Nos próximos dias, a presidente Dilma Rousseff deve anunciar a reforma ministerial, com a redução de pelo menos dez gabinetes e de seus cargos de confiança, estimados em 2 mil. A iniciativa, porém, não sai de nenhum consenso entre partidos e governantes. É coisa da própria cabeça da presidente. Ela está cuidando pessoalmente desse projeto, pondo em pânico o ambiente político. A principal consequência disso é desagradar a gregos e baianos. Vai apanhar dos opositores e da mídia em geral. Conseguirá a proeza de irritar a maioria, inclusive no PT, como já vem fazendo em matéria de ajuste fiscal.
Recebi um e-mail de um amigo que ocupa cargo de confiança em um ministério técnico do governo petista. Trata-se de uma pessoa de grande sobriedade e discrição. A análise que ele faz do cenário político é cristalina. Mas anuncia o caos. Publico, a seguir, sem revelar o seu nome. Porque seria imediatamente demitido pelo governo. Acompanhe a explicação detalhada do inferno político que vivemos:
“Estão dizendo que na próxima segunda-feira, por volta de meio-dia, começa o desenlace da tal crise brasileira. Aguarda-se que ao final da Reunião de Coordenação, aquele grupo de conselheiros políticos da presidente, Dilma anuncie os seus primeiros passos para a redução do número de ministérios. Espera-se uma confusão generalizada. Não há qualquer estudo. Nem superficial muito menos aprofundado. A reforma sai da cabeça dela, concebida na semana passada.
“Vive-se uma situação muito peculiar, pois nenhum analista político arrisca um prognóstico. E não falo de jornalistas ou cientistas sociais das universidades, que são observadores externos ao cenário. Digo isto me referindo ao pessoal de dentro, às raposas, aqueles velhos políticos e membros de todos os governos. Esses aí também concordam que talvez nem ela própria possa garantir o que vai fazer, pois costuma mudar de ideia a toda hora. Certo mesmo é que se inicia um movimento descontrolado, que ninguém sabe onde vai parar.
“Portanto, vou falar dos quatro cenários que se apresentam como possibilidades, traçados por uns e outros. Há um cenário que ainda acho ser o mais possível até o momento (lembre-se da figura de Magalhães Pinto sobre a política como o formato das nuvens), que é continuidade de Dilma a trancos e barrancos até o final de seu período. Como disse Delfim Neto na entrevista publicada em “O Estado de S. Paulo”, os que a elegeram que se redimam e pensem melhor para votarem certo em 2018. Ou seja: “cada povo tem o governo que merece”. Pois se os brasileiros votaram na Dilma, bem a merecem. Parem de chorar e aguentem o ‘tirão’, pois é assim que funciona a tal da democracia presidencialista. Este cenário é bem movimentado, pois o governo viverá sobressaltado até seu último minuto, quando ela passar a faixa para algum outro.
“Algumas outras possibilidades: Eduardo Cunha admite o pedido de impeachment e o governo (leia-se Lula e o PT) terá de derrubar o processo político no plenário, ou embargar na Justiça. E aí vem outro impeachment e mais outro, pelo menos um por ano. Um inferno. Isto se reflete na economia, porque a confiança vai para o chinelo e os empresários vão reagir demitindo, a população caindo no trabalho informal, uma convulsão social aterrorizando todo o mundo. Lula já disse a Eduardo Cunha que teme esse desdobramento, pois uma consequência incontrolável politicamente será a volta às ruas. Ou seja, o caos. Só a Lei garantirá o governo e, por isto, o Exército, como fiador da Constituição, terá de respaldar as instituições até que o povo se pronuncie novamente, daqui a três anos. Este é o cenário do front político e, no meu entender, o mais provável.
