Justiça italiana dá o troco no Brasil e rejeita o pedido de extradição de Henrique Pizzolato, condenado no “mensalão”. O ex-diretor do Banco do Brasil pegou 12 anos de prisão, mas fugiu. Foi uma revanche pelo caso Cesare Batisti.

Henrique Pizzolato está solto.

Henrique Pizzolato está solto.

Quase quatro anos após o governo brasileiro se recusar a extraditar Cesare Batisti para a Itália, onde estava condenado a prisão perpétua por terrorismo e homicídio, os italianos deram o troco. Nesta terça-feira (28 out), a justiça daquele país se recusou a mandar de volta ao Brasil o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, condenado no processo do “mensalão”. Pizzolato, que tem dupla cidadania, brasileira e italiana, fugiu da sentença do Superior Tribunal Federal (STF), que o havia condenado a 12 anos e 7 meses de prisão em regime fechado.

A prisão, em Modena, onde Pizzolato estava detido.

A prisão, em Modena, onde Pizzolato estava detido.

Para escapar, o funcionário do BB usou documentos falsos, inclusive um passaporte italiano em nome de um de seus irmãos, já falecido. Por isso foi preso numa pequena cidade próxima de Modena, em fevereiro deste ano. Os italianos não deram a menor bola para o pedido de extradição feito pela Procuradoria Geral da República (PGR). E ontem mandaram soltar Pizzolato, que vai responder em liberdade à acusação de falsificação de documentos, um crime de menores consequências. O pano de fundo da decisão foi, sem dúvida, o caso Batisti, que estava atravessado na garganta do governo italiano.

Militante de extrema esquerda nos anos 1970, integrante de um certo “Proletários Armados pelo Comunismo”, grupo considerado terrorista, Cesare Batisti recebeu, em dezembro de 2010, o status de refugiado político no Brasil. Ao mandar soltar Henrique Pizzolato, a Corte de Apelação de Modena não fez nenhuma referência ao caso anterior. Mas aceitou todos os argumentos da defesa do réu.

No centro, Cesare Batisti.

No centro, Cesare Batisti.

Em primeiro lugar, segundo os advogados, Pizzolato foi julgado pela Suprema Corte brasileira, tribunal para o qual não existe recurso em instância superior. Em segundo lugar, ainda segundo a defesa, deveria ter sido processado pela justiça comum, uma vez que não tinha foro privilegiado, o que lhe teria conferido o status de “criminoso político”. E, finalmente, o argumento definitivo: a defesa de Pizzolato, citando parecer da ONU, alegou que as prisões brasileiras são “masmorras desumanas”, onde os direitos e salvaguardas internacionais não têm qualquer valor.

Pois bem: a justiça italiana carimbou o passaporte de Henrique Pizzolato para a liberdade, aceitando a tese de que no Brasil os presos são submetidos a tratamento desumano e torturas. Estão errados? Seja como for, o governo brasileiro vai apresentar recurso à Suprema Corte italiana, numa tentativa quase inútil de reverter a decisão.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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Uma resposta para Justiça italiana dá o troco no Brasil e rejeita o pedido de extradição de Henrique Pizzolato, condenado no “mensalão”. O ex-diretor do Banco do Brasil pegou 12 anos de prisão, mas fugiu. Foi uma revanche pelo caso Cesare Batisti.

  1. José Antonio Severo disse:

    A Itália pagou ao Brasil o favor de ter poupado aquele país do baita problema que seria a prisão de um ativista político como Cesare Batistti. O Brasil fez uma gentileza ao governo italiano dando asilo ao ex-guerrilheiro. Agora a Itália devolve o favor, mantendo Henrique Pizzolado longe do País. Mandar o ex-petista de volta para uma prisão brasileira seria alimentar esse constrangimento. Que fique por lá na conta da justiça estrangeira. Tudo certo.

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