recrutas são treinados com carabinas de chumbinho. Essas Forças Armadas, desprezadas pelos governos civis pós-ditadura, não recebem o apoio necessário para defender o país. E agora foram convocadas por um governo bastardo para encobrir um grande desastre político chamado Temer.

                                   Pouca gente em nosso país perde tempo refletindo sobre geopolítica. Exemplo: somos vizinhos de dois países, Colômbia e Venezuela, que mostram condições ameaçadoras. Outro exemplo: parte das reservas do pré-sal estão além das 200 milhas de águas territoriais na costa brasileira. Podem ser questionadas por potências estrangeiras. O Brasil deveria ter uma força militar de dissuasão. Não tem! Ainda não!       

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
Esse post foi publicado em Politica e sociedade. Bookmark o link permanente.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s