CNBB ataca Congresso, Judiciário e ajuste fiscal do governo. A Igreja Católica afirma que há no país uma política contra os pobres e os trabalhadores.

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Uma análise de conjuntura política da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), datada de 30 de junho e distribuída a todos os bispos católico do país, acusa o Congresso de criar uma agenda “hostil aos direitos humanos”. Critica a politização do Judiciário, especialmente em relação à “Operação Lava-Jato”, que investiga desvios de dinheiro público para partidos e políticos. De quebra, ataca o plano de ajuste fiscal do governo, que segundo os bispos penaliza direitos trabalhistas historicamente consagrados.

Com relação ao Congresso, dirigido por “aliados” do Planalto, o documento da Igreja Católica indica uma atuação parlamentar que visa interesses políticos e econômicos. Na opinião dos bispos, o Congresso trabalha para encurralar o governo, com uma agenda “refratária à garantia de direitos”. E mais: os bispos afirmam que há uma “sub-representação” popular na Câmara dos Deputados, em razão de problemas no sistema político brasileiro. Por meio de campanhas políticas milionárias, baseadas em doações de empresas e corrupção, são eleitos representantes do empresariado e de banqueiros, com baixa atuação popular.

Os bispos católicos do Brasil.

Os bispos católicos do Brasil.

A CNBB vai além: descreve um governo refém do Congresso, como se estivéssemos num regime parlamentarista. Para dar o tom exato dessa crítica, afirma o seguinte: “(o governo)… transparecendo aturdido, é na verdade beneficiário e indutor dessa agenda (conservadora)”. Da parte do Planalto, até agora, ninguém rebateu as acusações católicas. Já dizia o ditado popular: “Quem cala, consente”.

Nas críticas ao Judiciário, mas sem referências diretas à “Operação Lava-Jato”, que apura as bandalheiras na Petrobras, os bispos asseguram que há uma crescente politização na justiça. Informam que alguns elementos dos tribunais têm “uma atuação seletiva”, com “abstração dos princípios da imparcialidade”. Pior: “(…) se estabelece um rito sumário de condenação, agravando os direitos fundamentais da pessoa humana, seja ela quem for”. Mas não para por aí: “Não se faz justiça com açodamento ou com uma lentidão que possa significar impunidade”. Questionando as “delações premiadas” (inclusive com dinheiro), dizem os bispos: “Tais práticas, realizadas com os holofotes da grande mídia brasileira, transformam réus confessos em heróis”.

Um crítica severa ao regime político brasileiro.

Um crítica severa ao regime político brasileiro.

O documento da CNBB, com pouca repercussão na mídia, é um dos mais graves questionamentos políticos a respeito do período democrático no Brasil. Sobre a política econômica do Partido dos Trabalhadores (PT), comandada por um banqueiro, santa ironia, os bispos católicos afirmaram o seguinte: “Boa para o capital, ruim para o trabalho”.

Em um país de maioria católica, a opinião dos bispos da “Igreja de Pedro” deveria fazer algum sentido. Ou não? Tudo indica que não vai fazer sentido algum em meio à crise que vivemos. Somos todos surdos?

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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