
O juiz Sérgio Moro, de Curitiba.
A divulgação da lista de propinas e “contribuições” da Construtora Odebrecht a mais de 200 políticos de 22 partidos fez a terra tremer em Brasília. Atinge indistintamente governo, base aliada e oposições. Não escapa ninguém, a não ser FHC, Lula e Dilma, que não aparecem na relação do “propinoduto” da maior empreiteira do país. A relação de nomes e valores, já chamada de “lista maldita” no meio político, vazou para a imprensa na terça-feira passada (22 mar). Sim: vazou. Como tudo de importante que acontece na Lava-Jato. Os leitores reclamam e esclareço: também não vi o nome de Marina Silva, mas o antigo partido dela, o PV, aparece. Lá está também o PSB de Eduardo Campos, com o qual ela concorreu à Presidência.
Curiosamente, ao contrário do que havia ocorrido com os grampos do ex-presidente Lula, o juiz Sérgio Moro decretou sigilo em torno dos nomes e dos partidos envolvidos. Dessa vez não valeu o tal do “interesse público”, citado pelo magistrado ao revelar as conversas telefônicas de Lula. Por que? Qual a diferença? A grande mídia reagiu de forma ambígua. Não se viu a veemência habitual às denúncias que atingem o governo. Uma grande emissora de televisão chegou a dizer que não ia citar os nomes porque eram muitos e não seria justo “pinçar” alguns. Estranha imparcialidade. Os leitores reclamam e esclareço: foi a TV Globo, em seu cada vez mais empobrecido Jornal Nacional.

Manifestantes na porta da TV Globo.
Agora se discute quem vazou a “lista maldita”, onde estão citados os principais próceres da política brasileira. Aécio, Serra, Alckmin, Jaques Wagner, Eduardo Cunha, Renan, Paes, Haddad e centenas de outros, incluindo Michel Temer, o sucessor de Dilma em caso de um cada vez mais provável impeachment. Ou seja: não sobra ninguém. O Ministério Público de Curitiba se apressou em dizer que não estava em curso nenhuma delação premiada dos donos e executivos da Odebrecht. Seria a pá de cal sobre os nossos políticos. Uma coisa é aparecer uma lista cheia de apelidos jocosos (e humilhantes), citando muitos milhões de reais pagos – outra bem diferente é esta relação de “doações de campanha” ser acompanhada por dezenas de depoimentos oficiais.
Mais uma vez a Procuradoria-Geral da República e o STF serão alçados ao papel de fiel da balança desta crise que parece não ter fim. E o futuro político do país, com mais uma dura revelação, fica ainda mais sombrio. Muito bem: derruba-se o governo, mas o que vem depois será igual ou pior do que o que está aí.
Sobre Carlos Amorim
Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão.
Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano.
Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc).
Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes.
Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005).
A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações.
Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada.
Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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