Depois de perder por pouco a eleição presidencial do ano passado (apenas 3,27%), o PSDB não sabe o que fazer. Os tucanos desafinaram o discurso e a unidade partidária.

Lula e Mário Covas, juntos, em comício.

Lula e Mário Covas, juntos, em comício.

Após perder por muito pouco a eleição para Dilma Rousseff e o PT, no ano passado, o PSDB derrapa em contradições internas. Ao invés de assumir a liderança oposicionista, os tucanos foram atropelados pelo segmento mais conservador no Parlamento, onde despontam lideranças como Renan Calheiros e Eduardo Cunha, ambos do PMDB, partido aliado de Dilma que se rebela em busca da hegemonia cada vez mais provável no cenário político nacional.

Diante de um governo enfraquecido e de um PT sufocado por escândalos, inflação, desemprego e estagnação econômica, os tucanos simplesmente não foram capazes de se apresentar ao país como uma alternativa válida de poder. Mal são ouvidos, apesar da preferência da grande mídia. As manchetes de jornais e telejornais estão nas mãos do PMDB e de setores radicais de direita, muitos dos quais ligados às igrejas evangélicas fundamentalistas. A pauta política nacional deu uma grande guinada à direita, propondo temas cada vêz mais conservadores. E os tucanos se perderam em meio a este cenário. No interior do partido, velhas querelas ameaçam a unidade da agremiação, que perde espaço dia após dia.

O PSDB é filho do velho MDB, o movimento democrático que reuniu toda a oposição legal nos tempos do regime militar (1964-1985). Em torno do MDB também estavam Lula, os sindicatos e a esquerda. A fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), em 1980, foi um divisor de águas: atraiu o movimento socialista, os intelectuais, estudantes e professores, os sindicatos, setores da Igreja Católica. Oito anos mais tarde, em 25 de junho de 1988, funda-se o PSDB, o Partido da Social Democracia Brasileira. Já pelo nome, provoca discussões: o que é a social democracia? É uma tendência de centro, inspirada em partidos políticos europeus, que evitava as radicalizações de direita e de esquerda, também presentes no Brasil.

Aécio Neves, candidato do PSDB cntra Dilma.

Aécio Neves, candidato do PSDB contra Dilma.

No período democrático, após Tancredo, Sarney, Collor e Itamar, as teses “centristas” elegeram presidente Fernando Henrique Cardoso, duas vezes. Mas o PSDB, identificado com as elites nacionais, sócias de capital financeiro internacional, não tinha uma política popular. Perdeu para o PT, que está há mais de 12 anos no poder e que vai chegar a 16 anos em Brasília. O PT tinha uma política popular: desenvolvimento com distribuição de renda. Esta proposta de governo agora está ameaçada pela crise econômica e pela baixa de popularidade de Dilma Rousseff. Mas o PSDB, dividido por caciques regionais, centrados em São Paulo, não sabe o que fazer.

Resultado: o PMDB, que sempre comeu pelas bordas, é candidato a assumir o poder. Provavelmente, já nas eleições regionais de 2016. Uma etapa antes do assalto a Brasília, em 2018. Nem o PT, nem o PSDB, parecem capazes de resolver o dilema.

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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Uma resposta para Depois de perder por pouco a eleição presidencial do ano passado (apenas 3,27%), o PSDB não sabe o que fazer. Os tucanos desafinaram o discurso e a unidade partidária.

  1. Alan Souza disse:

    É como diz o Josias de Souza: “o PSDB é um partido de amigos integralmente composto por inimigos”…

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