
Comandante do Exército diz que combate ao vírus é a grande missão. Foto de divulgação.
No patético discurso que fez à Nação, querendo encerrar a quarentena contra o vírus, o presidente Jair Bolsonaro disse que o confinamento levaria ao caos econômico e social. Chegou a assinar um decreto declarando as igrejas como essenciais à sociedade e que, portanto, deveriam ficar abertas. Tenta agradar o segmento evangélico, único que ainda o apoia incondicionalmente. Bispos e pastores garantem que a pandemia é “maligna” e que a cura está na fé. Cultos evangélicos reúnem milhares de pessoas e podem se transformar em focos do covid 19. Mas o dízimo fala mais alto.
O presidente deu a entender que o coronavírus só mata idosos e doentes. “Por que fechar as escolas?” – questionou o presidente. Incrível! Bolsonaro também disse que a paralisação da economia iria produzir confrontos. “O que aconteceu no Chile, comparado ao Brasil, vai ser fichinha”, ameaçou o presidente. Como nau desgarrada, navega na contramão do mundo e da história.
O país cozinha enorme desigualdade social – e o caldeirão desta tragédia já possui todos os temperos para um grande conflito. Já há no país uma guerra civil não declarada, com 60 mil homicídios e 35 mil desaparecidos por ano. Somos campeões mundiais da matança. O que será que Bolsonaro quer dizer com o termo “conflito”. Certamente, se refere à agitação e violência nas ruas, à luz do dia. Quebra-quebra, saques e incêndios. É disso que se trata? Na periferia de São Paulo os saques já começaram nos últimos dois dias. A Secretaria da Segurança determinou rondas noturnas com forte aparato.
O alto escalão das Forças Armadas, nesse tempo de pandemia, vem alertando que um quadro de ruptura da ordem institucional é possível e até provável. Temos 11,5 milhões de desempregados e outros 20 milhões de trabalhadores informais. Essa é a massa crítica. O governo acena com três meses de uma mesada de 200 reais para os trabalhadores, com dinheiro público. Não compra nem a cesta básica. O Congresso deve aumentar essa fortuna para 500 reais.
Enquanto isso, o (des)ministro da economia, o banqueiro Paulo Guedes, reserva centenas de bilhões de reais para socorrer grandes empresas, supostamente para proteger empregos, e capitalizar os bancos. Capitalizar os bancos? Espera-se que as instituições financeiras façam empréstimos a juros baixos para pessoas físicas e empreendedores. Quanto? Cinco por cento ao mês – ou 60% ao ano, quando temos uma Selic de 3,5%. Os mais renomados economistas do país garantem que o Tesouro Nacional deveria abrir os cofres para salvar vidas e fortalecer o sistema de saúde pública, inclusive porque foi declarada calamidade publica no país, medida que libera o governo do controle fiscal.
Os mais pessimistas acham que Bolsonaro aposta no esgarçamento social e na violência para dar um autogolpe com os militares. Parece que não é bem assim. Na última terça-feira (24 mar), o comandante-em-chefe do Exército, general Edson Pujol, contrariando as palavras do presidente, que falava em “gripezinha”, fez um pronunciamento afirmando que o combate ao coronavírus é “a mais importante missão da nossa geração”. Insistiu: “nesse momento de crise é que a nossa tropa deve manter a capacidade operacional e fazer a diferença”. O tom utilizado pelo general deixa claro que o Exército apoia a quarentena e as demais medidas sanitárias restritivas.
Ao que tudo indica Bolsonaro não é uma unanimidade nem nos quartéis.