“Dilma sangra. Mas não fiquemos por aí e vamos aos demais cenários:
“Com a aceitação do pedido de investigação sobre as contas da campanha de Dilma, o processo no TSE entraria em tramitação, reabrindo a análise dessas contas. De dezembro para cá mudou tudo, ou seja, aquelas prestações de contas convencionais do passado, verdadeiras contas de chegar, cairiam por terra, pois até as pedras das estradas sabem que as documentações não resistiriam a uma análise minuciosa. Cassada a chapa Dilma/Temer, assume o segundo colocado.
“Entretanto, também a campanha de Aécio não passaria pelo crivo. Também cairia. Com isto, anula-se a eleição por falta de vencedor habilitado, pois é elementar que a coligação PT/PMDB, imediatamente impugne a chapa adversária. Diante da evidência do resultado desse outro julgamento e, ainda, sufocado pelo tumulto de uma vitória no tapetão, o mais provável é que Aécio Neves desista de se defender, renunciando à posse até que o TSE julgue suas contas. Anulada a eleição, assume o presidente da Câmara de Deputados com prazo de 60 dias para realização de novo pleito. Neste caso, os partidos terão de apresentar novas chapas, com as seguintes restrições: Dilma e Aécio serão inelegíveis, pois com a condenação de suas campanhas caem no capítulo de ficha limpa.
“Como a nova lupa da Justiça Eleitoral vai ler as letras miúdas, também qualquer outro candidato estará vulnerável. Por exemplo: Marina não resiste à análise aprofundada das contas de Eduardo Campos. E assim por diante. Talvez só a Luciana Genro passe nesse exame, pois bispos e verdes também teriam de explicar muitas coisas. No passo seguinte os partidos se verão com o problema de encontrar candidatos, pois também os governadores são inelegíveis porque não haverá espaço no tempo para cumprirem as exigências de desincompatibilização. Desse jeito, no cenário atual, sobrariam Lula e Serra. Ou, ainda, Joaquim Barbosa?
Com isto já tem gente dizendo que o mais provável será que o presidente do Congresso (Renan Calheiros) tome à dianteira e convoque uma constituinte (exclusiva, sem poderes legislativos) para reavivar o parlamentarismo e, ainda, limpar a Carta Magna dos entraves da Constituição de 1988 à governabilidade. Um terceiro cenário contempla o emparedamento da presidente, algo parecido com a tutela do PMDB (Ulisses Guimarães) a José Sarney. Até já tem nome: a sarneização de Dilma. Neste caso o PT passaria para segundo plano e o PMDB assumiria o comando do governo. Tal como nos tempos de Sarney: um ministério forte, um líder inconteste e o presidente conformando-se a um papel secundário, com funções cerimoniais.
Neste caso Dilma ficaria com a incumbência de representar o País, comparecer a inaugurações, visitar escolas. O ministério e o partido governariam de fato. Entretanto, como diz a lei, ela sempre terá de assinar. A caneta dela ainda terá seu papel. E aí as coisas engrossam, pois ninguém acredita que Dilma se aguentará, que nem Sarney, uma raposa felpuda, e logo daria um fim à pantomima. Isto também é descartado, embora os líderes estejam trabalhando neste sentido, inclusive Lula e Temer. O quarto cenário contempla a renúncia. As pessoas próximas garantem que ela não tomará essa decisão. Dizem que é a sério quando fala, na sua linguagem muito própria, “não faço a renúncia”, o que, na concepção dramática dos nossos tempos de republiqueta era enunciado como “só morto deixo o Catete”.
“Ninguém concebe um cenário com golpe de estado. Pelo contrário, as forças armadas são a garantia das instituições. Nada poderá ser feito ao arrepio da lei, como se dizia. Vamos ver… A semana promete grandes emoções”.
Essa análise, extremamente lúcida e desprovida de partidarismos, nos mostra até onde a crise pode chagar no período de um ano, mais ou menos. Com as coisas nesse pé, a economia afunda de vez. O mais impressionante é que tem gente querendo essa desgraça para o país. É o pessoal do quanto pior, melhor.