Dilma, Lula e o PT derrotados na Câmara: 367 votos a favor do impeachment e 137 contra. Foi pior do que se esperava. Agora o processo vai para o Senado, onde o governo também deve perder. E o que esperar de Temer?

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Atacado por deputados, Cunha vira “a bola da vez”. Imagens TV Câmara.

 

                                   Após seis horas de votação, a Câmara dos Deputados, lotada, autorizou a abertura de processo para cassar a presidente Dilma Rousseff. Um espetáculo com cenas degradantes e muita pantomima. Teve deputado elogiando torturador, deputado cuspindo em deputado, algumas agressões  e virulentas acusações contra o presidente da casa legislativa, Eduardo Cunha, que foi chamado de gangster e ladrão. Muitos parlamentares, inclusive das oposições, prometeram: “Cunha, você é a bola da vez”. Mas o deputado esteve impassível e sorridente, saboreando a vitória que teria no fim da noite.

                                   Dilma continua presidente pelo menos até o dia 11 de maio, quando o Senado deve votar o prosseguimento ou não do impeachment. E Michel Temer, que já está com a mão na maçaneta do Planalto, monta o governo de transição no Palácio do Jaburu. Enquanto o Senado julga Dilma, e isso pode durar seis meses, teremos uma ex-presidente e um quase presidente. Coisa nunca vista na história política do país. É claro que Temer vai se sentar na cadeira de comandante da Nação. Vai montar ministério com seus aliados. Mas será um governo apenas precário, porque Dilma, apesar de improvável, pode ser absolvida e reassumir o poder. Que estranha possibilidade: pode voltar e mudar tudo de novo. Assim, teríamos três governos diferentes em apenas seis meses. Não pode dar certo.

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Sorridente, Michel Temer acompanha a votação. Foto de divulgação.

                                   E a crise econômica vai continuar, apesar de falsos indicadores, como alta na bolsa e queda no dólar. A inflação pode até recuar um pouquinho, uma vez que supermercados podem corrigir para baixo alguns preços. Pode haver uma aparência de que a coisa melhorou. Apenas uma aparência. Para o Brasil voltar a crescer, são necessárias reformas estruturais na economia – e isso não se faz de uma hora para outra nem em meio a tamanha instabilidade. Na verdade, não se deve esperar muito de um governo Temer: será outro amontoado de partidos, recheado de oportunistas, com alguns ministros notáveis. Fala-se em Serra na saúde; Pérsio Arida na economia; Ayres Brito na justiça; Armínio Fraga no Banco Central. Duvido. Seria um governo tucano demais para o gosto de Michel Temer e do PMDB. E não sei se os tucanos aceitariam uma situação jurídica tão precária.

                                   Nos bastidores de Brasília comentários inquietantes: a votação deste domingo na Câmara seria parte de uma articulação para acabar com a Lava-Jato, uma vez que não é possível que a investigação atinja apenas o PT. Entre os nobres deputados existem 160 respondendo a algum tipo de inquérito. Destes, 54 nas mãos do STF, justamente por causa da Lava-Jato. Há senadores acusados também. Entre os acertos previstos estaria a saída de Eduardo Cunha da presidência da Câmara. Perde o cargo, mas continua deputado com foro privilegiado. Cunha receberia uma punição leve na comissão de ética, por ter mentido sobre contas no exterior. E só!

                                   Vejam vocês, caros leitores, o que pode vir por aí.   

Sobre Carlos Amorim

Carlos Amorim é jornalista profissional há mais de 40 anos. Começou, aos 16, como repórter do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Trabalhou 19 anos nas Organizações Globo, cinco no jornal O Globo (repórter especial e editor-assistente da editoria Grande Rio) e 14 na TV Globo. Esteve no SBT, na Rede Manchete e na TV Record. Foi fundador do Jornal da Manchete; chefe de redação do Globo Repórter; editor-chefe do Jornal da Globo; editor-chefe do Jornal Hoje; editor-chefe (eventual) do Jornal Nacional; diretor-geral do Fantástico; diretor de jornalismo da Globo no Rio e em São Paulo; diretor de eventos especiais da Central Globo de Jornalismo. Foi diretor da Divisão de Programas de Jornalismo da Rede Manchete. Diretor-executivo da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, onde implantou o canal de notícias Bandnews. Criador do Domingo Espetacular da TV Record. Atuou em vários programas de linha de show na Globo, Manchete e SBT. Dirigiu transmissões de carnaval e a edição do Rock In Rio 2 (1991). Escreveu, produziu e dirigiu 56 documentários de televisão. Ganhou o prêmio da crítica do Festival de Cine, Vídeo e Televisão de Roma, em 1984, com um especial sobre Elis Regina. Recebeu o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1994, na categoria Reportagem, com a melhor obra de não-ficção do ano: Comando Vermelho – A história secreta do crime organizado (Record – 1994). É autor de CV_PCC- A irmandade do crime (Record – 2004) e O Assalto ao Poder (Record – 2010). Recebeu o prêmio Simon Bolívar de Jornalismo, em 1997, na categoria Televisão (equipe), com um especial sobre a medicina em Cuba (reportagem de Florestan Fernandes Jr). Recebeu o prêmio Wladimir Herzog, na categoria Televisão (equipe), com uma série de reportagens de Fátima Souza para o Jornal da Band (“O medo na sala de aula”). Como diretor da linha de show do SBT, recebeu o prêmio Comunique-se, em 2006, com o programa Charme (Adriane Galisteu), considerado o melhor talk-show do ano. Em 2007, criou a série “9mm: São Paulo”, produzida pela Moonshot Pictures e pela FOX Latin America, vencedora do prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor série da televisão brasileira em 2008. Em 2008, foi diretor artístico e de programação das emissoras afiliadas do SBT no Paraná e diretor do SBT, em São Paulo, nos anos de 2005/06/07 (Charme, Casos de Família, Ratinho, Documenta Brasil etc). Vencedor do Prêmio Jabuti 2011, da Câmara Brasileira do Livro, com “Assalto ao Poder”. Autor de quatro obras pela Editora Record, foi finalista do certame literário três vezes. Atuou como professor convidado do curso “Negócios em Televisão e Cinema” da Fundação Getúlio Vargas no Rio e em São Paulo (2004 e 2005). A maior parte da carreira do jornalista Carlos Amorim esteve voltada para a TV, mas durante muitos anos, paralelamente, também foi ligado à mídia impressa. Foi repórter especial do Jornal da Tarde, articulista do Jornal do Brasil, colaborador da revista História Viva entre outras publicações. Atualmente, trabalha como autor, roteirista e diretor para projetos de cinema e televisão segmentada. Fonte: resumo curricular publicado pela PUC-RJ em “No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na Internet”, livro organizado por Ernesto Rodrigues em 2006 e atualizado em 2008. As demais atualizações foram feitas pelo autor.
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