Nelson Henrique Barbosa Filho, 46 anos, é carioca e formado em economia pela UFRJ. Na universidade, sempre se identificou com a corrente desenvolvimentista, liderada pela professora Maria da Conceição Tavares, defensora de uma maior intervenção do Estado na economia. Barbosa foi um dos criadores do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e do programa “Minha Casa, Minha Vida”.
Quando Dilma Rousseff resolveu substituir o ministro Guido Mantega, o nome de Barbosa apareceu numa lista tríplice apresentada pelo ex-presidente Lula. Nela estavam também o presidente do Bradesco, Luís Carlos Trabuco, e o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Trabuco foi o primeiro a ser convidado por Dilma para assumir a Fazenda. Mas o banqueiro não aceitou e indicou Joaquim Levy, vice-presidente do banco. Como Dilma tinha diferenças com Henrique Meirelles, chamou Levy. Desde logo, viu-se diante de críticas das bases petistas.
Joaquim Levy tentou aplicar uma política monetarista clássica, apostando na subida dos juros para deter a inflação. Queria controlar o déficit fiscal a qualquer preço, mesmo à custa de recessão. Não tinha um plano claro de aumento da produção, nada que pudesse estimular a indústria, o comércio e o setor de serviços. Parecia tranquilo em relação à queda do PIB, avaliada em 3% negativos para o ano. Não fez qualquer tentativa de controlar o câmbio, deixando que o mercado cotasse a moeda americana. Não quis optar nem pela “banda cambial” do governo FHC, que estabelecia cotações mínimas e máximas para o dólar e permitia que o câmbio flutuasse a partir de certo controle.

Joaquim Levy, banqueiro, tentou uma política monetarista clássica.
Não podemos esquecer que Levy é um banqueiro, preocupado com a capacidade do Tesouro em pagar juros da dívida pública, que no Brasil é explosiva e afeta os investidores. Tanto que esteve sereno diante da redução da nota de crédito do país por duas agências internacionais: “Isto reflete a realidade”, comentou. Mas não se viu na atuação do ministro nenhum plano recuperador da economia. Quando ele deixou o governo, a bolsa de valores despencou. Por que? Porque a bolsa é formada por investidores, inclusive compradores de títulos da dívida pública. E o dólar disparou, porque é um refúgio seguro para economias sem rumo. Levy não vai fazer muita falta ao país.
Mas qual seria a política econômica a ser adotada pelo combalido governo Dilma, ameaçado de impeachment? Seria um exagero da minha parte, mero jornalista, arriscar um plano de recuperação econômica. Mas, com base em boas fontes, posso adiantar alguns projetos do novo ministro Nelson Barbosa. Ele vai reduzir os juros e aumentar as possibilidades de crédito para forçar uma retomada do mercado consumidor interno, resultando em aumento da produção. Deve relativizar a questão do déficit fiscal, para que haja dinheiro público para grandes investimentos em infraestrutura, medida que aumenta a produção e o emprego. Vai fazer isso no curto prazo, para obter resultados rápidos e dar oxigênio ao governo Dilma. Vai apostar no relacionamento com o Congresso, especialmente no Senado, para obter garantia de aprovação dos projetos.
Contra as pretensões do novo ministro, ergue-se a crise política. Não será fácil recompor a base aliada, mas a própria crise produz algum consenso. A elite econômica, em dúvida quanto ao impeachment, comandado por um político acusado de falcatruas e perseguido pela Justiça, pode aderir a Nelson Barbosa, se ele for capaz de dialogar com o grande capital. E se não for, não vai dar certo. E se não der certo, o governo afunda de vez. Detalhe importante: Nelson Barbosa foi indicado logo após uma série de manifestações de rua contra a política econômica e em defesa de Dilma Rousseff.
Dilma Rousseff repete D. Pedro II: para aprovar um projeto do Partido Liberal (extinção do tráfico negreiro), um primeiro ministro do Partido Conservador, Eusébio de Queiroz Coutinho, autor da Lei Queiroz de 4 de setembro de 1850; para implantar uma reforma neoliberal, um ministro proto-socialista, Nelson Barbosa: ajuste fiscal, combate à inflação, reformas do estado. Como na Inglaterra: reformas conservadoras, gabinete tory; e vice versa.
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Correção: reformas conservadoras, gabinete trabalhista; reformas trabalhistas, ministério tory.
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Caro:
obrigado pelo comentário. Continue participando.
abs
Camorim
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