
CUT, MST e MTST ameaçam criar “movimento de resistência”.
O cenário é ruim, especialmente apimentado pela grave crise econômica. Mas pode piorar. E muito. Até as crianças da escola primária já sabem que sem entendimento político não será possível resolver a inflação, o desemprego, o problema cambial e a retomada da produção. Só que não há sinais de entendimento. Os erros e desmandos sistemáticos do governo e de seu partido são a principal força motriz de quem quer a derrubada do modelo petista, que ocupa o Planalto há 13 anos. Vou repetir: a essência da crise está na triste constatação de que o PT se afastou das suas raízes históricas.
De um lado, o Partido dos Trabalhadores tornou-se uma agremiação neoliberal e monetarista. Abandonou os movimentos sociais que estiveram presentes na sua fundação e na vitoriosa carreira até Brasília. Preocupado com a gestão governamental, virou tecnicista e deixou de lado a política voltada aos interesses dos trabalhadores, afastando-se do movimento social real. Colocou um banqueiro para dirigir a Fazenda. Adentrou o terreno pantanoso das coligações a qualquer preço, negociando com um Congresso cuja maioria é de aproveitadores. Pior: aceitou e supostamente praticou corrupção. Aparelhou a máquina pública, como fizeram historicamente os partidos contra os quais o PT foi criado.

General Villas Boas já disse que o Exército não apoia nenhum golpe.
O legado da chamada Era Lula (pleno emprego, distribuição de renda, mobilidade social, crescimento em torno de 4% médio, acumulação de reservas, distribuição de terra e habitação etc) se perdeu na incapacidade política e na desagregação de princípios. A atual recessão econômica e o desastre político ameaçam reverter todas essas coquistas, inclusive as liberdades duramente conquistas. Dilma, apresentada ao país como uma “gerentona”, mostrou incapacidade de gerenciar o Estado e a coisa pública. Exemplo simples: os canos causados pela má gestão na Petrobras são muito maiores do que aqueles produzidos pela corrupção. Não é o “petrolão” que ameaça destruir a companhia – é a burrice administrativa.
A conclusão desagradável é a seguinte: o PT está caindo por si mesmo. E as oposições (leia-se: principalmente o PSDB) não foram capazes de se apresentar como alternativa viável. Estão distantes do povo e mantém entre si a mesma relação espúria de coligações oportunistas, tanto que se pode juntar o PCB (hoje PPS) com o PFL (hoje o DEM e seus correlatos). E, para complicar, não possuem lideranças confiáveis: Aécio e Serra não escaparão de investigações, apesar dos esforços de certa mídia; FHC está aposentado; entre os jovens opositores não apareceu ninguém digno de monta. Boa parte dos parlamentares com mais de 50 anos está enredada em processos e ações penas, incluindo os presidentes da Câmara e do Senado. Muito bem: derruba-se Dilma e o PT, desejo ardente das classes médias e das elites, mas o que virá depois?

Lewandowski presidente? O STF no poder?
A situação é tão instável, que a Suprema Corte substituiu o Congresso, porque os políticos são incapazes ou não querem atacar os problemas nacionais. Exemplo simples: foi o STF que acabou com o financiamento empresarial de campanhas, o maior foco de corrupção do país. E é o mesmo STF que está abrindo a porta das celas para deputados, senadores, operadores políticos e saqueadores em geral. O processo crescente de judicialização da política revela o fracasso das instituições e dos demais poderes. Sim: aponta-se o impeachment da presidente como a solução de todos os dramas nacionais, como se isso resolvesse a inflação e o desemprego, como se pudesse deter a escalada de violência, motivada pelas desigualdades sociais, que só no ano passado matou 58,5 mil brasileiros e brasileiras. E como permitir que o impeachment seja conduzido pelo deputado Eduardo Cunha? Antes, será preciso cassá-lo – e isso não é nada fácil. A menos que o STF decida a parada, mais uma vez. E ainda tem o rolo com o presidente do Senado, em vias de ser também acusado de crimes, coisa que não aconteceu até o dia de hoje (7 mar).
Em um eventual impedimento de Dilma, seremos governados por Michel Temer e o seu PMDB. Isso na melhor das hipóteses, a não ser que ele também caia com o processo de abuso de poder econômico que tramita no TSE. Então, assume o presidente do STF, a quem caberá convocar novas eleições. Ou seja: o STF toma o poder. É o fracasso da política no Brasil.

O manifestante acredita na solução mais radical.
Mas há quem deseje uma intervenção militar. Possivelmente são pessoas que nasceram depois de 1985. Ou são velhos implicados com o regime militar e a “tigrada” da ditadura. E o que os militares da ativa pensam disso? Apesar de haver uma certa inquietação nos quartéis, e com a notícia de que uma unidade blindada do Exército entrou de prontidão na última sexta-feira, em São Paulo, diante da possibilidade de conflitos de rua, os altos comandos não estão nem um pouco interessados em protagonizar esta crise. É possível que cheguem a intervir em caso de séria perturbação da ordem pública, coisa que está escrita na Constituição. Mas assumir a liderança do processo político é altamente improvável e não corresponde ao desejo da caserna, inclusive porque não tem um projeto estratégico como tinha em 1964.

Protestos contra a mídia.
Os militares estão dedicados à formação de seus quadros, aperfeiçoando as escolas técnicas e de comando. Cuidam do reaparelhamento e modernização das Forças Amadas, com vista a um protagonismo no cenário internacional, além da óbvia defesa do território brasileiro. A 7ª economia do mundo não pode ter um Exército sem munição. Não pode proteger o pré-sal sem uma Marinha bem preparada, já que boa parte das reservas está em águas não territoriais. A FAB não pode continuar voando com aviões dos anos 1950 e 1960.
Isto é o que mobiliza os militares brasileiros. Não um golpe de Estado, uma quartelada destina ao fracasso no curto prazo. E sob as vaias do mundo inteiro.