As conversas entre o governo colombiano e as FARCs, a guerrilha comunista que domina um terço do país vizinho, estão emperradas e podem fracassar. As negociações, iniciadas pelo presidente Juan Manoel Santos no ano passado, deveriam atender a três pontos principais: uma ampla reforma agrária; anistia para os guerrilheiros condenados ou presos; e a participação do movimento comunista nas eleições ao parlamento. O acordo deveria resultar ainda num cessar fogo entre as partes combatentes.
Da pauta de reivindicações, apenas o primeiro ponto resultou em entendimento. Ficou acertada uma nova política agrária para a Colômbia, beneficiando lavradores sem terra e protegendo proprietários produtivos. Centenas de milhares de lavradores pobres receberiam lotes para trabalhar. E as fazendas economicamente ativas estariam a salvo de invasões e ataques da guerrilha. No entanto, há forte resistência do judiciário em relação à anistia de integrantes das FARCs. Mais resistência ainda à participação dos comunistas nas eleições, especialmente porque o mandato de Juan Manoel Santos acaba esse ano. Os segmentos conservadores do país, representados pelo ex-presidente Uribe, que é candidato, não querem nem saber de guerrilheiros disputando votos.
Ou seja: impasse total. E a situação é agravada pela divisão de opinião nas forças armadas locais. Boa parte dos militares acredita numa vitória contra a guerrilha no campo de batalha. Isso, porém, parece improvável a curto prazo. Nos últimos seis anos, as FARCs sofreram duros reveses, com a parda de suas mais importantes lideranças. O comandante Manuel Marulanda Vélez, que iniciou a guerrilha em 1964, morreu de ataque cardíaco (26 de março de 2008). Raul Reyes, o segundo em comando, foi abatido numa espetacular ação da Força Aérea, que localizou e bombardeou um acampamento guerrilheiro na fronteira entre a Colômbia e o Equador (1º. de março de 2008). Ivan Ríos, o número três das FARCs, foi assassinado por dois traidores, que eram guarda-costas dele (3 de março de 2008). Alfonso Cano, que substituiu este último, foi morto num ataque de tropas governamentais (4 de novembro de 2011). Os órgãos de inteligência americanos afirmam que mais de 20 líderes das FARCs foram eliminados. Mas a guerrilha ainda dispõe de cerca de 15 mil homens no campo, além de um número desconhecido agindo nas cidades – e isso sem falar na soma inimaginável de simpatizantes, especialmente entre a juventude. O grupo continua operacional e tem a iniciativa dos combates em várias partes do país. Se não fosse assim, não haveria nenhuma conferência de paz.
As vitórias militares sobre a guerrilha foram impulsionadas pelo apoio decisivo da Casa Branca, tanto no governo de George W. Bush, quando na administração Obama. Os Estados Unidos mantém um plano secreto de atuação na Colômbia, que foi denunciado pelo jornal The Washington Post em 23 de dezembro do ano passado. De acordo com o diário americano, desde o ano 2000, os colombianos têm acesso em tempo real às informações da CIA sobre o paradeiro dos líderes rebeldes, inclusive com vigilância via satélite. A partir de 2006, o Pentágono iniciou o fornecimento de armas ultramodernas e dispositivos de guerra eletrônica. Tais dispositivos fizeram enorme diferença na correlação de forças.
A reportagem do Washington Post revela que os colombianos receberam um tipo de GPS que serve para direcionar com precisão as bombas lançadas pela aviação. Muitas baixas entre os guerrilheiros foram causadas pelo equipamento. Pequenos mísseis inteligentes, que podem ser disparados de terra ou do ar, também foram entregues aos colombianos. A arma mais poderosa, no entanto, é um sistema de controle de comunicações, capaz de monitorar todas as linhas telefônicas do país, desenvolvido pela Agência Nacional de Segurança (NSA). A mesma agência americana que andou espionando a presidente Dilma Rousseff. Nos últimos 14 anos, os Estados Unidos já gastaram 9 bilhões de dólares na Colômbia. E continuam acreditando numa vitória militar.