
Um brasileiro é atacado por criminosos virtuais a cada 15 segundos.
Matamos mais por ano no Brasil do que nas guerras modernas. Quase 60 mil homicídios a cada 12 meses. Em 2014, foram 58,5 mil assassinatos. Mais do que no Iraque e na Síria somados. Também a cada ano, 6 milhões de brasileiros sofrem assaltos a mão armada. Há um estupro ou uma tentativa de estupro a cada 15 minutos. O número de furtos é incalculável, até porque a maioria das pessoas atingidas não procura a polícia. Os brasileiros não confiam na polícia – e nas áreas mais carentes do país, temem mais os policiais do que os bandidos. Apenas 1% dos crimes resulta em condenação. E mesmo assim temos quase 700 mil prisioneiros em celas superlotadas. Entre o populacho em geral, ninguém acredita na Justiça.
Agora descobrimos que há um câncer ainda mais grave: os crimes de Internet. A imensa maioria da população frequenta a rede mundial de computadores, muitas das vezes via celular. Há, no país, mais celulares do que habitantes. E ficamos sabendo que 60% das pessoas que usam a Web já foram vítimas de algum tipo de ataque criminoso. Roubo de identidade, violação de privacidade e fraudes bancárias são os campeões de ataques cibernéticos no Patropi. A Internet virou um território sem lei para os crimes de ódio e intolerância. Só o Grupo Gay da Bahia sofreu 104 mil ameaças no ano passado, segundo reportagem da TV Globo (Profissão Repórter).

O prejuízo pode chegar a 19 bilhões por ano.
Um relatório da Anti-Fraud Command Center (AFCC), entidade internacional dedicada ao estudo e prevenção dos crimes cibernéticos, destacou que o Brasil é o quarto país do mundo a sofrer mais crimes via computador e celular. “Essa é uma posição desconfortável para um país em que as operações financeiras virtuais crescem ano a ano e que busca investimentos estrangeiros” – diz o relatório. Entre 2012 e 2013, o número de ataques digitais cresceu 70%, ocorrendo um a cada 15 segundos, de acordo com a revista Exame. Os observadores internacionais também afirmam que temos no país o maior número de criminosos virtuais.
Ainda segundo a Exame, “o Brasil está no epicentro de uma onda de crimes virtuais. O país ocupa o segundo lugar em fraudes bancárias online, e o problema só está piorando. De acordo com fontes oficiais, o número de ataques cibernéticos no país cresceu 197% em 2014, e fraude bancária online aumentou em 40% este ano”. Há uns dez anos, eu mesmo fui vítima de uma fraude desse tipo. Numa noite de sexta-feira, ladrões levaram 4,5 mil reais de uma conta de poupança que tinha no Bradesco. Por sorte, naquela mesma agência, outras 18 contas tinham sido saqueadas. O banco devolveu o meu dinheiro na segunda-feira, com um pedido do gerente: “Não faça um boletim de ocorrência na polícia, porque isso é péssima propaganda para o banco”.
Pouco tempo depois, a Polícia Federal prendeu a quadrilha de falsários virtuais em Santarém (PA). Os caras usavam um barco, no rio Tapajós, com um modem via satélite de alta velocidade, para saquear os bancos em São Paulo. Uma das contas foi a minha. A Polícia Federal possui um departamento próprio para tratar do tema. O conselho é que as vítimas conservem o maior número possível de provas, tirando prints de páginas, fotografando telas, guardando documentos e juntando testemunhas. O contato para denúncias pode ser feito por e-mail (crime.internet@dpf.gov.br). Além do e-mail, sites inteiros podem ser denunciados, através de formulário disponível em http://denuncia.pf.gov.br/.

Exército contrata hackers para defender as Olimpíadas.
No Brasil, custo do cibercrime para a economia é de um prejuízo entre 16 e 19 bilhões de reais (valores de 2013). De acordo com certas fontes, o equivalente a 16 bilhões foram hackeados do sistema de Boleto Bancário, apenas em 2012. Num país em que 45% das transações bancárias são feitas pela Internet, o crime organizado faz a festa. Transformou a Web em fonte de riqueza e poder. Especialmente porque os ataques digitais são também utilizados para extorsão e espionagem industrial.
Com vistas às Olimpíadas de 2016, no Rio, há um esforço para melhorar a cibersegurança. O Centro de Defesa Cibernética do Exército Brasileiro anunciou a contratação 200 especialistas em cibercultura, técnicos e profissionais militares. É um esforço para proteger sites públicos e privados durante o evento. Alguns desses contratados são hackers conhecidos no mercado. Ninguém melhor do que eles para discutir o assunto de segurança na Web. Ou seja: contratamos o bandido para nos proteger. Parece coisa de cinema.