
Bolsonaro, representante maior da direita dita cristã no Brasil, está perto de concluir o projeto de país que sempre sonhou: governado por militares, rompendo os direitos civis e trabalhistas e favorecendo o grande capital. Vende cargos no governo e compra apoio no Congresso. Já tem maioria parlamentar. É capaz de rechaçar qualquer tentativa de impedimento legal. Mentiu para os eleitores quando anunciou uma “nova política”, sem o famoso toma-lá-dá-cá. Agora é o líder do Centrão. Só falta domar a Suprema Corte. A última resistência contra os desmandos.
Recentemente, mudou de estratégia. Ao invés da agressividade golpista, que poderia não se concretizar por falta de apoio popular e do próprio ambiente militar, redescobriu um substantivo chamado negociação. Quer salvar os filhos acusados de falcatruas e outros abusos, quando a justiça estica os dedos para pegá-los. Sabe que o generalato não sairia em defesa da família por crimes comuns, sob pena de desmoralizar-se para o resto dos tempos.
Bolsonaro, tomado por um surto de lucidez (?), ou por efeito de seus conselheiros, após as fracassadas ameaças de fechar o Congresso e o STF, mira-se no exemplo daqueles que sobreviveram negociando, como José Sarney, Michel Temer e o próprio Lula. Até Fernando Collor sobreviveu na política, apesar de renunciar ao governo. Ainda é senador da República, eleito livremente pelo povo de Alagoas. Os amplos acordos que firmaram na vida pública os salvaram, assim como às suas famílias. É bom ressaltar que as acusações contra Lula e Lulinha, além de Dona Marisa, nunca se comprovaram. E agora a Suprema Corte pode desautorizar o ex-juiz Sérgio Moro e absolvê-lo no caso do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. As provas nos processos seriam muito fracas ou inexistentes.
Dilma Rousseff, que não sabia negociar e tinha comportamento arrogante, sofreu uma derrota arrasadora por conta de falsos crimes de responsabilidade, as pedaladas fiscais, mais tarde absolvidos pela justiça. Contra ela se ergueu o que havia de pior na política brasileira, o chamado Centrão, comandado por Eduardo Cunha. E não é que o capitão Bolsonaro se socorre justamente com o Centrão? É ou não é um estelionato eleitoral? Quem votou achando que o capitão representava a luta contra o PT e a corrupção no país, o maior câncer da brasilidade, enganou-se redondamente. Ele não só não tem nenhum projeto contra a corrupção, como tenta salvar o 01, acusado de uma forma pequena de corrupção chamada ‘rachadinha’, quando o parlamentar recebe de volta uma parte do salário dos auxiliares. É como roubar o dinheiro do estacionamento. Medíocre até para bandidos. Um crime vagabundo em um país onde as elites surrupiam bilhões de reais por ano a olhos vistos.
Naquela reunião ministerial, que mais parecia uma conversa de botequim, Bolsonaro só mostrava preocupação com a família e amigos indeterminados, enquanto a pandemia ceifava vidas em massa. A divulgação do vídeo da reunião, autorizada pelo ministro Celso de Mello, do STF, foi o mais grandioso gesto de oposição visto até agora. A Corte é uma trincheira democrática que precisa, aos olhos da extrema direita, ser desmontada a qualquer preço. Mas não há como mandar prender os ministros sem rasgar todo o ordenamento jurídico do país. E isto o país e o mundo não aceitam, porque representaria romper todos os contratos vigentes e anular milhões de decisões judiciais.
Portanto, cabe negociar. Ou comprar todos os compráveis.