Bandidos como Al Capone, Ronald Biggs, Fernandinho Beira-Mar, Pablo Escobar ou Marcola são fichinhas perto dos criminosos de colarinho branco investigados pela “Operação Lava-Jato”. Isso é que é – na verdade – o crime organizado. Uma gente bem nascida e riquíssima, frequentadora das altas rodas, associada a especuladores e políticos inescrupulosos, roubando bilhões. Roubando o que? O dinheiro do povo, por meio de fraudes e falcatruas no esquema econômico estatal. Falsificando concorrências públicas, formando cartéis, corrompendo o funcionalismo. São iguais ou piores do que Charles “Luck” Luciano, o chefão da Cosa Nostra, da família Genovese, que em 1930 disse que a Máfia devia adentrar a economia formal e se transformar em uma empresa capitalista.
Em seu último balanço publicado, com atraso de muitos meses, a Petrobras admitiu desvios superiores a 6 bilhões de reais. O Ministério Público Federal (MPF), esse mesmo que políticos tentaram impedir de fazer investigações independentes, revela que o rombo, só na petroleira, é igual a 19 bilhões de reais. Pior: o MPF assegura que o esquema de desvio de dinheiro para políticos e partidos, além de engordar o bolso de alguns aproveitadores, não fica restrito à Petrobras. Atinge todo o setor de geração de energia, incluindo as faraônicas obras de Angra 3 (usina nuclear, em Angra dos Reis) e Belo Monte (energia elétrica, no Pará). A “Lava-Jato” – e que Deus nos proteja – ainda vai demonstrar que não há uma única obra pública no país sem corrupção.
Mais ainda: quando houver a coragem suficiente para investigar o mercado financeiro, os contratos ilegais de empréstimos (tem até agenciadores que oferecem dinheiro para “negativados”, aqueles que não pagam), aí a coisa vai ficar mais complicada. Sem falar dos golpes nas bolsas de valores, o ambiente de troca de capitais. E quando a lei resolver apurar as responsabilidades criminais do “tribunal do crédito”, como a Serasa e o SPC. Estes lançam os devedores numa lista de inadimplentes que não tem recurso ou defesa prévia. E que perdem, além dos direitos legais, toda possibilidade de ajuda financeira: são classificados como “maus pagadores”. E que se dane o resto. Engraçado: não me lembro de ter visto o nome dos Eike Batistas nesse rol de “culpados”. Por que?
A versão online de O Estado de S. Paulo de hoje (25 jul), diário paulista, traz uma reportagem importante sobre os documentos da “Lava-Jato”, descortinando o véu das bandalheiras. Quem se interessa pelo tema, pode ver em:
De toda forma, é com imensa tristeza que escrevo esse post. Trata-se da tragédia do meu país. A reportagem do Estadão, baseada nas últimas denúncias do MPF, revela que os partidos políticos, como o PT, o PMDB e o PP, comandaram o esquema de corrupção. Todos da base de sustentação do governo. Curiosamente, a investigação está restrita aos anos de 2002 e 2014, o período petista. Não há uma única linha sobre anos anteriores. Por que? Não houve corrupção e manobras nos mandatos de FHC? Nem no episódio da reeleição? Difícil de acreditar.
Há no país uma “PT fobia”, sinalizando uma fragorosa derrota nas eleições municipais de 2016. E um quadro ainda mais dramático para o pleito presidencial de 2018. Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), duas vezes presidente, acaba de recusar um diálogo com Lula, também duas vezes presidente da República. “Qualquer conversa não pública pareceria conchavo para salvar o que não deveria ser salvo” – disse FHC à Folha de S. Paulo, na manchete do jornal. Ou seja: não tem conversa com a oposição civilizada. O que resta é o crescimento do setor conservador, o velho PMDB, de Renan Calheiros, Michel Temer e Eduardo Cunha.
A perspectiva política mais imediata mostra o avanço da nova direita, cuja pauta conservadora tem apoio popular. Quanto mais radical, melhor: encarceramento de menores, problemas com a união homo afetiva, o aborto, a pesquisa com células tronco, a pena de morte etc. Na pauta dos radicais estão colocadas três questões básicas: o impeachment da presidente Dilma, a prisão de Lula e a cassação do registro eleitoral do PT. Este é o reino da discórdia. Pode acontecer? Pode!