
Com 98% das urnas apuradas em todo o país, às 20h58m deste domingo (5 out), Dilma Rousseff, do Partido dos trabalhadores, vence o primeiro turno das eleições presidenciais com 41,39% dos votos válidos. Aécio Neves (PSDB), surpreendendo a todos e desmentindo as pesquisas eleitorais, alcança 33,78% dos votos válidos. A ambientalista Marina Silva, candidata do Partido Socialista, obteve 21,17% dos votos válidos, números bem inferiores aos que indicavam as prévias eleitorais.
O resultado inesperado de Aécio Neves, marcado especialmente por uma acachapante vitória sobre Dilma Rousseff em São Paulo, com mais de 4 milhões de votos de vantagem, forçou o segundo turno. A diferença entre os dois primeiros colocados (inferior a 8%), representa uma séria ameaça à reeleição da presidente. E mostra que o Brasil continua polarizado entre PT e PSDB. A terceira via, representada por Marina nessas eleições, não conseguiu se afirmar. Dilma obteve uma notável vitória entre os eleitores mais pobres, conquistando cerca de 70% do resultado da votação no nordeste do país, a região menos favorecida.
Para o segundo turno, a se realizar em 26 de outubro, os dois candidatos terão o mesmo tempo de propaganda eleitoral gratuita, no rádio e na televisão, o que indica que Aécio Neves pode crescer ainda mais. Mas parece impossível que Aécio Neves, identificado como candidato das elites, possa reverter os números do nordeste. Isso indica que a representante do Partido dos Trabalhadores pode se reeleger com uma pequena diferença de votos do total nacional, talvez de 5%. Mas as urnas do primeiro turno revelam que o PT teve sua imagem muito desgastada com seguidas denúncias de corrupção e com uma oposição sistemática da grande mídia, que não esconde a sua preferência por Aécio Neves e pelo PSDB.
Agora é o vale tudo eleitoral. A campanha para o segundo turno vai ser marcada por acusações. No entanto, o Brasil dá mais um exemplo de democracia e liberdade ao mundo: com mais de 142 milhões de eleitores, o resultado da votação foi apurado em pouco mais de três horas após o fechamento das urnas. Não houve violência. Ninguém foi constrangido a votar. Nenhum dos candidatos questionou o resultado.
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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O Brasil não é um exemplo de democracia. Trata-se de uma ditadura. Senão vejamos. Todos os índices de democracia colocam a participação e cultura política do Brasil entre 5 e 4. Empatado com Cuba e atrás da Bolívia e do Egito (veja os índices desses dois items da Economist, Rasch, Lord, Clistenes, etc.).
No Brasil existe voto obrigatório, acesso assimétrico ao direito de manifestação (Dilma 15 minutos, Marina 2 minutos de programa eleitoral), obrigatoriedade de pertencer a partidos (voto “write in” não é permitido), os partidos não fazem primárias, o presidente nomeia ministros do tribunal eleitoral, que caçam até direito de palavra de cidadãos, obrigatoriedade constitucional de contratar advogados (perda do jus postulandi, garantido até na declaração dos direitos humanos, parágrafo 7 da declaração de San José da Costa Rica, se não me engano), obrigatoriedade de pertencer a sindicatos (ou melhor, obrigatoriedade de dar dinheiro para os sindicatos; claro que dizem que não sou obrigado a pertencer ao sindicato, apenas dar dinheiro a eles para fazer coisas contra minha consciência; por exemplo, sou obrigado a dar dinheiro ao sindicato do Caiado e do Katia para desmatarem a Amazonia), etc.
A isso devo acrescentar a proibição dos pais de controlar a educação dos filhos; home schooling e escolas grass root são proibidas no Brasil para que a ditadura possa doutrinar as crianças e impedir que aprendam matérias como matemática, inglês, chinês e façam educação física. Na orientação do governo para as escolas, a educação física, de apenas duas horas semanais, é para fomentar a cidadania, não é para melhorar a forma física.
Você sabia que não posso ensinar matemática em francês a meus filhos? Nem química em alemão? Nem tecnologia em chinês? Nem biologia em latim? Sabia que as crianças surdas ou filhas de pais surdos são obrigadas a assistir aulas em português, em vez de Libras, o que prejudica fortemente o desenvolvimento intelectual delas? Sabia que não há uma única escola de medicina no Brasil com aulas em Libras? Sabia que não oferecem comida vegetariana nas escolas brasileiras, mas nas escolas chinesas, indianas, americanas e francesas oferecem?
Mantendo a população sem cultura e doente (por falta de educação física), sem falar chinês, inglês, francês e latim (para acessar a internet e ler livros técnicos), a ditadura consegue controlar o povo. Tecnicamente, um país que tem entre 5 e 4 em participação e cultura política, assimetria em direito de manifestação e voto obrigatório para legitimar o governo é ditadura. Claro que os institutos de pesquisa são diplomáticos e abrandam o nome: The Economist diz que temos uma “flawed democracy”, o Instituto Clisthenes diz que somos uma “dictatorship with right of speech”, o Democracy Watch diz que somos uma regime autoritário, etc. Eu escrevi para o Clisthenes e disse que concordava com a “dictatorship”, mas não com o “right od speech”, que não temos.
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Eduardo,
obrigado pelo comentário. O resultado das eleições, em primeiro turno, mostra um avanço da oposição (cerca de 45% dos votos válidos) e um país dividido. Mas foram
eleições livres e com uma Justiça Eleitoral competente.. Temos amplas liberdades de
opinião e de organização. Não creio que se possa negar isso. No entanto, há problemas graves, do ponto de vista político e social. O segundo turno é uma bom
momento para discutir esses problemas e fazer a melhor escolha de governantes.
Continue participando dos debates neste site.
abs
Camorim .
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Até pouco tempo o alto comando da campanha de Dilma preferia ter Aécio Neves como adversário no segundo turno, concentrando-se na desconstrução de Marina. Esta visão estratégica continua valendo?
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Caro,
parece que continua valendo. O PT acha mais fácil comparar os governos Lula e Dilma com aqueles de FHC e do PSDB. Marina representava uma via nova e pouco consistente. Portanto, mais fácil de atacar. Agora a barra vai pesar. O que vc acha disso?
abs
Camorim
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