O “predador urbano”, o bandido mais difícil de apanhar. Comete dezenas de crimes sem motivo. Não tem nenhum tipo de relacionamento anterior com as vítimas. Apenas mata. A polícia prende em Goiânia mais um “serial killer” brasileiro.

O "serial killer" brasileiro apresentado à imprensa;

O “serial killer” brasileiro apresentado à imprensa;

O nome dele é Thiago Gomes da Rocha. Tem  26 anos. É bem apessoado, fala com desenvoltura, revelando escolaridade. Trabalhava como vigilante em uma empresa de segurança em Goiânia, a capital no estado de Goiás. Foi capturado por uma força tarefe envolvendo a polícia civil, grupos de elite, psiquiatras forenses e psicólogos. A cidade estava vivendo com medo, após uma onda de assassinatos de mulheres, travestis e moradores de rua. Foram dezenas de crimes, aparentemente sem motivo algum.

Segundo a polícia goiana, Thiago confessou 39 homicídios, mas não se lembra de todos que matou. As autoridades acreditam que ele pode ter executado 50 pessoas. Saia pela noite, montado em uma motocicleta preta, usando jaqueta e capacete, para não ser reconhecido. Escolhia suas vítimas ao acaso, enquanto dirigia pelas ruas. Esse tipo de “predador urbano” é o criminoso mais difícil de capturar. Os ataques são aleatórios, não conhece as vítimas, não tem motivos. Isto torna a investigação extremamente complicada, porque não há pistas fora da cena dos crimes.

Países como Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha desenvolveram sofisticados mecanismos  para identificar um “serial killer”. O FBI criou há muitos anos um departamento de ciências do comportamento só para estudar esses assassinos em série. A principal ferramenta é traçar um perfil psicológico do criminoso, a partir dos métodos empregados, do tipo específico de brutalidade cometida e da “assinatura” deixada pelo predador. Esse nosso assassino tinha como assinatura: a forma de se vestir, a moto e o fato de usar a mesma arma em todos os crimes, um revólver calibre 38.

Retrato falado do criminoso, feito pela polícia.

Retrato falado do criminoso, feito pela polícia.

Os estudiosos desses matadores reúnem várias conclusões importantes a respeito do comportamento deles. São portadores de psicopatia aguda, um desvio mental e psicológico que os impede de ter emoções, piedade ou arrependimento. Algumas vezes, isso está associado a problemas neurológicos, mas não necessariamente. Têm um histórico de abusos na infância e na adolescência. Thiago disse aos investigadores que foi submetido a violência sexual por parte de um vizinho, durante um mês, quando era criança. Relatou “bullyng” na escola, perseguições por parte de colegas. O psicopata criminal (é bom dizer que nem todo psicopata é criminoso), se sente diferente de todo o resto do mundo e das pessoas. Ele não consegue se encontrar em nenhum lugar, a não ser no seu próprio isolamento.

No entanto, ele se considera melhor e acima dos outros. Tem uma sensação de superioridade. Alguns têm delírios religiosos, como se estivessem cumprindo uma missão divina. Isso, de certa forma, explica outro comportamento padrão do “serial killer”: ele quer ser apanhado para assumir seus crimes e ser reconhecido por isso. Deseja fortemente que o mundo saiba quem ele é. Nosso psicopata de Goiânia deu entrevista ao Jornal Nacional e à Globonews. Esta foi a sua realização. Quando perguntaram por que matava, respondeu de forma singela: “não sei, dá uma raiva e eu agrido verbal e fisicamente”. Parecia o “Homem de Gelo”, Richard Kubliski, assassino profissional da Máfia em Nova Iorque, acusado de 236 homicídios e que, na infância, matou todos os gatos e cachorros do bairro onde morava.

Perguntado se era um “serial killer”, Thiago respondeu com ar enfadonho e modesto: “não sei se posso afirmar isso”. Em seus olhos, vi a real afirmação: “é isso mesmo que eu sou!”.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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