Ibope e Datafolha mostram que Dilma está na frente em todas as regiões do país. A quatro dias das eleições, tudo indica mais uma vitória eleitoral do PT. A presidente cresce entre os mais pobres. Mas o PT está desgastado e precisa mudar.

A presidente Dilma e os dilemas do PT. Otimismo exagerado?

A presidente Dilma e os dilemas do PT. Otimismo exagerado?

As últimas pesquisas eleitorais, divulgadas nesta terça-feira (30 set), indicam vitória da presidente Dilma Rousseff em todos os cenários da disputa e em todas as regiões do país. Dilma venceria Marina Silva e Aécio Neves num eventual segundo turno, mas os institutos deixam em aberto a possibilidade de que a eleição se resolva já em 5 de outubro. Apesar do bombardeio incessante da mídia, que todos os dias destaca o fraco desempenho da economia e amplifica denúncias de corrupção, a candidata só faz crescer na preferência dos eleitores. Tanto Ibope quanto Datafolha revelam que a aprovação do governo federal (a soma de ótimo, bom e regular) está sempre acima de 72%. E os analistas sabem: com tamanha aprovação é muito difícil perder uma eleição livre e direta.

Como explicar o fenômeno? Setenta e seis por cento dos entrevistados nas pesquisas dizem que querem mudanças nos rumos do país. Mas a maioria afirma  que é Dilma Rousseff a pessoa certa para executar as mudanças. E isto não é uma conclusão minha: é a pesquisa que revela o resultado da coleta pública de opinião. Como explicar? Para citar uma frase emblemática de Lula, nunca antes na história desse país houve tantas denúncias de corrupção, envolvendo o alto escalão do governo e a liderança petista. Também nunca houve tanta punição, atingido ministro de Estado e líderes políticos. No auge do escândalo do “mensalão”, em 2006, Lula foi reeleito com larga margem de votos. Por que? Agora, com a saraivada de denúncias contra o governo Dilma, ela arranca na frente e deve ganhar com razoável diferença de votos favoráveis.

A presidente nos Estados Unidos.

A presidente nos Estados Unidos.

Uma explicação possível para este resultado é a seguinte: o PT governa para os menos favorecidos, que constituem a maioria da população. Os governos petistas criaram mais de 20 milhões de novos postos de trabalho, fazendo com que a classe média representasse a maioria da população. Os programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, beneficiaram mais de 40 milhões de brasileiros, especialmente no nordeste do país, a parte mais pobre (Dilma tem 51% dos votos nordestinos). Isto produziu uma base eleitoral muito forte. No entanto, entre os segmentos abastados e de nível cultural mais elevado, Dilma é contestada e perde votos. Como uma ironia da história, quanto mais o PT dá emprego, eleva renda e aumenta a escolaridade, pior para ele em termos eleitorais. Desta vez ainda vai ser possível vencer, mas a partir de 2018, se a tendência continuar, será quase impossível.

Somada, a oposição representa algo em torno de 45% das intenções de voto. Ou seja: falta pouco para virar a mesa, talvez apenas mais uma eleição. Este é um desafio poderoso para os líderes do Partido dos Trabalhadores, cuja imagem pública foi tremendamente desgastada com uma sucessão de escândalos. O PT pode ser empurrado de volta a suas origens: um pequeno partido operário com apoio de intelectuais de esquerda. De certa forma, a crise atual contém uma oportunidade para os petistas: revisitar seus princípios, descolar-se do mercantilismo político, reintroduzir-se nos movimentos sociais, voltar atrás para poder avançar novamente. Será capaz de fazer isso mesmo ganhando agora? Ou a vitória vai obscurecer a razão?

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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Uma resposta para Ibope e Datafolha mostram que Dilma está na frente em todas as regiões do país. A quatro dias das eleições, tudo indica mais uma vitória eleitoral do PT. A presidente cresce entre os mais pobres. Mas o PT está desgastado e precisa mudar.

  1. José Antonio Severo disse:

    Dilma deve vencer, sem surpresas. Uma única dúvida seria bater-se no segundo turno contra Marina, pois ainda não dá para se projetar o que seria esse embate com as duas em igualdade de condições. Dilma aproveitou muito bem sua vantagem estratégica. usando sua superioridade de tempo de tevê e rádio (não se esqueçam da força das ondas eletromagnéticas), seu caixa de campanha bem nutrido para reconduzir a anoréxica (uso a palavra como metáfora para falar de tempo de tevê minguado e caixa de campanha vazio) Marina a seus patamares históricos, algo em torno de 27%. Por isto, se ficar evidente que haverá segundo turno, o correto seria canalizar votos para Aécio Neves. Com sua conformação tucana ele seria derrotado no segundo turno em todas as pesquisas publicadas desde sempre. Então melhor não se arriscar abrindo uma possibilidade de a acreana ir para segundo turno. A seringueira pode ser uma adversária temível se entrar em igualdade de condições. O mais inteligente será tirá-la de cena e não confiar demais nestas simulações de segundo turno ainda alimentadas pelo arsenal de comunicação do primeiro turno.Aécio no segundo turno,Dilma presidente.

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