Documento publicado pelo Estado de S. Paulo confirma: o governo negociou o fim do levante do PCC, em 2006, diretamente com o chefe da facção. Dentro de um presídio de segurança máxima.

ataques do pcc em 2006 01

No Dia das Mães de 2006, no segundo domingo de maio, começou a revolta do Primeiro Comando da Capital (PCC) contra o governo de São Paulo. Nas cadeias e penitenciárias paulistas, familiares dos presos e funcionários foram feitos reféns. O movimento atingiu quase todos os estabelecimentos penais. A revolta ocorreu após a transferência de líderes da facção para instalações de segurança máxima. Naquela noite, bandidos ligados à organização receberam um “salve geral”, que partiu de dentro das cadeias: atacar com força total as bases da Polícia Militar, delegacias policiais e matar o maior número possível de “vermes”. Ou seja: os próprios policiais, agentes penitenciários e funcionários do governo. A ordem do PCC foi imediatamente atendida.

Ônibus queimados. Quase 200 atentados. Dias de violência em São Paulo.

Ônibus queimados. Quase 200 atentados. Dias de violência em São Paulo.

A onda de violência durou vários dias, com quase 200 atentados a bomba e tiros, resultando na morte de um número ainda não determinado de pessoas. A maioria policiais. Há quem diga que foram centenas, inclusive porque as forças de segurança revidaram, eliminando sumariamente dezenas (ou centenas) de suspeitos de ligação com a organização criminosa. Um relatório da Anistia Internacional registrou mais de 400 mortos – um número deveras exagerado. Mas o conflito foi gravíssimo.

Vivi de perto alguns eventos desse enfrentamento do crime organizado com o governo. Alguns dos massacres ocorreram na minha vizinhança, no extremo sul da capital, área de forte atuação do PCC. Só na noite de segunda-feira, após o início das hostilidades, 32 pessoas morreram perto de onde moro. Como trabalhava no SBT, em Osasco, precisei atravessar quase toda a cidade, pelas marginais, para chegar em casa, por volta das dez horas da noite. Foi a primeira – e única vez – que vi uma São Paulo deserta. Nas marginais, as vias expressas mais movimentadas do país, não havia quase ninguém. Lembro de ter cruzado com um ou dois carros. Não havia ônibus circulando, porque os bandidos estavam queimando todos eles. Um cenário desolador. A violência tinha acabado com a máxima de que São Paulo não pode parar. Parou. A trilha sonora do conflito foi a música de Raul Seixas: “O dia em que a Terra parou”.

O crime organizado desafiou o governo paulista.

O crime organizado desafiou o governo paulista.

O governador Geraldo Alckimin, que deixara o governo pouco antes para concorrer à Presidência da República, havia legado o problema carcerário para o vice, Cláudio Lembo. Ele não estava preparado para o tamanho da emergência. Mas, segundo a reportagem de hoje (27 jul) de O Estado de S. Paulo (reproduzida na edição online de três horas da madrugada, que li), assinada pelo jornalista Alexandre Hisayasu, esse mesmo Cláudio Lembo havia recusado uma sugestão de Lula, então presidente, para intervenção do Exército na capital paulista. Preferiu negociar com os bandidos. Houve, inclusive, um bate-boca entre o governador e o âncora do Jornal Nacional, Willian Bonner, ao vivo, na TV Globo. A negociação entre o governo e o PCC está fartamente documentada na reportagem do diário paulista.

“Marcola”, supostamente o líder do PCC.

Em 2010, quando publiquei o meu livro “Crime organizado – O assalto ao poder” (Editora Record, vencedor do prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro), já havia descrito em detalhes a negociação com o PCC. Mas – agora – o repórter revela um depoimento oficial de um dos participantes do encontro com “Marcola” (Marcos Herbas Camacho), no interior da penitenciária de Presidente Bernardes. O delegado José Luís Ramos Cavalcanti, que esteve frente a frente com o chefe do PCC, em depoimento à Justiça (processo criminal no. 1352/06 do Tribunal de Justiça de São Paulo) revela os detalhes da negociação.

Para quem quer conhecer toda essa história escabrosa, conferir o endereço:

http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,estado-fez-acordo-com-pcc-para-cessar-ataques-de-2006–mostra-depoimento,1732413

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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Uma resposta para Documento publicado pelo Estado de S. Paulo confirma: o governo negociou o fim do levante do PCC, em 2006, diretamente com o chefe da facção. Dentro de um presídio de segurança máxima.

  1. RUbim disse:

    Só pelas omissões e mentiras deste evento; a sigla “PSDB” deveria se tornar inelegível. Do Federal ao Estadual, estamos sendo desgovernados.

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