Novo secretário da segurança em SP promete respeito aos direitos humanos

 

             Olhe bem o rosto desse homem. O nome dele é Paulo Fernando. Advogado, 54 anos, há 30 servindo ao judiciário paulista. É a pessoa responsável por pacificar o estado de São Paulo, que vive uma das maiores ondas de violência dos anos recentes.

São Paulo registrou 331 homicídios em apenas 45 dias, o que provocou a exoneração do secretário da segurança, Antônio Pereira Pinto, autor de uma frase lamentável sobre o crime organizado (“Isto é fruto da glamorização da mídia”) e protagonista de um bate-boca com o Ministro da Justiça, que oferecia ajuda ao estado. O governador Geraldo Alckmin decidiu afastá-lo e nomear para a pasta um promotor com 30 anos de carreira, duas vezes procurador-geral da justiça paulista: Paulo Fernando Grella.

 

             Um terço das mortes ocorridas no período foram execuções sumárias de policiais, alguns aposentados, e agentes penitenciários, algo em torno de 110 crimes – uma matança quase tão grande quanto a ocorrida durante o “levante” do PCC em 2006. No entanto, as demais 200 mortes são atribuídas a um extermínio com a participação de policiais agindo clandestinamente. Muitas dessas pessoas executadas tinham passagens pela polícia, incluindo dois foragidos da justiça. As chacinas ocorreram em locais conhecidos pelo tráfico e consumo de drogas. Descobriu-se até mesmo que alguns dos mortos tiveram as suas fichas criminais consultadas nos arquivos da polícia pouco antes dos crimes. Por isso o novo secretário falou em garantir os direitos individuais. Porque ele sabia que alguns policiais, já identificados, estavam praticando um “acerto de contas”, como adiantei no meu último post, publicado antes da exoneração de Antônio Pereira Pinto.

            O secretário Fernando Grella tem a missão de garantir o direito à vida, como manda a Constituição brasileira – e como deseja o governo paulista. Isto inclui todos os cidadãos, sejam eles policiais, ex-policiais ou criminosos. A Carta da República e os códigos legais do país são contrários à pena de morte e à prisão perpétua. Foi o que estabeleceu a Assembleia Nacional Constituinte de 1988, que celebrou o fim do regime de arbítrio. Qualquer coisa diferente disto é crime – e como crime deve ser punida.

             Mas a Justiça não é sinônimo de barbárie.  

 

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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8 respostas para Novo secretário da segurança em SP promete respeito aos direitos humanos

  1. Missão dificil essa do novo secretário. Mas acredito que se deixar o partidarismo de lado e levantar o moral da policia civil, que na época do antigo secretário foi esquecida, terá bons resultados.

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    • carlos amorim disse:

      Fernando,
      cabe ao cidadão cobrar os resultados, inclusive publicamente. Na história brasileira, os governantes só se mexem quando há povo nas ruas. Converse sobre este tema com os seus familiares, seus amigos, colegas de trabalho. Na sua casa, ou na escola, no trabalho. Nós – homens e mulheres comuns – devemos nos apresentar no cenário dessa tragédia como agenttes e não como vítimas. A suua opinião é bem-vinda neste site. E se vc reunir as pessoas que lhe são próximas, estou à disposição para conversar.
      Grande abraço,
      Camorim

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  2. Enquanto as autoridades tratar desse assunto sendo algo produzido pela mídia e não encarar os fatos como eles são, esse mar de violência ha de continuar. A questão nao se restringe apenas em aumentar o efetivo policial, vai muito mais além, as politicas sociais nunca são prioridade e critério de avaliação quando se fala em violência. Boa sorte Secretário.

