
O juiz Sérgio Moro divulga nota: queria proteger o ex-presidente Lula.
Preocupado com a repercussão negativa da detenção para interrogatório do ex-presidente Lula, que ontem ficou cerca de quatro horas sob custódia da Polícia Federal, o juiz Sérgio Moro, que comanda as investigações da Lava-Jato, divulgou neste sábado (5 mar) uma nota oficial justificando a medida. O magistrado diz que estava preocupado com a possibilidade de ocorrer violência de rua. E que queria proteger o ex-presidente.
A nota foi entendida em Brasília como uma tentativa de tirar o caráter político da detenção. Observadores do conturbado momento do país disseram à Folha de S. Paulo (edição online de hoje): “o próprio juiz avalia, após o episódio, que errou na mão e tomou uma decisão sem fundamento jurídico e arbitrária”. Diz a nota de Moro:
“Repudia este julgador, sem prejuízo da liberdade de expressão e de manifestação política, atos de violência de qualquer natureza, origem e direcionamento, bem como a incitação à prática de violência, ofensas ou ameaças a quem quer que seja, a investigados, a partidos políticos, a instituições constituídas e a qualquer pessoa”. E o juiz prossegue: “Lamenta-se que as diligências tenham levado a pontuais confrontos em manifestações políticas inflamadas, com agressões a inocentes, exatamente o que se pretendia evitar”.
Não parece possível que um juiz do calibre de Sérgio Moro tenha imaginado que a polícia poderia tirar Lula de casa, levá-lo de carro ao longo de 25 quilômetros e entrar com ele no Aeroporto de Congonhas, por onde transitam dezenas de milhares de pessoas, sem que isso fosse percebido. Aliás, se a preocupação era mesmo a de proteger o ex-presidente, Congonhas não seria o melhor lugar. A sede da PF, no bairro da Lapa, bem mais perto do que o aeroporto, é uma verdadeira fortaleza. Não seria a escolha certa? Seria, a menos que a intenção fosse oposta: dar enorme publicidade ao fato.
Ah, sim: o juiz, na nota oficial, não diz uma palavra referente ao vazamento da operação Aletheia para a imprensa. Nem comenta o fato de que alguns jornalistas foram avisados com antecedência de várias horas, ainda durante a madrugada da sexta-feira. Se o objetivo era o sigilo, não há explicação para isso, a não ser a vaidade de agentes públicos ou a vontade deliberada de criar um fato político. Pior: nas redes sociais corre a versão (não comprovada, é claro) de que Lula foi para Congonhas porque seria colocado em um avião e levado para Curitiba. Salvo chuva e salvo engano, seria um sequestro.
Não acredito nisso. Seria uma estupidez sem tamanho. Provocaria mais violência, que só interessa aos que querem ver o circo pegar fogo. E quase o circo pega fogo mesmo. Nas primeiras horas deste domingo (6 mar), tive a surpresa de ler na coluna de Ricardo Noblat, em O Globo, que o Alto Comando das Forças Armadas determinou prontidão a uma unidade do Exército em São Paulo, por acreditar que os confrontos na capital poderiam sair de controle. O jornalista informa que o governador Geraldo Alckmin foi avisado por telefone, assim como lideranças políticas de vários partidos políticos, menos o PT. Noblat não esclarece se o ministro da Defesa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), soube da prontidão. E o Planalto, soube? Conheço o colunista e sei que jamais publicaria uma informação de tal gravidade se não tivesse uma fonte muito segura. Ou seja: a situação passou de grave a gravíssima.