Governo admite que mortes de PMs são ataques do crime organizado

O Secretário de Segurança de São Paulo reconhece que pelo menos 46, dos 86 assassinatos de policiais militares ocorridos este ano no Estado, são resultado de ataques diretos de criminosos contra a força pública. O próprio governador Geraldo Alckmin, em entrevista coletiva exibida pelas emissoras de televisão e rádio, diz que se trata de “uma resposta do crime organizado às ações recentes da polícia” contra o tráfico de drogas. “Neste governo”, garante Alckmin, “a polícia vai para a rua e os bandidos para a cadeia”.  De fato, o governo paulista foi o que mais construiu presídios nos últimos dez anos. Dos cerca de 500 mil encarcerados no país, 170 mil (34%) estão sob administração de Alckmin.

               No entanto, ainda existem mais de 150 mil mandados de prisão contra criminosos paulistas. Se fossemos prender todos eles, não haveria cárcere para tanta gente. E se fossemos matar todos eles, como clamam os programas vespertinos da TV e parte da opinião pública, não teríamos onde enterrá-los – nem IMLs para as devidas remoções e autópsias, como estabelece a lei. Além do mais, os crimes contra o patrimônio (roubos e assaltos, “saidinhas de banco”, sequestros-relâmpagos e outros), só fazem aumentar, todos os dias. O problema vai se agravando.

Ainda esta semana, o repórter Marcelo Resende, apresentador do “Cidade Alerta”, da TV Record, leu, ao vivo, uma carta da liderança do PCC, evidentemente apócrifa, ordenando aos cúmplices em liberdade a execução de 35 pessoas, cujos nomes estavam em uma lista de marcados para morrer. Todos agentes policiais, funcionários públicos e representantes do governo. Segundo a organização criminosa, que o governo paulista jura que não existe, trata-se de “uma missão para os botas”, como os PMs são chamados no mundo do crime. Ou seja: matar PMs. A carta ainda dizia que a “missão” deveria ser cumprida até o dia 20 de outubro – hoje – quando escrevo este post.

               Se tais episódios não representam uma crise na segurança pública, não sei o que mais podem significar. Pior: as famílias dos policiais mortos são obrigadas a entrar na justiça para conseguir receber o seguro de vida de seus parentes assassinados, contra a alegação governamental de que tais policiais não estavam no serviço quando foram atacados. Os advogado que representam as famílias fazem só uma pergunta cabível: “teriam eles sido mortos se mão fossem policiais?”.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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2 respostas para Governo admite que mortes de PMs são ataques do crime organizado

  1. Celso Luiz disse:

    São Paulo é hoje o Rio de Janeiro dos anos 90. Essa é a melhor definição para explicar a onda de violência que tomou conta da maior metropóle da América Latina. No RJ de 1994 a delegacia da Penha, chegou a construir um muro de concreto e aço para evitar que a delegacia da Penha sofresse ataques, como os que ocorreram na DP de Bonsucesso, na epoca metralhada pelo bando do traficante Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê. Em Sao Paulo ainda nao se chegou a este ponto. Apesar que se nao me falha a memória bandidos ja dispararam contra a fachada do quartel do 1ºBPMESP (Rota).
    Outra coisa que difere a chamada onda de violência carioca dos anos 90, para a onda de violência paulista atual. É que como bem definiu Kátia Lund e João Moreira Salles, se travava nos morros cariocas “Uma guerra particular”, é claro que a violência também espirrrava no asfalto, principalmente no que se tratava a roubo de automóveis.
    Mas em São Paulo, toda violência se concentra no asfalto. É claro que temos que considerar as diferenças geograficas de cada uma das cidades. O RJ é espremido entre o mar e as montanhas, são paulo não. Talvez isso fez com que a violência no Rio ficasse mais visada que na terra da garoa, que na década de 90, também já tinha uma curva de violência ascendente. Tenho um Globo Repórter de 19/08/1994, intitulado a “Rotina do Medo” em que o Marcelo Rezende então repórter da TV Globo, já denunciava a escalada da violência em São Paulo,
    a cidade já tinha um alto índice de homicidios e também já era insegura. Em uma parte da matéria um publicitário ao chegar e constatar que teve seu carro arrombado para o furto do aparelho de toca-fitas, diz sem pestanejar ao repórter “Eu me sinto lesado”
    É claro que o PCC ainda não exista, ou estava em seus primórdios. Na época a facção que estampava a página dos jornais era o Comando Vermelho. Aliás quando a imprenssa diz que o PCC não existe, me remete as autoridades do Rio de Janeiro no ínicio da década de 80, cujo o discurso era “O CV não existe” ou “O CV é invenção midiática.”

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    • carlos amorim disse:

      Caro,
      muito oportuno o comentário. É isso mesmo! Os governos negam, porque fica tudo mais fácil. Quando aceitam o fato, são obrigados a apresentar soluções. E não há soluções à viata.
      abs
      Camorim

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