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  3. Fabio disse:

    Carlos Amorim ,
    aproveitando esta onda de PCC , outro dia esbarrei na biblioteca com seu livro COMANDO VERMELHO. Logo iniciei a leitura , e o fiz de uma tragada só em dois dias. Parece incrível como os fatos que você relatou na formacão do CV podem ser transpostos sem nenhuma alteracão , trinta anos depois , para a atual onda de violência que ocorre em SP , sobretudo o episódio da execucão de presidiários promovida pelo CV como forma de pressionar o governo de Moreira Franco.
    EM seguida iniciei a leitura de ASSALTO AO PODER. Somente li a INTRODUCÃO até agora. Algo me incomodou nas suas consideracões iniciais , no que você se refere ao papel da imprensa. Você descreve a imprensa brasileira como a principal guardiã das denúncias contra o ASSALTO AO PODER , e que acusacões contra ela são feitas numa campanha difamatória para enfraquecê-la . Só que algo fundamental aconteceu nos últimos meses : a operacão VEGAS. E uma de suas principais consequências : a exibicão da ligacão CACHOEIRA – REVISTA VEJA . Por aí elucidou-se a verdadeira intencão da revista nas denuncias anteriores contra ministros de DILMA , que era fortalecer o esquema de Cachoeira .
    A revista recorre ao mesmo argumento que você cita na introducão de ASSALTO AO PODER : trata-se de uma armacão dos prejudicados pelas denúncias , e também pelo PT prejudicado pelas denúncias do mensalão , que agora querem desmoralizá-la. Mas pelas conversas grampeadas de Cachoeira e que foram exibidas , e mais uma série de reportagens contraditórias feitas pela revista , há sérias razões para se acreditar que VEJA integra a longa lista de organizacões que auxiliam no ASSALTO AO PODER.
    Você que tanto pesquisou o mundo do crime , ajudou a denuncia-lo em seus livros e conhece como poucos também o mundo do jornalismo , poderia nos agraciar com seus comentários ?
    Um abraco !

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    • carlos amorim disse:

      Fábio,
      sou um militante da mídia brasileira há 44 anos. Foram 10 anos na mídia impressa e 34 na eletrônica, com várias recaídas para publicar artigos e matérias em jornais, epecialmente o falecido Jornal do Brasil e no Jornal da Tarde.
      Infelizmente, após a campanha presidencial de 2010, a minha confiança na mídia sofreu fortíssimo abalo. A chamada Grande Imprensa jogou fora toda a sua tradição de resistência e se rendeu a um projeto político imediatista e contrrário aos interesses nacionais.
      Reuna seus amigos e familiares – e eu apareço para um bate papo.
      Abraços e obrigado.
      Camorim

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  4. Cássio Freitas Daldegan disse:

    Nos últimos anos os indicadores de segurança de São Paulo vinham melhorando, e pelo o que eu sei vinha sendo uma das melhores evoluções em comparação com os outros estados. A maior efetividade da polícia contra o crime com certeza contribuiu para essa melhora, mas com isso temos a atual reação do crime organizado que vinha sendo reprimido. Mas a eficácia de uma política depende de seu bom planejamento, ações baseadas em acertos de contas servirão apenas para elevar o número de mortos das estatísticas. Apenas uma política de segurança bem feita fará com que o combate ao crime diminua a insegurança que a população sente, e isto só ocorre no longo prazo pois os efeitos de tais políticas são demorados.

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    • Carlos Amorim disse:

      Caro, obrigado pelo comentário. Peço que vc o coloque no site, para que todos possam ler. E lá responderei. Creio que vc tem razão: os índices de criminalidade em SP haviam caído fortemente, especialmente o de homicídios. Outros indicadores continuavam em alta (latrocínio, roubo e furto de veículos etc), maas os resultados eram notáveis. Rio e SP foram os estados que ais avançaram em matéria de criminalidade (em SP foram construídos mais presídiosdom que em qualquer outro lugar) mas ainda há um longo camnho a percorrer. E esse retrocesso dos últimos dois meses é muito preocupante. Além do mais, essa postura de negar a existência do crime organizado é um equívoco que cobra um preço político elevado. Do mesmo modo, o não reonhecimento da necessidade de uma reforma no aparelho policial. Acho que Rio e SP estão na vanguarda do combate ao crime, mas é preciso proveitar esse momento dramático para dar uma volta por cima. Vamos continuar essa conversa lá no site? Para que outros participem? abs CAmorim

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