Dilma com 36% das intenções de voto. Marina Silva com 21%. E Aécio Neves com 20%. O Datafolha embola a disputa presidencial. A pesquisa, sob a comoção da morte de Eduardo Campos, diz que Dilma ganharia de Aécio e perderia de Marina no segundo turno.

Marina silva.

Marina silva.

                    Como antecipamos no post anterior, a nova pesquisa eleitoral do Datafolha, divulgada nesta segunda-feira (18 ago), revela um cenário confuso na campanha presidencial brasileira. Trata-se apenas de uma sondagem de opinião pública baseada em 2.843 entrevistas com eleitores, num país de mais de 140 milhões de votantes. A sondagem foi feita em 176 municípios, quando o número total chega a 5.570. Mas estatística é assim mesmo.

                    De todo modo, há dados curiosos. Tanto Dilma quanto Aécio mantiveram os numero da pesquisa anterior (36% e 20%, respectivamente), sendo que a grande mudança foi em relação aos votos antes destinados a Eduardo Campos (de 8% para 21% com Marina), explicada em função de uma drástica redução de votos nulos, brancos e de eleitores indecisos. A segunda curiosidade dessa pesquisa é a de que a aprovação do governo Dilma aumentou. Somando ótimo, bom e regular, a presidente teria 76% de aprovação. No entanto, o Datafolha afirma que Dilma tem a maior rejeição entre os que opinaram: 34%. Neste ponto, os números parecem matematicamente incoerentes. Se ela tem 76% de aprovação e 34% de rejeição, somando 110%, qual é a rejeição dos outros? Talvez sejam pesquisas separadas, contas separadas, sei lá. Mas soa estranho!

                    Agora: o mais impactante é a simulação de segundo turno feita pelo Datafolha. Dilma Rousseff ganha de Aécio Neves (47% a 39%), mas perde (ou empata, considerando a margem de erro de 2% para mais ou para menos, na verdade uma variação de 4%) da ambientalista Marina Silva (47% a 43%). É mesmo um empate.

                    Este segundo turno, que parecia improvável antes da morte trágica do socialista Eduardo Campos, neto do líder político nordestino Miguel Arraes, é a grande surpresa do processo eleitoral que vai escolher, em outubro e novembro, o novo presidente do Brasil. Com um pouco de juízo, os analistas desse cenário, como o locutor que vos fala, apostavam numa solução apertada no primeiro turno, confirmando a dicotomia da política nacional entre PT e PSDB, que vai completar 20 anos no poder. Neste momento, quais observações devem ser levadas em conta?

                    Dois mandatos do PSDB, com Fernando Henrique Cardoso, longos oito anos. Mais três mandatos do PT, com Lula e Dilma Rousseff. Doze longos anos. O eleitor está de saco cheio. Nesses 20 anos, o país acumulou vitórias políticas, a consolidação da democracia mais estável do continente, e econômicas, reduzindo as desigualdades e conquistando o 7º lugar entre as maiores economias do mundo. Somando os governos do PT, destinados às classes populares, mais de 20 milhões de postos de trabalho foram criados. Mas o brasileiro quer mudanças, claramente demonstradas nos grandes protestos de rua de 2013. E que mudanças seriam essas?

                    Aí é que está o problema. Não sabemos exatamente o quê. Mas queremos mudanças. De discurso, de fisionomia, de partidos. O brasileiro comum tem verdadeiro horror aos políticos. Um bando de ladrões. Mas como não fazer política? A política é a própria vida.

                    No palco das eleições de 2014, o chamado “escândalo do mensalão” tem papel decisivo. O PT de Lula, ícone da luta contra a ditadura militar, ergueu a bandeira da ética. E a arrastou por um difícil processo criminal, transmitido ao vivo pela TV, que resultou na queda de suas principais lideranças governamentais. Lula só não caiu, como Collor, porque era o ícone dos ícones. Graças a Deus. Mas o dano eleitoral está aí, à frente de todos. O PSDB, do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, autoexilado na ditadura, professor da Sorbonne francesa, patinou nas privatizações. O partido dele é acusado, por alguns autores, de ter comprado 150 votos no Congresso para aprovar a emenda constitucional da reeleição. E comprados como? Um mensalão que antecedeu ao “mensalão”.

                    E agora? Nesse interregno, prosperou a corrupção. A mesma doença política que perpetuou os sarneys, os inocêncios de oliveira, os renans e coisas mais. E surgiram os black blocs, as sininhos, as marinas. E quem é essa Marina Silva, especificamente?

                    Maria Osmarina Mariina Silva Vaz de Lima nasceu no estado do Acre, no dia 8 de fevereiro de 1958. Ela queria ser uma freira. Viveu e estudou com religiosas católicas, mas termino se convertendo a uma organização cristã evangélica, a Assembleia de Deus. Filiou-se ao PT do Acre em 1987. No ano seguinte, foi a vereadora mais votada em Rio Branco, a capital. Nas eleições de 1990, ganhou o cargo de deputada estadual. Em 1994, aos 36 anos, foi eleita senadora. E reeleita em 2002, quando lula chegou à Presidência da República. Foi ministra do meio-ambiente de Lula, durante o primeiro mandato do PT e parte do segundo, entre 2003e 2008. Em 2010, candidatou-se à presidência pelo PV, o Partido Verde, obtendo 19% dos votos e assegurando o segundo turno. E logo em seguida rompe com  o PV. Queria estrada própria.  

             Neste mês de agosto de 2014, Marina Silva é o fiel da balança das eleições. E o que ela pensa? É contra o aborto e a liberação de drogas como a maconha e a cocaína. É contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. A candidata, fortemente influenciada pelos Evangelhos, contrasta fortemente com os seus próprios apoiadores, os socialistas em geral. Afinal, está prestes a se tornar candidata pelo Partido Socialista Brasileiro, o PSB.  Na verdade, não se sabe se é capaz de construir uma equipe de governo – nem se é capaz de conviver com um Congresso Nacional marcado pela velhacaria.

                    Mas isso pode ser muito bom, corrigindo fraquezas de PSDB e PT. Eu mesmo não sei como definir essa candidata que pode ganhar as eleições. Como seria um Brasil de Marin Silva?            

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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