O governador de São Paulo, Geraldo Alkmin (PSDB), declarou aos jornais, nesta última segunda-feira (1º. de outubro), que há “muita lenda” sobre organizações criminosas como o PCC (ver post anterior). Durante solenidade pública, Alkmin foi perguntado a respeito do assassinato de 73 policiais militares somente este ano, o dobro do que ocorreu no mesmo período de 2011, e dos quais 56 estavam fora de serviço, trabalhando como seguranças particulares. O governador também enfrentou questionamentos sobre a reportagem da Folha de S. Paulo do dia anterior, que tratava da megaoperação criminosa chamada PCC, atuando em 123 cidades do Estado, incluindo –obviamente – a capital.
De acordo com a Folha, integrantes da facção criminosa tentaram levar a seus líderes, encarcerados em presídios de segurança, um arquivo de computador contendo uma prestação de contas das atividades da organização. O conteúdo estava em um pen drive, que seria introduzido nas celas por meio de uma visitante.
O arquivo revelava que o PCC está presente em todo o Estado, fatura uma fortuna por mês só de “caixinha”, de contribuições voluntárias dos “afiliados”, e que reúne mais de 1.300 bandidos em liberdade. Bandidos de todos os tipos: traficantes, sequestradores, ladrões de banco, veículos e de cargas, e o que mais você desejar. Abaixo desses “membros” da organização, estariam quadrilhas e bandos de criminosos. O número poderia ser dez vezes maior.
A tudo isso o governador respondeu de modo desdenhoso: pura ficção da mídia. Lendas urbanas. Note-se: o governo de São Paulo não desmentiu oficialmente a notícia da Folha, que ocupou a manchete de primeira página do jornal.
No meio da bandidagem, o PCC costuma se denominar como o “Partido do Crime”. Ou, simplesmente, o “Partido”. E esta alcunha também não é gratuita. O PCC se organiza em torno de um “programa político” de 13 itens, o “estatuto” da organização. Você pode chamar de outra coisa, mas não deixa de ser uma declaração de princípios, como as que regem qualquer outro tipo de associação de classe.
O PCC surgiu no verão de 1993, no anexo do presídio de Taubaté, interior de São Paulo, mais conhecido como “piranhão”, um depósito de seres humanos sem qualquer cuidado e que estava para ser desativado. O nome Primeiro Comando da Capital (PCC) se referia a um time de futebol composto por criminosos da capital paulista, oponente do pessoal do interior. Daí veio a lenda – e tudo o mais.
Investigações da polícia dão conta de que o PCC está presente nos estados do Rio, Paraná e Mato Grosso do Sul, além de São Paulo. Tem negócios no Paraguai, Bolívia, Colômbia e Portugal. E há suspeitas de que mantenha contatos com a “Conexão Nigeriana”, a organização criminosa que mais cresce no mundo, de acordo com o FBI.
A Nigéria, país da África Ocidental, concentra 82% de todo o tráfico de drogas da Ásia para a Europa. E compra cocaína dos cartéis colombianos através do PCC e do Comando Vermelho.
Pura lenda?
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
As autoridades só vão acordar pro tamanho do problema que é o PCC, e começar a combatê-lo a sério, quando tivermos instalado em São Paulo um problema das dimensões que a Cosa Nostra gerou na Itália. Aí vão acordar, montar gabinete de crise, pedir ajuda da Força Nacional, tentar aprovar leis mais rígidas, etc…
CurtirCurtir
Amorim tem gente declarando que com a ocupação do Jacarezinho,Mandela e Manguinhos o CV sera extinto. Eu como ja li dois livros seus e assim como você também pesquiso muito sobre o assunto, acredito que as autoridades fluminenses estejam subestimando o CV. Faça um post a respeito. Grato por sua atenção desde ja.
CurtirCurtir